FESTA LITÚRGICA

São João Paulo II, o Papa das famílias e da Juventude

São João Paulo II defendeu energicamente os valores da família e a inviolável dignidade de todo ser humano; também foi “um pai” para a Juventude a partir das Jornadas Mundiais

Mauriceia Silva,
Da Redação

Foto: Paul Hanna – Reuters

Neste sábado, 22, a Igreja celebra a festa litúrgica de São João Paulo II, um Papa que transformou muitas vidas. A “geração João Paulo II” viu um Papa que se dirigiu aos artistas de forma única, que manteve discurso pacificador, mediando a paz em várias situações de conflito, que teve uma preocupação especial com a defesa da vida, com a família e com os jovens.

A antropóloga e psicóloga Maria Célia Reis Silva estuda a vida de São João Paulo II há cerca de 10 anos. Ela afirma que João Paulo II não subestimava o potencial dos jovens,  acreditava sempre que eles eram capazes de mais. “Enquanto muitos falavam mal do jovens, ele os olhava além, o amor os colocava com os olhos no que os jovens poderiam ser!”

A psicóloga conta como a sua devoção ao santo da juventude despertou o desejo pelo estudo sobre a vida dele.  “Na minha adolescência, sentia-me atraída por ele mesmo sem nunca de fato tê-lo conhecido, nem mesmo seus escritos.”

Maria Célia, na época, juntou dinheiro e comprou um pacote para participar da Jornada Mundial da Juventude (de 2005), mas poucos meses antes dela viajar o então Papa faleceu. “Eu fiquei impactada com sua morte, era um tipo de comunhão que eu sentia interiormente. Penso que ele tinha esse dom de, com sua presença, provocar essa comunhão atrativa e contagiante”.

Maria Célia recorda com saudade as inspirações iniciais, nas quais João Paulo II já se mostrava um pastor para a juventude. “Eu nasci em 84, ano esse em que ele tentou organizar um evento no domingo de Ramos para os jovens. Dizem que o Papa teve essa inspiração e logo em 1985 já instituiu essa celebração nas dioceses, e de forma internacional que ficou marcado na história com grande impacto como em 1995 nas Filipinas,  em 2000 no Jubileu em Roma, e até hoje arrebanha jovens. Eu estive em 2005 na Alemanha, momento que nunca vai sair da minha memória”.

A experiência que Maria Célia fez com João Paulo II também foi fortemente marcada pela Teologia do Corpo, um dos maiores legados deixados pelo Pontífice, para os jovens. “João Paulo II foi daqueles que fica difícil colocar em uma régua para medir friamente sem deixar algo para fora, não ousaria enquadrar dessa forma, mas de fato na minha vida ele começou sua influência pela encíclica Fidei Ratio, e pela Teologia do corpo”, recorda Maria Célia.

Paternidade espiritual

Em 1999, João Paulo II escreveu uma carta aos jovens por ocasião da XIV Jornada Mundial da Juventude, e para tal inspirou-se no seguinte versículo: “O Pai ama-vos (João 16,27)”. Essa foi uma das várias ocasiões em que o então Papa, ao revelar a paternidade de Deus, mostrou sua face de pai, de Pastor dos jovens, que também foi percebida por Maria Célia.

“Nossa! Essa face paterna de Wojtyla também é de um esplendor contagiante, ele tem uma peça de teatro sobre essa questão da Paternidade espiritual, e se formos atentos a essa característica, ela está presente em tudo nele,” concluiu.

Preocupação com a família

A família foi, para o pontificado de João Paulo II, uma de suas maiores preocupações. Não é à toa que o Pontífice escreveu muitos documentos para as famílias.

A professora Tatiana Machado Militante de Melo explica que o primeiro e talvez mais emblemático desses documentos é a “Familiaris Consortio” (“A Missão da Família Cristã no Mundo de Hoje”), de 1981, que veio como fruto do Sínodo Pelas Famílias, realizado no ano anterior.

“Ele traz uma análise profunda da família — que permanece ainda muito atual – e institui oficialmente o trabalho orgânico da Pastoral Familiar, abrangendo todas as etapas e situações familiares em três setores de atuação: Pré-Matrimonial, Pós-Matrimonial e Casos Especiais.”

Tatiana também destaca outros documentos de fundamental importância para as famílias, escritos por São João Paulo II. “Nas suas catequeses de toda quarta, na Praça de São Pedro, de 1979 a 1984, a temática foi o plano divino para o amor Humano, ou seja, a ‘Teologia do Corpo’, que teve toda a sua segunda parte dedicada ao matrimônio e à fecundidade. Em 1994, lança a Carta às Famílias que traz um apelo direto para que intensifiquemos nossa oração e ação em prol da santificação das famílias. Isso sem contar a realização dos Encontros Mundiais das Famílias.”

Tais documentos fizeram com que São João Paulo II, além de ser conhecido como o Papa da Juventude, também fosse conhecido como o Papa das famílias. Mas não só isso. Para Tatiana, a história do jovem Karol Wojtyla pode ter influenciado em seu olhar para com as famílias.

“Primeiramente pela sua própria experiência familiar cheia de provações causadas pela perda precoce da mãe e do irmão mais velho, quando Karol Wojtyla ainda era criança, e do pai, na sua juventude, mostrando-nos que a dor pode fazer crescer em nós o amor.”

Tatiana conta que a partir daí, João Paulo II começou a cultivar um profundo amor pelas famílias a partir da sua intensa vivência pastoral e também pelo reconhecimento teológico da família como verdadeiro espelho da comunhão trinitária.

Santificar-se junto

A Exortação Apostólica Familiaris Consortio mostra que, do sacramento do matrimônio, emana a graça e o empenho moral de transformar toda a vida num contínuo “sacrifício espiritual”. Segundo o documento, uma vez que no plano individual o objetivo do cristão é tornar-se santo, pode-se dizer que o objetivo do casal cristão é santificar-se junto.

“Vimos como o matrimônio e a Eucaristia têm entre si uma profunda identificação que se concretiza nos sacrifícios e renúncias do dia-a-dia em prol da santificação e do bem do cônjuge”, afirmou a professora. Ela acrescenta que a vocação matrimonial pode levar à santidade. “Um grande reconhecimento disso é a canonização de homens e mulheres casados. Os próprios pais de São João Paulo II já estão em processo de beatificação.”

O Concílio Vaticano II já havia chamado a família de “Igreja Doméstica”. Na Carta às Famílias, João Paulo II chama as famílias de “Santuário da Vida”, e sobre isso Tatiana explica que a família tem por vocação ser a protetora da vida. 

“Desde a sua concepção, acolhendo com alegria e generosidade os filhos que chegam, até o seu declínio, no cuidado amoroso dos idosos e doentes. Desta forma, ela se torna verdadeira testemunha do valor sagrado da vida humana,” concluiu.

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