Diante de diversas periferias existenciais, envolvendo refugiados e violências domésticas, os conferencistas pedem enfaticamente que as famílias tenham olhar sensível aos que mais precisam
Ronnaldh Oliveira
da Redação
Diversas questões relacionadas à realidade familiar seguem em foco na programação oficial do Encontro Mundial das Famílias em Roma. Nesta sexta-feira, 24, um dos painéis teve como tema central a vocação e a missão familiar nas periferias existenciais. Adriana Bizzarri e Giustino Trincia, italianos, mediaram os painéis. Casais provenientes da Bélgica, Argentina e Estados Unidos conduziram as conferências que giraram em torno dos imigrantes, migrantes e violência doméstica nas famílias.
Cultivar a cultura da generosidade
François e Isabelle Delooz, oriundos da Bélgica, partilharam os desafios concretos dos imigrantes e refugiados quando chegam em seus novos destinos. Recordaram os quatro verbos propostos pelo Papa Francisco no dia Mundial dos Refugiados em 2019: acolher, proteger, promover e integrar.
“A hospitalidade do Bom Samaritano que acolhe o ferido na beira deve permear o coração e a vida das famílias cristãs, neste tempo difícil que vivemos. A espiritualidade daquele que cuida do necessitado precisa ser maior do que nossos medos de sermos incapazes. Se somarmos dentro das nossas comunidades de fé, podemos certamente acolher esses nossos irmãos refugiados e cuidar deles”, salientou Isabelle.
François recordou os presentes que essas pessoas não são números, mas são irmãos que possuem histórias, possibilidades, dificuldades e sonhos. “São forças dentro da Igreja que com sua fé forte, comunicativa e expressiva, nos ajudam a sermos mais cristãos”.
Recordaram também que, mesmo diante de uma cultura onde nada mais é gratuito, há ainda muitas famílias que cultivam a cultura da generosidade. “Muitas famílias doam do seu tempo, recursos materiais e financeiros, gerando um verdadeiro círculo do bem, transcendendo o próprio mundo para chegar no mundo do outro, naqueles que mais precisam”, aponta Isabelle.
Investir nos vínculos familiares
Contando as experiências a partir das vivências nas comunidades terapêuticas, o casal argentino Maria Paula Casanova e Valério Santoro afirmaram que as famílias deveriam percorrer um caminho de saída de si mesmas em busca constante pela solidariedade. “Precisam crescer entre nós, casais conscientes de seus deveres sociais para com a humanidade”.
Comparando com as realidades terapêuticas que vivem, onde acompanham diversos homens em tratamento, eles assumem que mais importante que as estruturas é de fato o amor e a vontade de recuperá-los que contam nos processos de cura. “Jesus conhece nossas buscas equivocadas de sentido e com sua misericórdia nos reconduz no caminho que é ele mesmo, no projeto de ser para o outro”, define Maria Paula.
Valério acredita que muitos casais não chegam nas periferias existenciais por um mecanismo de defesa, aliado à vergonha, pela impotência, frustrações.
Diante de tal realidade, buscar meios de transcender os medos para chegar no outro torna-se fundamental dentro da lógica cristã, acredita Santoro. “Quando um membro da família é dependente químico, toda família sofre e o papel delas se torna fundamental no processo de superação das drogas.”
A necessidade constante da comunhão familiar
O casal americano Christauria Welland e Michael Akong, ambos especialistas no estudo em violência na família, explicaram que a violência contra as mulheres é um problema global com proporções pandêmicas.
“Infelizmente, as famílias cristãs, em números, não há diferença em relação ao público geral, quando o assunto é violência doméstica”, disse Michael. O casal recordou o que Jesus e a Igreja ensinam diante do casamento: a necessidade de comunhão diante do plano de Deus para a família.
“É preciso falar cada vez mais sobre as violências domésticas sofridas pelas famílias em todo o mundo. Precisamos aprender para melhor acompanhar e combater os casos. Eles contam conosco”, ressalta Akong.
Christauria ainda apontou formas de reconhecer os sinais de possíveis famílias violentadas: “Geralmente nos deparamos com mulheres mais silenciosas, com ferimentos, usando roupas largas. Choram demasiadamente em suas orações. As crianças faltam muito nas escolas. O alcool está sempre presente na maioria das vezes”, disse ainda Christauria.
A igreja tem cada vez mais investido no acompanhamento espiritual e material das vítimas em todo mundo, entendendo também que as crianças são sempre as mais prejudicadas quando presenciam os casos de violência.
Assista o painel na íntegra: