Secretário de Relações com os Estados deixa o país nesta sexta-feira, 4; Visita começou em 31 de janeiro
Da redação, com Vatican News
Palavras e gestos de proximidade e solidariedade com o povo do Líbano, que se encontra em uma grande crise econômica e política que parece não ter solução. Assim foram marcados os quatro dias de visita a Beirute de Dom Paul Richard Gallagher, secretário do Vaticano para as Relações com os Estados.
No Líbano de 31 de janeiro a 4 de fevereiro, o arcebispo foi o porta-voz do Papa e da Santa Sé, que – disse – está pronto para participar ativamente e provavelmente até mesmo acolher um diálogo nacional entre as partes libanesas, a fim de curar as feridas e aliviar as tensões.
Isso foi reiterado na quinta-feira, 3, pelo “ministro das Relações Exteriores” do Vaticano aos repórteres libaneses, aos quais ele repetiu o apelo à comunidade internacional, já expresso pelo Papa em seu discurso ao Corpo Diplomático em 10 de janeiro, para não deixar o Líbano afundar, mas para ajudá-lo a fazer um caminho de “ressurreição” através de gestos concretos, não apenas palavras, fortalecendo as relações necessárias para ajudar esta nação estratégica para todo o Oriente Médio.
Diálogo nacional e a visita do Papa
Com isto em mente, Dom Gallagher, em resposta a uma pergunta de um jornalista local, garantiu a vontade do Vaticano de desempenhar um papel no diálogo entre as partes libanesas que pudesse resolver as controvérsias:
“Se isso acontecesse”, afirmou, “a Santa Sé consideraria seriamente participar e talvez até mesmo sediar um diálogo nacional. Porém, para que aconteça deve ser o resultado de um pedido feito por todas as partes envolvidas”.
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Em sua conversa com jornalistas, não faltou referência a uma hipotética viagem do Papa ao Líbano, desejo expresso há algum tempo pelo próprio Francisco, que disse em várias ocasiões que quer manter sua “promessa” de visitar esta terra “símbolo de generosidade”. A viagem acontecerá “quando as condições permitirem”, disse Dom Gallagher.
Oração para as vítimas da explosão no porto
Através da mídia, o arcebispo dirigiu um encorajamento ao povo libanês para continuar sendo um “exemplo” de um Oriente Médio “plural, tolerante e diversificado”.
Ele lembrou aos cristãos seu papel como “o tecido conjuntivo histórico e social do Líbano”, para que não fossem reduzidos a uma minoria a ser protegida, mas que contribuíssem ativamente. “Enfraquecer a comunidade cristã corre o risco de destruir o equilíbrio interno e a própria realidade libanesa”, disse Gallagher.
O prelado não deixou de mencionar as vítimas da terrível explosão no Porto de Beirute em 4 de agosto de 2020, suas famílias, os muitos feridos e os que perderam suas casas e seus empregos, bem como “a esperança de viver”: “Que possam ser consolados pela fé e confortados pela justiça e pela verdade”.
O arcebispo também rezou por eles durante a missa celebrada em 2 de fevereiro com os religiosos na Basílica de Nossa Senhora da Medalha Milagrosa. Depois se encontrou com as famílias das vítimas em duas outras ocasiões para expressar pessoalmente suas condolências.
Encontro com autoridades políticas
Numerosas encontros e compromissos marcaram a viagem do representante do Vaticano, que concluiu formalmente sua viagem nesta quinta-feira, 3, com uma visita privada e missa no túmulo de São Charbel, no Convento de São Maron, em Annaya.
No dia 1° de fevereiro o arcebispo encontrou-se com o Presidente Michel Aoun no Palácio Baabda, a quem reiterou a preocupação do Papa em preservar a identidade do Líbano como “projeto de paz” e em impedir o uso do Líbano para interesses estrangeiros.
No mesmo dia, o prelado se reuniu com o presidente do Parlamento, Nabih Berry, no Palácio Aïn et Tîné, e com o comandante do exército, general Joseph Aoun, no quartel-general do Yarzé, na periferia de Beirute. Enquanto que pela manhã, foi realizado um encontro com o Primeiro Ministro Najīb Mīqātī e o Ministro das Relações Exteriores, Abdallah Bou Habib.
A convivência entre cristãos e muçulmanos
Em 2 de fevereiro, Dom Richard Gallagher abriu o simpósio “Papa João Paulo II e a mensagem libanesa” na Universidade do Espírito Santo em Kaslik, um evento inteiramente dedicado à ligação entre o Papa polonês e o país.
Wojtyla acompanhou a história e os dramas do Líbano “associando-se ao seu sofrimento através da oração e da ação”, lembrou Gallagher. No dia anterior, 1º de fevereiro, ele já havia lembrado a preocupação de João Paulo II pelo Líbano, bem como a dos Papas mais recentes, em um longo discurso perante a equipe acadêmica e os membros do Conselho Estratégico da Universidade de São José.
O prelado recordou os 75 anos desde do restabelecimento das relações diplomáticas entre o Líbano e a Santa Sé e a grande atenção dada a esta região “onde os cristãos sempre viveram e desempenharam um papel fundamental na cultura e na tradição”, lado a lado com os muçulmanos com os quais desenvolveram “uma relação única ao longo dos séculos”. É precisamente este aspecto “precioso” da história cultural do Líbano que não pode ser perdido, disse Gallagher, já que constitui “a base do bem-estar nacional deste país”.
Passar a cultura aos jovens contra o extremismo
País que também é pioneiro em jornalismo, literatura, arte, música e história. É fundamental transmitir este conhecimento às novas gerações “a fim de promover a justiça e a paz”:
“Uma sociedade sem cultura mergulha facilmente na animosidade, na adversidade e no extremismo”. “Devemos começar a integrar no nosso comportamento diário a perspectiva de um mundo mais fraterno e justo”. Em termos concretos, isto significa “implementar as reformas econômicas necessárias e promover sistemas justos de governança”; um caminho que não é fácil, mas necessário em um momento em que “emerge cada vez mais protagonistas extremistas quase estatais, aproveitando o desconcerto e o descontentamento dos jovens e de muitos outros”.
“Se fossem promovidas uma cultura e uma política de encontro, juntamente com um diálogo belo e mais fraterno entre as grandes religiões presentes (judaísmo, cristianismo e islamismo)”, disse Gallagher, “esta região poderia finalmente tornar-se coesa e unida, representando um importante ponto de encontro no sistema econômico e político internacional”.
Com os bispos maronitas
Palavras que o arcebispo repetiu na assembleia mensal dos bispos maronitas, presidida pelo Patriarca Bechara Boutros Räi, onde Dom Gallagher participou como convidado especial.
Os bispos soaram o alarme sobre um Líbano que corre o risco de se tornar uma plataforma utilizada pelas potências regionais e globais para conduzir suas guerras por procuração (proxy wars).
Uma denúncia concreta escrita no comunicado final do encontro, no qual os bispos indicaram que a visita do alto representante do Vaticano manifestou em nível internacional a preocupação do Papa com o presente e o futuro do Líbano.
Jovens e migrantes
Após encontro com os bispos maronitas, na qual Dom Gallagher se deteve em conversa privada com o Patriarca Räi, à tarde o arcebispo visitou o centro de acolhida de migrantes da Cáritas na Shelter School e o centro juvenil Carlo Acutis dos lazaristas.
O programa também incluiu um encontro com os patriarcas ortodoxos e bispos católicos, e depois uma grande reunião com os líderes religiosos libaneses que vieram ao Vaticano em 1° de julho para se unir à oração comum solicitada pelo Papa Francisco. Depois foram almoçar juntos.
Reunião com autoridades muçulmanas
Na manhã de quinta-feira, 3, Dom Gallagher encontrou as autoridades muçulmanas: o Grão Mufti da República Libanesa, Abd al-Latif Derian, em Dar el-Fatwa; o Xeque Abd al-Amir Qabalan, chefe do Conselho Supremo Xiita; o Xeque Druso Akl Naim Hassan. Nos colóquios, o tema da importância do papel e da coexistência de muçulmanos e cristãos para o futuro do país.