Com o Dia dos Pais neste domingo, Igreja no Brasil celebra a vocação das famílias; na Amoris Laetitia, Papa se dedicou a várias reflexões sobre a paternidade e a maternidade
Catarina Jatobá
Da Redação
A missão da paternidade e da maternidade foi um dos diversos aspectos a que o Papa Francisco se deteve quando escreveu a exortação Amoris Laetitia. O documento foi feito após o Sínodo sobre as Famílias de 2015, e reuniu contribuições dos padres sinodais, de outros Papas e das próprias catequeses de Francisco sobre a família.
Ao mencionar o papel dos pais, uma das preocupações de Francisco foi o reforço na educação dos filhos, (capítulo 7). Francisco afirma que os pais influenciam o desenvolvimento moral dos filhos para o bem ou para o mal. Como a família tem grande relevância como lugar de apoio, acompanhamento e guia, ele destacou a necessária intervenção sobre as influências externas.
“Precisa de considerar a que realidade quer expor os seus filhos. Para isso não deve deixar de se interrogar sobre quem se ocupa de lhes oferecer diversão e entretenimento, quem entra nas suas casas através da televisão, do computador e do celular, a quem os entrega para que os guie nos seus tempos livres. Só os momentos que passamos com eles, falando com simplicidade e carinho das coisas importantes, e as possibilidades sadias que criamos para ocuparem o seu tempo permitirão evitar uma nociva invasão” (AL, parágrafo 260).
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O Santo Padre alertou que a vigilância sempre faz falta, para a própria segurança dos filhos. “O abandono nunca é sadio. Os pais devem orientar e alertar as crianças e os adolescentes para saberem enfrentar situações onde possa haver risco, por exemplo, de agressões, abuso ou consumo de droga” (AL, parágrafo 260).
Feridas causadas pela ausência
Para que uma criança tenha um bom desenvolvimento afetivo e ético, o Papa aponta para uma experiência fundamental: a criança deve ter a convicção de que os próprios pais são dignos de confiança.
“Isto constitui uma responsabilidade educativa: com o carinho e o testemunho, gerar confiança nos filhos, inspirar-lhes um respeito amoroso. Quando um filho deixa de sentir que é precioso para seus pais, embora imperfeito, ou deixa de notar que nutrem uma sincera preocupação por ele, isto cria feridas profundas que causam muitas dificuldades no seu amadurecimento. Esta ausência, este abandono afetivo provoca um sofrimento mais profundo do que a eventual correção recebida por uma má ação” (AL, parágrafo 263).
Em uma de suas catequeses no ciclo sobre a família, Francisco já apontava sua preocupação com a ausência da figura do pai, nos nossos tempos. “O problema nos nossos dias não parece ser tanto a presença invasiva dos pais, mas ao contrário a sua ausência, o seu afastamento. Por vezes os pais estão tão concentrados em si mesmos e no próprio trabalho ou então nas próprias realizações pessoais, que se esquecem até da família”.
O Papa continuou dizendo que a ausência da figura paterna na vida das crianças e dos jovens causa lacunas e feridas que podem ser muito graves. “Com efeito os desvios das crianças e dos adolescentes em grande parte podem estar relacionados com esta falta, com a carência de exemplos e de guias respeitáveis na sua vida de todos os dias, com a falta de proximidade, com a carência de amor por parte dos pais. É mais profundo de quanto pensamos o sentido de orfandade que vivem tantos jovens”.
Na catequese da semana seguinte, em que destacou às belezas da paternidade, disse que a primeira necessidade do pai é estar presente na família. “Que se encontre próximo da esposa, para compartilhar tudo, alegrias e dores, dificuldades e esperanças. E que esteja perto dos filhos no seu crescimento: quando brincam e quando se aplicam, quando estão descontraídos e quando se sentem angustiados, quando se exprimem e quando permanecem calados, quando ousam e quando têm medo, quando dão um passo errado e quando voltam a encontrar o caminho; pai presente, sempre. Estar presente não significa ser controlador, porque os pais demasiado controladores anulam os filhos e não os deixam crescer”.
Riscos do “autismo tecnológico”
Ao trazer os desafios da paternidade para o contexto atual, o Papa Francisco não deixou de alertar para os riscos do distanciamento causado pelas tecnologias. Francisco não as demonizou, reconhecendo que os meios virtuais podem aproximar membros de uma família que vivem longe, embora não substituam a necessidade do diálogo pessoal e profundo que requer contato físico.
E para quem mora na mesma casa, os riscos destes meios podem interferir o relacionamento entre pais e filhos.
“Sabemos que, às vezes, estes meios afastam em vez de aproximar, como quando, na hora da refeição, cada um está concentrado no seu celular (…) Na família, também isto deve ser motivo de diálogo e de acordos que permitam dar prioridade ao encontro dos seus membros sem cair em proibições insensatas. Em todo o caso, não se podem ignorar os riscos das novas formas de comunicação para as crianças e os adolescentes, chegando às vezes a torná-los apáticos, desligados do mundo real. Este ‘autismo tecnológico’ expõe-nos mais facilmente às manipulações daqueles que procuram entrar na sua intimidade com interesses egoístas” (AL, parágrafo 278).
O pai e a missão de transmitir a fé
Nesta exortação, em diversos trechos, o Papa Francisco delegou aos pais o papel de serem os primeiros educadores da fé. Para isso, disse ser preciso haver um esforço criativo para colaborar com a iniciativa divina desta catequese familiar. E afirmou que a transmissão dos valores sagrados não é algo apenas ensinado, deve partir de uma experiência dos pais.
“A transmissão da fé pressupõe que os pais vivam a experiência real de confiar em Deus, de procurá-Lo de precisar d’Ele, porque só assim ‘cada geração contará à seguinte o louvor das obras [de Deus] e todos proclamarão as [Suas] proezas’ (Sl 145/144, 4) e ‘o pai dará a conhecer aos seus filhos a [Sua] fidelidade’ (Is 38, 19)” (AL, parágrafo 287).