Celebrado nesta sexta-feira, 28, Santo Irineu viveu no século II e dedicou sua atuação missionária a combater heresias como o gnosticismo
Gabriel Fontana
Da Redação
Nesta sexta-feira, 28, é celebrada a memória de Santo Irineu. Declarado “Doutor da Igreja” pelo Papa Francisco, o bispo que viveu no século II teve um papel fundamental no combate a uma das principais heresias de sua época: o gnosticismo.
Santo Irineu nasceu em Esmirna, na atual Turquia, entre os anos 130 e 140. Ainda jovem, conheceu São Policarpo, que era o bispo da cidade e havia sido discípulo de São João Evangelista. Tal relação colocou Irineu em contato direto com a tradição apostólica da Igreja.
Por volta dos anos 170, transferiu-se para a Gália (atual França), para anunciar o Evangelho. Entre suas contribuições à Igreja, ajudou o Papa Eleutério a solucionar o problema da falta de unidade quanto à data de celebração da Páscoa em relação às Igrejas do Oriente.
Após a morte do bispo de Lyon, Dom Patinus, em 177, tornou-se seu sucessor. Irineu continuou a contribuir com a Igreja que crescia até ser martirizado em 202, durante o massacre de cristãos de Lyon sob o comando do imperador Lúcio Sétimo Severo.
O gnosticismo
Professor Felipe Aquino destaca que, durante sua vida, Santo Irineu dedicou-se ao combate de diversas heresias. Entre elas, salienta duas: o montanismo e o gnosticismo. A primeira pregava o desprezo pelas coisas do mundo e a volta iminente de Cristo, levando pessoas para o campo em penitências pesadíssimas.
Já a segunda expressava uma ideia dualista, ou seja, acreditava que existiriam dois deuses, um bom e outro mau. O deus bom seria criador apenas das coisas espirituais, e o deus mal, criador das coisas materiais.
“Esta é uma heresia que colocava um erro crasso na origem de tudo e que destruía o cristianismo”, afirma o professor, indicando que ela se opõe a um ponto fundamental da doutrina católica: a Encarnação do Verbo.
Desprezo pela redenção
A divergência surgiu a partir do questionamento dos gnósticos quanto à origem do mal no mundo. Diante da visão que tinha das realidades espiritual e material, tal corrente de pensamento perguntava como o Espírito, que é bom, poderia se encarnar na matéria, que é má.
Dessa forma, os gnósticos negavam a Encarnação do Verbo, alegando inclusive que quando Jesus morreu na cruz, o Verbo já não se fazia mais presente nele. “Isso mata na raiz o mistério da redenção”, sublinha Felipe Aquino.
Ele aponta que “o gnosticismo tornou-se uma espécie de racionalismo que desprezava a redenção […] e afirmava que a fé da Igreja não era mais que um símbolo para os simples, que não podem compreender coisas difíceis”. Assim, os gnósticos consideravam o cristianismo uma espécie de “elite intelectual”, valorizando sobretudo um conhecimento que não era completamente revelado.
Perigo das heresias na atualidade
Passando para os dias atuais, diversas heresias, inclusive o gnosticismo, seguem ameaçando a fé cristã. Em sua Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate, publicada em 2018, o Papa Francisco alerta especialmente para o gnosticismo e o pelagianismo (negação à existência do pecado original), referindo-se a ambos como “inimigos sutis da santidade”.
“Ainda hoje, os corações de muitos cristãos, talvez inconscientemente, deixam-se seduzir por estas propostas enganadoras”, escreve o Pontífice, frisando que “o gnosticismo é uma das piores ideologias, pois, ao mesmo tempo que exalta indevidamente o conhecimento ou uma determinada experiência, considera que a sua própria visão da realidade seja a perfeição”, disfarçando-se de “espiritualidade desencarnada”.
Aquino recorda que “a salvação está na verdade” (Catecismo da Igreja Católica, n. 851), fato expresso pelo próprio Jesus ao afirmar aos discípulos que “a verdade vos tornará livres” (Jo 8, 32).
“Toda heresia é uma mentira”, reforça, reconhecendo a dificuldade em combatê-las. Por conta disso, exalta o legado deixado por Santo Irineu, pontuando que o esforço do Doutor da Igreja para expor a mentira gnóstica e outras heresias “foi um trabalho fundamental para a Igreja”.