Conversão

Quaresma: "Cristão deve viver este tempo com espiritualidade", diz padre

Tempo da Quaresma começa nesta Quarta-feira de Cinzas

Denise Claro
Da redação

Quaresma

Quaresma é o tempo de preparação para a Páscoa. Foto: Wesley Almeida- CN

Nesta quarta-feira, 17, começa o período da Quaresma. O tempo litúrgico tem início na Quarta-feira de Cinzas e dura 40 dias. Na Quaresma, os cristãos são chamados a viver o jejum, a esmola e a oração. O período de preparação para a Páscoa é um tempo propício para a conversão.

Padre Matheus Pigozzo, da Paróquia Nossa Senhora da Conceição em Boa Esperança, distrito de Rio Bonito (RJ), lembra que a Quaresma vai desde a Quarta-feira de Cinzas ao início do Tríduo Pascal (tarde de Quinta-feira Santa). Ele explica como se deu essa tradição. 

“No início do cristianismo, a Quaresma era o tempo de provação e última preparação para os que iriam ser batizados, ou seja, os catecúmenos. Aqueles que iriam ser batizados se preparavam através de penitências e orações, como uma purificação do espírito mundano, para o batismo que é a adesão e imersão na vida nova – a vida Cristã. A Igreja, posteriormente estendeu para todos os fiéis esse período.”

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Tempo de Conversão

quaresma

Padre Matheus Pigozzo, da Paróquia Nossa Senhora da Conceição de Rio Bonito (RJ)/ Foto: Arquivo Pessoal.

O padre salienta que o cristão, imitando Cristo que entra no deserto, impõe-se uma revisão de vida, penitência e sobriedade. Busca poder dominar os apetites rebeldes e ficar mais desimpedido para ouvir Deus.

“O cristão deve viver esse tempo com espiritualidade, como um modo de imitar o Mestre que reza, que se abstém dos excessos e que manifesta a primazia da vida eterna sobre a vida terrena.”

O Catecismo da Igreja Católica diz que o tempo da Quaresma e as Sextas-feiras em memória da morte do Senhor “são (tempos) particularmente apropriados para os exercícios espirituais, as liturgias penitenciais, as peregrinações em sinal de penitência, as privações voluntárias como o jejum e a esmola, a partilha fraterna.” (Cf.n.1438)

Jejum, Esmola e Oração

Tradicionalmente, a Igreja propõe, na Quaresma, três pontos de orientação: o jejum, a esmola e a oração.

“O jejum é a mortificação corporal, o domínio dos sentidos”, explica o sacerdote. São exemplos: evitar algo que gosta de comer, comer algo que não gosta muito, acordar na hora estabelecida etc.

Já a esmola é a caridade fraterna, que liberta do egoísmo e impulsiona ao amor. Padre Matheus dá como exemplo sorrisos mais constantes, atenção aos que vivem conosco e aos que sofrem (dar essa atenção mesmo que virtualmente. “Juntar uma quantia para doar no fim da Quaresma para uma instituição caritativa. As crianças podem selecionar brinquedos para doar a crianças menos favorecidas economicamente etc.”

A oração leva o cristão a reconhecer a soberania de Deus. O sacerdote deixa, aqui, o alerta para que o fiel não se sinta autossuficiente. “Somos servos de Deus e dependemos d’Ele. O fiel pode eleger uma oração a Cristo crucificado para todos os dias da Quaresma, fazer a Via-sacra toda sexta-feira, visitar o Santíssimo, ir à Missa dias de semana e não só aos domingos, rezar o terço etc.”

Existem, ainda, as penitências estabelecidas pela Igreja na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira Santa. Os fiéis de 18 a 59 anos são chamados ao jejum. Nesse caso, uma refeição completa durante o dia, sendo esta fracionada durante o dia, caso assim prefira o fiel. Já os fiéis de 14 anos em diante são chamados à abstinência de carne.

“Vale recordar que essa abstinência é prescrita para toda sexta-feira do ano (exceto quando cai em solenidade); no entanto, ela pode ser substituída por outra penitência, ato de caridade ou piedade à escolha do fiel.”

Quarta-feira de Cinzas

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O rito tradicional de imposição das cinzas (foto de anos anteriores). O rito foi modificado neste ano em virtude da pandemia/ Foto de Arquivo: Wesley Almeida

Na cerimônia da Quarta-feira de Cinzas, celebrada hoje, o fiel recebe as cinzas em sua cabeça. Segundo padre Matheus, esse rito recorda, de forma pedagógica, a entrada em um tempo penitencial. Todos devem considerar sua pequenez, frisa o sacerdote.  

“A soberba foi o pecado de nossos primeiros pais. O caminho da salvação se dá pela humildade assumida pelo Cristo que, como nos lembra São Paulo, “assumiu a condição de servo” (cf. Fl 2,7).”

O padre explica que, neste ano, por causa da pandemia, a Congregação para o Culto Divino e Disciplina do Sacramentos, determinou umas adaptações em vista da situação sanitária mundial.

“O sacerdote, após abençoar as cinzas, dirá de uma só vez e não diante de cada fiel ‘Convertei-vos e Crede no Evangelho’ ou ‘Lembra-te de que és pó e ao pó hás de voltar’. Após isso, de máscara, deixará cair um pouco de cinza na cabeça de cada fiel.”

Quaresma na Pandemia

O padre ressalta que, especialmente em meio à pandemia de coronavírus, este tempo é ocasião para os que estão verdadeiramente impossibilitados de frequentar presencialmente as celebrações, de fazer constantemente “atos de presença de Deus”.

“São Josemaría gostava de começar suas orações assim: ‘Meu Senhor e meu Deus, creio firmemente que estás aqui, que me vês, que me ouves, adoro-te com profunda reverência…’. Pode ser uma boa fórmula para considerar que Deus é onipresente e nunca se afasta de nós, e que podemos conversar com Ele como um amigo. Fazer comunhões espirituais, unindo-se espiritualmente ao Sacrário mais próximo, pode ser também uma prática devocional intensificada nesta Quaresma.”

Padre Matheus afirma que o fiel que está nessa situação de isolamento, além de assistir pelas mídias às celebrações, pode organizar com seus familiares a oração do terço e da Via-sacra. Outra indicação é a meditação diária dos textos da missa do dia. Buscar fazer isso em um local mais retirado possível e conversar com Deus a partir dos textos selecionados pela Igreja.

Retiros

Retiros individuais também podem ser feitos, aproveitando o material virtual existente, lembra o padre.

“Há muitos meios de mídia, e parece que, nesta pandemia, a providência de Deus agiu de forma abundante, que podem nos ajudar a fazer momentos de retiro. Além da programação televisiva católica, há vários podcasts com meditações. No início da pandemia, visando ajudar os fiéis a fazer uma espécie de retiro para a Páscoa, por exemplo, o padre Francisco Faus criou um canal com várias meditações dirigidas, meditações preciosas, as quais aconselho vivamente.”

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