Fiéis contam como fé em Jesus Ressuscitado é alicerce no enfrentamento de tribulações; padre incentiva católicos a buscarem o céu e a vida eterna
Julia Beck
Da redação

Foto: Julia Beck
“Se às vezes esta missão vos aparecer difícil, recordai as palavras do Ressuscitado: ‘Eu estarei sempre convosco, até ao fim do mundo’ (Mt 28,20). Assim, na certeza da sua presença, não temereis qualquer dificuldade nem obstáculo. A sua Palavra vos iluminará; o seu Corpo e o seu Sangue servirão de alimento e amparo no caminho cotidiano para a eternidade” – Papa João Paulo II – Homilia da Vigília Pascal de 10 de abril de 2004.
Nos dias que antecederam a Páscoa do Senhor – celebrada neste domingo, 20, católicos do mundo inteiro revisitaram os textos bíblicos com relatos dos últimos momentos de Jesus antes de sua crucificação, morte e Ressurreição. A Semana Maior, como é também conhecida a Semana Santa, foi de introspecção, mas também de esperança – tema deste Ano Santo e característica forte desta solenidade.
A vitória de Jesus sobre a morte e o pecado é refletida pela administradora e professora, Camila Carvalho Duarte, e pela pedagoga, Rita de Cássia Cabral. Ambas viveram momentos marcantes de dor e tribulação em suas vidas e destacam a Páscoa como um tempo forte de renovação da fé e da entrega ao Senhor.
Experiência com Deus na dor

Camila Duarte com seu livro sobre o enfrentamento do câncer de mama/ Foto: Arquivo Pessoal
“A maior provação que eu já passei na minha vida foi quando eu fui diagnosticada com câncer de mama aos 35 anos de idade. Eu era mãe de duas crianças, o meu filho tinha quatro anos, a minha filha ia fazer um aninho, tinha oito meses”, conta Camila. A professora afirma que o momento de sofrimento foi também o de maior experiência com Deus.
Jesus, recorda Camila, também passou pela cruz. “Ali Ele me garantiu a força necessária. Foi com Ele, por Ele e para Ele que eu consegui superar essa enfermidade. Foi o milagre do cuidado, do carinho e do amor de Deus por mim (…). A vivência dessa fé e o alimentar da esperança a cada dia, mesmo diante de um diagnóstico terrível, foi o que me fez estar aqui hoje”.
Rita relembra a descoberta de um tumor na medula cervical. “Chorei muito, mas depois Jesus veio me acalmando. E eu me entreguei a Deus e deixei que Ele fizesse a sua vontade em minha vida”, relata. A pedagoga frisa que toda a sua família rezou na intenção de sua cura.
Uma cirurgia foi feita diante da possibilidade de Rita ficar tetraplégica. O resultado do procedimento foi considerado um “milagre”, assim como o uso de um aparelho de neuromotorização – que foi conquistado de forma “inexplicável”, segundo a pedagoga, sem nenhum custo adicional. “Até hoje não sei como consegui esse aparelho”
“O médico falou que eu sairia da cirurgia intubada, eu não saí. Disse que eu ficaria, no mínimo, sete dias no Centro de Terapia Intensiva (CTI), fiquei um dia apenas”, lembra. Em uma semana, Rita iniciou seu processo de reabilitação, reaprendendo a andar e conquistar força nos membros inferiores. “Foi outra luta que eu venci, graças a Deus”, testemunha.
Sentido da vida
O Vigário da Paróquia de Santana em Igarapé Miri (PA) e missionário da Comunidade Católica Shalom, padre Marcos Cruz, enfatiza que a ressurreição de Cristo dá esperança aos corações feridos, aos corações entristecidos.
“A esperança na vida eterna faz pensar naquilo que é a razão pela qual nós sofremos e padecemos neste mundo. Quando não temos um sentido, as coisas que estão no nosso redor perdem o sentido e (…) corremos o risco de viver um grande desespero e um sofrimento bastante arraigado”. Ter a visão do céu, da eterna felicidade, dá sentido a tudo aquilo que é vivido de forma terrena, explica o presbítero.

Rita de Cássia Cabral /Foto: Arquivo Pessoal
Camila confirma que viver a fé não garante uma vida perfeita. “É na imperfeição da vida, do dia a dia, das tribulações, que nós como cristãos temos o desafio de viver a nossa fé ainda mais madura, ainda mais enraizada Naquele que deu a vida por nós, que é Jesus”, diz. Rita acrescenta que a fé, a esperança em Deus, é a graça que dá força para passar pelas tempestades da vida. Ter sempre a “confiança de que Deus está no ‘barco’”, sublinha.
Felicidade humana e divina
A diferença entre a felicidade humana e a divina é, segundo padre Marcos, que a felicidade humana é “puramente sensitiva e passageira”. “Se você for ver toda a espécie de felicidade que nós temos, todo prazer que nós temos neste mundo é sempre um prazer passageiro”, complementa.
A felicidade divina é uma felicidade que não passa, prossegue o presbítero. “Ela é para sempre, não tem tempo, pois na eternidade não existe tempo”. O sacerdote explica que, com a fé, já é possível “ir saboreando essa felicidade que vem de Deus”, quando Ele consola em meio às dificuldades, como foi o caso de Camila e Rita. “É receber, já aqui na Terra, aquilo que Deus vai nos dar lá no céu”.
Camila recorda a última pregação do fundador da Comunidade Bethânia, Padre Léo, em dezembro de 2006, que teve como tema: “Buscai as coisas do alto”. “Ele também estava tratando um câncer e disse que tinha dó das pessoas que sofriam sem Deus, não porque Deus as abandonava, mas porque não queriam a companhia. Ali eu entendi, quando eu também passei por essa dor, que sofrer com Deus já é muito difícil, imagina sofrer sem Deus”.

Padre Marcos da Cruz /Foto: Arquivo Pessoal
“Creio que não devemos perder de vista essa recompensa final”, a vida eterna, complementa Rita. “Ao nos abrirmos aos sonhos de Deus, olhamos firmes em direção ao céu, (…) vivendo na certeza de uma presença que não nos abandona, a presença de Cristo em nossa vida”.
Deste modo, diante das tribulações, padre Marcos encoraja os católicos a terem uma visão voltada para o céu, para a eternidade. “Cristo mesmo, no Sermão da Montanha, vai falar sobre isso, vai dar esse ensinamento: ‘Felizes os que sofrem, felizes os que choram, felizes os que passam por tribulação’. Então, existe uma felicidade escondida no sofrimento que nós ainda não vemos. É uma felicidade um pouco velada, que nos encaminha para a eternidade”, frisa.
Renovar a fé
Olhar para esse tempo de Páscoa e renovar a esperança em um tempo novo, lembrando que Deus enviou seu Filho “para nos dar vida”, este é o pedido do sacerdote para a celebração da Ressurreição de Jesus.
Participar da Solenidade de Páscoa com o coração aberto, de acordo com o padre Marcos, é permitir que Deus realize as graças e renove a vida espiritual de uma forma completa.