Meditação que deu início às atividades do Sínodo desta terça-feira, 15, foi realizada pelo presidente da CNBB e arcebispo de Belo Horizonte
Da redação, com Vatican News
Como ocorre todos os dias os trabalhos sinodais têm início com a oração comum e com uma reflexão proposta por um dos padres sinodais. Nesta terça-feira, 15, a meditação foi proposta pelo arcebispo de Belo Horizonte e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Walmor Oliveira de Azevedo.
Com o título “Chamados filhos de Deus”, Dom Walmor iniciou a sua reflexão com uma pergunta: “Como pode o amor de Deus permanecer nele?”. O arcebispo prosseguiu: “Esta é a interpelante pergunta respondida por São João no terceiro capítulo de sua primeira carta. A resposta a esta pergunta é a questão central na construção da autenticidade no seguimento de Jesus. O discípulo e a discípula são remetidos a uma verificação do tecido que configura o núcleo mais íntimo de seu ser. A referência ao coração, a estação da interioridade, muito além de qualquer possível e arriscado intimismo, é pôr-se em corajoso exercício de análise e levantamentos a respeito da constituição misericordiosa de si mesmo”.
O coração do discípulo, continuou Dom Walmor, é visceralmente constituído dos sentimentos norteadores da competência de ver o outro e a ele não se fechar, mas sobre ele debruçar-se, comovendo-se, para atender-lhes demandas à luz do conhecimento de suas necessidades e carências. Falando da compaixão, afirmou: “É o selo, único e insubstituível selo de autenticidade, cujas raízes de exemplaridade se encontram no modo de ser do Mestre Jesus, aquele que tem compaixão dos seus, ovelhas sem pastor, consciente de sua missão de ungido e enviado para anunciar a boa nova dos pobres, anunciar-lhes o ano da graça, em vez de cinzas, o óleo da alegria”.
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Segundo o arcebispo de Belo Horizonte, ao discípulo é indicado o caminho da resposta à inquietante interrogação: “Como pode o amor de Deus permanecer nele?”. Para Dom Walmor, esta interrogação é o mais significativo incômodo existencial no processo diário de qualificação discipular. “Põe-se em questão uma indispensável envergadura que é projeto divino em nós. O princípio é lembrado: (1J0 3,1) ‘Vede que grande presente de amor o Pai nos deu: sermos chamados filhos de Deus! E nós o somos. Essa é a moldura da interpelação existencial posta pela palavra de Deus agora proclamada’”.
Dom Walmor continuou afirmando que um holofote aceso iluminando a consciência humana e que a interpela à sua condição, filho de Deus. “Somos chamados filhos de Deus. E nós o somos”, sublinhou. Esta condição gratuita e amorosa se impulsiona, de acordo com o arcebispo, pelo princípio do amor cuja lógica há de ser considerada como condição de fomentar o novo em lugar do velho que corrompe: (1 Jo 4,10-11) “10. “Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou e enviou o seu Filho como oferenda de expiação pelos nossos pecados”.
“Esta é a mensagem que ouvistes desde o início: que nos amemos uns dos outros. Só esta é a escolha possível. Não há outra. A outra opção possível é o pecado. Ora, aquele que pratica o pecado é do diabo, porque o diabo é pecador desde o princípio. Para isto é que o Filho de Deus se manifestou: para destruir as obras do diabo. (1 Jo 3,10-13), (…) Nisto se revela quem é filho de Deus e quem é filho do diabo: todo aquele que não pratica a justiça não é de Deus, como também não é de Deus quem não ama o seu irmão. Pois esta é a mensagem que ouvistes desde o início: que nos amemos uns aos outros. Não como Caim, que, sendo do Maligno, matou o seu irmão. E por que o matou? Porque as suas obras eram más, ao passo que as do seu irmão eram justas”, observou Dom Walmor.
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A filiação com Deus clareia o horizonte interpelativo diário e impulsiona homens e mulheres a darem conta do que os compete, exatamente na contramão do possuir riquezas neste mundo e ver o seu irmão passar necessidade, mas diante dele fechar o coração, afirmou o arcebispo. “Somos desafiados a uma finesse relacional de modo que não amemos só com palavras e de boca, mas por ações e na verdade. A verdade de Cristo é sua compaixão, suas entranhas de misericórdia”.
Segundo Dom Walmor, é sempre exigente a tarefa de conseguir estar, diária e existencialmente, dentro do princípio da qualificada filiação divina. O arcebispo completou: “Não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou. Não há outra alternativa senão amar de verdade, correndo sempre o risco de ser dada por descontada, por justificações ou comodidades, por incompetência relacional ou entupimentos humano afetivos, por estreitezas ou por mesquinhez. Nenhuma condição humana, com as circunstâncias que a configuram, está isenta do distanciamento do amor de verdade”.
O arcebispo de Belo Horizonte também recordou o dia em que a Igreja faz memória de Santa Teresa, virgem e doutora da Igreja. “Parece oportuno reportar-nos ao que ela indica como exercício vivencial diário, o que constitui a dinâmica da primeira morada do Castelo Interior/Moradas, uma de suas obras clássicas: Ela descreve a primeira morada com a indicação de duas dinâmicas sempre e permanentemente fundamentais na conquista e manutenção da qualificação da condição de filhos e filhas de Deus, discípulos e discípulas de Jesus, para a competência de amar de verdade: Conhece te a ti mesmo e a Humildade”.
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“Ela lembra que mesmo tendo alcançado, permanente ou momentaneamente, o matrimônio espiritual, intimidade fecunda no amor de Deus, por limitação do humano, escorregamos e caímos no estágio sempre primeiro que requer exercitar a humildade e o conhecimento de si mesmo. Ninguém pode alimentar a pretensão de ter ultrapassado o estágio deste exercício espiritual diário sob pena de ilusão, endurecimento que entope e produz a dureza de coração que prejudica os pobres, faz sombra à razão, faz gostar de títulos, privilégios e dos primeiros lugares, se deixando levar pela disputa ou tomado por indiferenças, incapacitando para o alcance de percepções para gestos concretos de solidariedade, desapego, simplicidade”.
Dom Walmor concluiu: “Santa Madre Teresa nos indica este fecundo caminho, como exercício espiritual e existencial permanente, conhecer-se a si mesmo e a humildade para qualificar nossa cidadania e nos oportunizar, fecundados pela graça de Deus, a conquistar a envergadura de verdadeiros filhos e filhas de Deus, dando tecido bom à nossa cidadania, com força de testemunho transformador e profética atuação no mundo testemunhando o Reino”.