Arcebispo Gabriele Caccia, Observador Permanente da Santa Sé junto à ONU, insiste que a dívida ecológica com os países em desenvolvimento deve ser corrigida
Da redação, com Vatican News

Arcebispo Gabriele Caccia / Foto: Reprodução Youtube
O Arcebispo Gabriele Caccia, Observador Permanente da Santa Sé junto às Nações Unidas, discursou na ONU em 13 de outubro, em Nova York, durante o Segundo Debate da Comissão sobre o “Item 18: Desenvolvimento Sustentável”. Em seu discurso, o Observador Permanente apelou à educação, à ação concreta e à transformação de mentalidades para proteger o meio ambiente.
Um renovado e corajoso apelo à ação
“A Santa Sé é uma firme promotora do desenvolvimento humano integral, com uma visão que abrange o pleno desenvolvimento de cada pessoa”, afirmou o Arcebispo Caccia. “Neste momento crítico, marcado por crises sobrepostas de pobreza, mudanças climáticas e conflitos, o compromisso com o desenvolvimento humano integral é mais vital do que nunca.”
Ele lembrou que 2025 marcará o décimo aniversário da encíclica Laudato Si’, do Papa Francisco, um documento que ele descreveu como “profético ao destacar a interconexão entre as pessoas e o planeta”. Ele também fez referência ao Papa Leão XIV, observando como este também expressou preocupação com as mudanças climáticas e a degradação ambiental, reafirmando como seus efeitos dramáticos impactam desproporcionalmente as comunidades pobres e indígenas.
O Núncio Apostólico enfatizou que quando a dignidade humana e a integridade da criação são subordinadas a interesses e ganhos de curto prazo — quando “a natureza é usada como moeda de troca” — isso “distorce o significado do desenvolvimento sustentável”.
Em resposta, o Observador Permanente apelou a “um renovado e corajoso apelo à ação”, que, segundo ele, poderia ser alcançado por meio de três abordagens concretas.
Retificando a dívida ecológica
Em primeiro lugar, o Arcebispo Caccia enfatizou que a “dívida ecológica” com os países em desenvolvimento deve ser retificada.
A Santa Sé, lembrou ele, tem enfatizado consistentemente as dimensões morais e éticas dessa dívida ecológica, que ele definiu como “desequilíbrios comerciais com efeitos sobre o meio ambiente e o uso desproporcional de recursos naturais por certos países durante longos períodos de tempo”.
“As nações e os setores que contribuíram desproporcionalmente para a degradação ambiental e as mudanças climáticas”, afirmou, “têm a responsabilidade de apoiar os mais afetados por suas consequências”.
Ele acrescentou que a retificação dessa dívida ecológica exige que os países desenvolvidos reduzam significativamente seu consumo de energia não renovável e ajudem as nações mais pobres a apoiar o desenvolvimento sustentável. Essa assistência poderia incluir financiamento adequado, alívio da dívida em tempos de crise, compartilhamento de tecnologias apropriadas e capacitação.
Tais medidas, afirmou ele, não apenas ajudariam a pagar a dívida ecológica, mas também apoiariam as nações em desenvolvimento em seu caminho para a sustentabilidade.
Ação concertada para proteger a biodiversidade
Em segundo lugar, o Arcebispo Caccia enfatizou a necessidade de uma ação concertada para proteger a biodiversidade. O religioso chamou a ação ambiciosa para preservar a biodiversidade de “um dever moral de administração” assumido não apenas para as gerações presentes, mas também para as futuras.
“Proteger nossas florestas, oceanos e ecossistemas”, observou, “é essencial, tanto como um sinal de seu valor intrínseco quanto para a sobrevivência das inúmeras comunidades cujo sustento depende deles.”
O arcebispo alertou que a rápida perda de espécies, a destruição de habitats e a poluição são mais do que preocupações ecológicas — elas têm profundas consequências humanas.
Promover a educação para a ecologia integral
Em terceiro lugar, o Observador Permanente apelou a uma maior promoção da educação para a ecologia integral. “Uma mudança duradoura não pode ser alcançada apenas com políticas”, afirmou. Também requer “uma conversão de corações e mentes”, especialmente através de mudanças de estilo de vida promovidas por uma educação que “informe as escolhas, inspire a solidariedade e capacite os jovens a construir uma cultura de sustentabilidade”.
Ele enfatizou que as iniciativas educacionais devem ir além das soluções técnicas e incluir a formação ética para cultivar uma responsabilidade compartilhada pela proteção da criação.
Concluindo, o Arcebispo Caccia afirmou que, “promovendo a educação ecológica, podemos nutrir um novo modo de vida, que respeite tanto a dignidade da pessoa humana quanto a integridade da criação”.