Cardeal participou de coletiva de imprensa junto ao Patriarca Ortodoxo de Jerusalém, Teófilo III, sobre a visita pastoral realizada a Gaza nos últimos dias
Da Redação, com Vatican News

Cardeal Pizzaballa e Patriarca Teófilo III em coletiva de imprensa nesta terça-feira, 22 / Foto: Reprodução Patriarcado Latino de Jerusalém
Os Patriarcas Latino e Ortodoxo de Jerusalém, Cardeal Pierbattista Pizzaballa e Teófilo III, participaram de uma coletiva de imprensa nesta terça-feira, 22, sobre a sua visita a Gaza. A entrevista aconteceu no auditório Notre Dame, em Jerusalém.
Os dois líderes realizaram uma visita pastoral à comunidade cristã da região após o ataque que a atingiu na quinta-feira, 17, deixando três mortos e dez feridos. Após retornarem a Jerusalém, se reuniram com a imprensa para falar sobre a viagem. Mais de cem jornalistas e emissoras de todo o mundo participaram do encontro.
A coletiva teve início com um breve vídeo que mostrou a situação de destruição e devastação que agora atinge todo o território, seguido pelas introduções dos dois patriarcas. “Gaza é uma terra ferida por uma aflição prolongada e perfurada pelo choro do seu povo”, começou Teófilo. “Entramos como servos do corpo sofredor de Cristo”, prosseguiu” caminhando entre os feridos, os desalojados, as pessoas em luto e os fiéis que mantêm sua dignidade apesar de estarem em agonia”.
O Patriarca Ortodoxo dirigiu uma advertência à comunidade internacional, para que levante a voz. “O silêncio diante dos que sofrem é uma traição à própria consciência”, expressou, “e aos poderosos recordamos as palavras do Senhor: ‘bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus’”. Dirigindo-se diretamente às crianças de Gaza, disse: “saibam: a Igreja permanece ao lado de vocês”.
Ajuda é questão de vida ou morte
O Cardeal Pizzaballa, por sua vez, partilhou sobre alguns momentos da visita. “Caminhamos entre a poeira dos escombros, por toda parte, nos pátios, nas ruas e também nos becos. E nas praias vimos milhares de tendas que se tornaram o lar daqueles que perderam tudo. Famílias que perderam a conta dos dias de exílio de suas residências e que não veem um horizonte de retorno. Crianças que falam e brincam sem pestanejar, porque já se acostumaram ao barulho das bombas”, relatou.
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Entretanto, o Patriarca Latino ressaltou que lá encontraram algo mais profundo: a dignidade do espírito humano que se recusa a se extinguir. “Mães que preparam comida, enfermeiros que cuidam dos feridos com carinho e pessoas de todas as religiões que ainda rezam a Deus, que vê e não esquece”, citou o cardeal. “Cristo não está ausente de Gaza”, complementou, “Ele está lá crucificado, entre os feridos, sepultado sob os escombros e presente em cada ato de misericórdia, uma vela na escuridão, cada mão estendida para o sofredor”.
Pizzaballa frisou que a missão em Gaza não foi apenas para um grupo específico, mas para todos. “Nossos hospitais, escolas, abrigos e igrejas são para todos: cristãos, muçulmanos, crentes e não crentes, refugiados e crianças”, assegurou. Ele também declarou que a ajuda à população não é apenas necessária, mas “uma questão de vida ou morte”.
“A fome é uma humilhação moralmente inaceitável e injustificável”, salientou o Patriarca Latino, reiterando ainda o compromisso “por uma paz justa, que não apaga as feridas, mas as transforma em sabedoria, e pela busca de uma dignidade incondicional e de um amor que transcende todas as fronteiras”.
“Terra sem lei”
Em seguida, os dois patriarcas responderam a algumas perguntas dos jornalistas presentes. “Hoje Gaza é uma terra sem lei”, denunciou Pizzaballa, dirigindo-se àqueles que lhe perguntaram mais especificamente sobre a situação que pôde observar nos três dias passados na paróquia da Sagrada Família.
O cardeal também deu esclarecimentos sobre as 500 toneladas de ajuda anunciadas para entrar na Faixa. “Já existe um acordo, fomos autorizados. Mas agora estamos preparando a logística que, como vocês podem imaginar, não é simples. Esperamos poder iniciar a expedição em breve”, indicou.