DIREITOS HUMANOS

Santa Sé alerta sobre violação de liberdade religiosa pelo mundo

Arcebispo Balestrero, observador da Santa Sé nas Nações Unidas, lançou alarme sobre as muitas violações dos direitos humanos no mundo durante a 55ª Sessão do Conselho de Direitos Humanos

Dom Ettore Balestrero, observador permanente da Santa Sé nas Nações Unidas / Foto: Reprodução Youtube

Da redação, com Vatican News

Ainda há muitas violações dos direitos humanos no mundo, da liberdade de pensamento, de consciência e de religião, e a discriminação e a perseguição dos crentes continuam aumentando. O alarme vem de dom Ettore Balestrero, observador permanente da Santa Sé nas Nações Unidas e em outras organizações internacionais em Genebra, falando na 55ª Sessão do Conselho de Direitos Humanos em uma declaração feita esta quarta-feira, 28, na sede suíça da ONU.

O núncio apostólico enfatizou que “a liberdade religiosa é violada em quase um terço dos países do mundo” e que cerca de 4,9 bilhões de pessoas são afetadas, de acordo com dados da Fundação de direito pontifício Ajuda à Igreja que Sofre, enquanto em alguns países ocidentais a discriminação e a censura religiosa são perpetradas sob a bandeira da tolerância e da inclusão, e a legislação destinada a combater o incitamento ao ódio é frequentemente instrumentalizada para colocar em discussão o direito à liberdade de pensamento, consciência e religião. A esperança do diplomata é que, no decorrer dos trabalhos do Conselho de Direitos Humanos, as contínuas violações dos direitos humanos fundamentais sejam identificadas e abordadas, as causas fundamentais sejam determinadas e medidas ativas sejam tomadas para acabar com elas.

A dignidade da pessoa humana no centro das decisões

Como escreve o Papa Francisco na Laudate Deum, “o mundo está se tornando tão multipolar e, ao mesmo tempo, tão complexo que é necessário um quadro diferente para uma cooperação eficaz”, lembra o representante da Santa Sé, e é preciso “reagir com mecanismos globais” aos desafios “ambientais, sanitários, culturais e sociais, sobretudo para consolidar o respeito aos direitos humanos mais básicos”, implementando “um novo procedimento para a tomada de decisões e para a legitimação de tais decisões”. Tudo isso colocando no centro a dignidade da pessoa humana, que a Declaração Universal dos Direitos Humanos reconhece como o fundamento da paz, dos direitos humanos, da justiça e da liberdade. Dessa forma, acrescentou dom Balestrero, “as agências dedicadas ao bem comum e às questões técnicas poderiam superar a paralisia atual devido à polarização ideológica e à exploração por parte de Estados singularmente considerados”. Além disso, a defesa de valores radicados na dignidade humana melhoraria a diplomacia multilateral, mas, para atingir esse objetivo, precisamos reconstruir “uma visão compartilhada de nossa natureza intrínseca, que implica obrigações e normas morais que podem ser compreendidas por meio da razão humana e devem ser respeitadas”.

Inteligência artificial e direitos humanos fundamentais

Para o observador permanente da Santa Sé, “a dignidade humana deve se tornar o princípio orientador também no desenvolvimento e no uso da inteligência artificial” e “o progresso nesse campo deve respeitar os direitos humanos fundamentais”, estar a serviço do potencial humano e não competir com ele, “deve promover, e não impedir, as relações pessoais, a fraternidade, o pensamento crítico e a capacidade de discernimento”. Além disso, “o respeito pela dignidade humana exige que rejeitemos toda e qualquer tentativa de reduzir a singularidade da pessoa humana a ser identificada ou reduzida a um algoritmo ou a um conjunto de dados”, continuou dom Balestrero, e, portanto, não se pode “permitir que sistemas sofisticados decidam de forma autônoma o destino dos seres humanos”. Portanto, “o desenvolvimento da inteligência artificial só pode ser considerado um sucesso” se agirmos com responsabilidade e defendermos os valores humanos fundamentais.

O risco da colonização ideológica

O arcebispo Balestrero destacou aos países da ONU que muitos dos problemas atuais “decorrem da falta de respeito pela dignidade humana” e do fato de não reconhecermos que estamos interconectados e, entre outras coisas, as tentativas de introduzir “novos direitos”, nem sempre coerentes com o que é bom para a pessoa humana, “levam a uma ‘colonização ideológica’ que ameaça a dignidade humana, criando divisões entre culturas, sociedades e Estados, em vez de promover a unidade e a paz”. Em vez disso, é preciso crescer “sobre os fundamentos de uma compreensão correta da fraternidade universal e do respeito pela sacralidade de cada vida humana”, de todos, indiscriminadamente, de acordo com o que o Papa disse na ONU em 25 de setembro de 2015. “Os princípios da fraternidade humana e da solidariedade devem estar mais uma vez no centro de nosso trabalho”, observou o arcebispo, que considera a fraternidade universal “uma condição essencial para a plena realização dos direitos humanos no mundo de hoje”.

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