VIAGEM APOSTÓLICA

Setenta bispos do Mediterrâneo chegam a Marselha para encontro

Enquanto Marselha aguarda o Papa Francisco para sua próxima viagem ao Mediterrâneo, bispos se encontram e procuram unir povos em torno da paz

Da redação, com Reuters

Cardeal Cristobal López Romero / Foto: Reprodução Youtube

Setenta Bispos do Mediterrâneo chegaram à cidade de Marselha, no sul da França, para participar dos Encontros do Mediterrâneo, oportunidade em que procuram descobrir caminhos à paz na área que cerca o que os antigos romanos chamavam de Mare Nostrum, ou “Nosso Mar”.

Antes da chegada do Papa Francisco a Marselha, nesta sexta-feira, 22, o cardeal Cristobal López Romero, arcebispo de Rabat, Marrocos, presidiu a missa de abertura para os bispos nesta quinta-feira, 21, na Catedral de Santa Maria Maior, em Marselha.

Na entrevista a seguir, o Dom López Romero concedeu uma entrevista na qual ofereceu seus pensamentos sobre o Encontro no Mediterrâneo, a agenda do Papa em Marselha na conclusão do evento no sábado, 23.

Vatican News — Como Arcebispo de Rabat e Presidente da CERNA, a conferência dos bispos do Norte de África, o que pensa dos Encontros do Mediterrâneo em Marselha?
Dom López Romero — Nós, bispos da CERNA (Conferência Episcopal Regional do Norte de África), entregamos aos nossos fiéis uma carta pastoral há oito anos, intitulada “Servos da Esperança”. Estes Encontros podem ser uma fonte de esperança. Os encontros de Bari, de Florença e agora de Marselha já nos ajudaram a perceber que todos pertencemos ao Mediterrâneo, apesar das nossas diferenças. Isto convida-nos a fazer do Mediterrâneo não uma fronteira de paz, mas uma paz sem fronteiras. O primeiro fruto destes encontros deverá ser, portanto, estabelecer a paz e crescer na unidade.

Vatican News — O que você vai compartilhar com os outros bispos reunidos nestes Encontros? Qual é a sua principal preocupação?
Dom López Romero — Em primeiro lugar, precisamos estar conscientes da nossa unidade. O que nos une é mais importante do que o que nos separa. Isto é lógico, porque todos somos bispos, partilhando a mesma fé, Cristo, que nos impulsiona. A partir desta unidade, devemos contribuir para a paz e a unidade no Mediterrâneo. Existem demasiados teatros de conflito e de tensão nesta região, basta pensar nos Balcãs, na Croácia e na Sérvia, em Marrocos e na Argélia, na Grécia e na Turquia, em Israel e na Palestina, para não mencionar a Síria, o Iraque ou a Ucrânia e a Rússia, que fazem todos parte do Mar Negro e, portanto, parte do Mediterrâneo. Devemos considerar que somos todos irmãos que trabalham para o bem comum, não o bem comum nacionalista, mas o bem comum universal. Por que não procurar uma comunidade mediterrânica? Por que não aumentar a colaboração entre as costas norte e sul e o apoio às costas oriental e do Médio Oriente? Acredito que a paz e a unidade são palavras-chave nas nossas reuniões no Mediterrâneo.

Vatican News — Como o senhor vê a crise migratória que se torna cada vez mais premente? Da Tunísia à Itália, de Marrocos à Espanha, esta é uma questão complexa. O que a Igreja pode fazer?
Dom López Romero — Estamos trabalhando duro nesta questão. Domingo é o Dia Mundial dos Migrantes e Refugiados e o tema deste ano é “Livres para migrar, livres para ficar”. Emigrar é um direito humano, mas antes desse direito de migrar, todos também têm o direito de permanecer onde nasceram e onde desenvolveram a sua vida. A Igreja, em colaboração com os governos e a sociedade civil, ajuda as pessoas a tomar consciência destes direitos e também a lutar para poder exercê-los. Os direitos não caem do céu; temos que reivindicá-los. Eles são o resultado de esforços pessoais e comunitários. Cada país deve ver como lidar com estes fenômenos migratórios, que não são em si problemas. Os problemas são a guerra, a perseguição política e a desigualdade económica. Todos estes factores levam à desordem na migração, que poderá tornar-se um fenómeno permanente na história da humanidade, uma questão ordenada, regular e positiva.

Vatican News — Como o senhor vê a peregrinação mediterrânica do Papa Francisco, desde Lampedusa em 2013, até Marrocos, onde residiu em 2019, até Marselha hoje, visitando um total de 17 países que fazem fronteira com o Mediterrâneo?
Dom López Romero — Este número é significativo e traz uma mensagem. Significa que o Santo Padre reconhece a importância desta bacia mediterrânica e que está comprometido com ela. Vindo a Bari, vindo agora aqui a Marselha, e apoiando todo este processo de Encontros Mediterrânicos. Espero que a sua presença em Marselha desperte muitas consciências.

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