Terceira meditação da Quaresma para Cúria Romana contou com a presença do Papa Francisco
Da Redação, com Vatican News
“E vós, quem dizeis que eu sou? Jesus Cristo, verdadeiro Deus”. Este foi o tema da terceira meditação da Quaresma do pregador da Casa Pontifícia, Cardeal Raniero Cantalamessa. A reflexão nesta sexta-feira, 12, foi na Sala Paulo VI, no Vaticano, aos membros da Cúria Romana e com a presença do Papa Francisco.
O cardeal recordou o tema e o espírito das meditações quaresmais deste ano. É uma proposta de reagir à tendência de falar da Igreja como se Cristo não existisse, como se fosse possível entender tudo dela prescindindo Dele.
“Propusemo-nos, porém, em reagir a isso de um modo diverso do habitual: não buscando convencer o mundo e seus meios de comunicação de erro, mas renovando e intensificando a nossa fé em Cristo.”. E para falar de Cristo, a via mais segura é a do dogma, apontou o cardeal: Cristo verdadeiro homem, Cristo verdadeiro Deus, Cristo uma só pessoa.
Confira também
.: Conversão é destaque da primeira pregação da Quaresma no Vaticano
.: Em segunda pregação da Quaresma, Cantalamessa aborda humanidade de Jesus
O dogma de Cristo “verdadeiro Deus”
Hoje, o foco da reflexão foi o dogma de Cristo “verdadeiro Deus”. O frei capuchinho explicou que, segundo historiadores, os cristãos já proclamam a divindade de Cristo em 111 ou 112 depois de Cristo. “A fé na divindade de Cristo nasce com o nascer da Igreja”.
O cardeal fez uma breve reconstrução da história do dogma da divindade de Cristo. O dogma foi sancionado solenemente no Concílio de Niceia de 325, com as palavras que os fiéis repetem no Credo. Eis o trecho: “Creio em um só Senhor, Jesus Cristo… Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao Pai”.
“O sentido profundo da definição de Niceia era que, em toda língua e em toda época, Cristo deve ser reconhecido como Deus no sentido mais forte e mais alto que a palavra ‘Deus’ tem em determinada língua e cultura, e não em qualquer outro sentido derivado e secundário”, explicou o cardeal.
Cristo “verdadeiro Deus” nos Evangelhos
Ao longo dos séculos, muito se refletiu e modificou em relação à Nicéia. Segundo o pregador da Casa Pontifícia, hoje se deve deixar de lado que pensa o mundo e buscar despertar em si a fé na divindade de Cristo.
“Uma fé luminosa, não desfocada, ao mesmo tempo objetiva e subjetiva, isto é, não só crida, mas também vivida”. Um norte para isso são justamente os evangelhos. Segundo o cardeal, basta apenas uma linha do Evangelho, lida sem preconceitos, para reconstruir o DNA de Jesus.
Crer com o coração
Cardeal Cantalamessa destacou que a divindade de Cristo é o cume mais alto, é “o Evereste da fé”. Ele define que é muito mais exigente acreditar em um Deus nascido em um estábulo e morto em uma cruz do que acreditar em um Deus distante, “que cada um pode representar ao próprio gosto”.
O pregador apontou ainda a necessidade de recriar as condições para uma retomada da fé na divindade de Cristo. “Não basta repetir o Credo de Niceia; é preciso renovar o impulso de fé que então se teve na divindade de Cristo e do qual não houve igual nos séculos.
Ecumenismo e evangelização
Em sua pregação, o cardeal pontuou ainda as consequências dessas evidências para o ecumenismo cristão. “O verdadeiro ‘ecumenismo espiritual’ não consiste somente em rezar pela unidade dos cristãos, mas em compartilhar a mesma experiência do Espírito Santo”.
A fé na divindade, segundo o cardeal, é importante sobretudo em vista da evangelização. Usando uma comparação, ele explicou que há edifícios que, se tocados em determinados pontos, tudo desmorona. Da mesma forma é o “edifício da fé cristã”: removida a “pedra angular” que é a divindade de Cristo, tudo se desagrega e desmorona.
“Todos creem que Jesus seja homem; o que faz a diversidade entre crentes e não crentes é crer que ele também seja Deus. A fé dos cristãos é a divindade de Cristo!”.
“Conhecer Cristo é reconhecer os seus benefícios”
“Conhecer Cristo é reconhecer os seus benefícios”. Concluindo a meditação, Cardeal Cantalamessa pontuou dois desses benefícios: a necessidade de sentido e de vida.
O cardeal destacou que, quando vão desaparecendo a juventude, a saúde, a fama, muitas pessoas voltam para se interrogar sobre o sentido último da vida. “Fazem-na ainda mais neste tempo de pandemia em que, fechados frequentemente em casa, homens e mulheres finalmente têm tido o tempo de refletir e se interrogar”.
Ele mencionou, neste ponto, uma importante afirmação de Jesus: “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue, não caminha na escuridão” (Jo 8,12). “Quem crê em Cristo, tem a possibilidade de resistir à grande tentação da falta de sentido da vida, que frequentemente leva ao suicídio”.
O cardeal recordou ainda outra fala de Jesus: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que tenha morrido, viverá” (Jo 11,25). E lembrou que, mais tarde, o evangelista João escreve aos cristãos destacando que o Filho de Deus é o verdadeiro Deus e a Vida eterna.
“Justamente porque Cristo é “verdadeiro Deus”, é também “vida eterna” e dá a vida eterna. Isto não nos tira necessariamente o medo da morte, mas dá ao fiel a certeza de que a nossa vida não termina com ela”, concluiu.