Pentecostes marca início da ação evangelizadora dos apóstolos, que após receberem o poder do Espírito Santo encheram-se de coragem para anunciar o Evangelho
Kelen Galvan,
Da redação
A Solenidade de Pentecostes é uma das celebrações mais importantes para a Igreja Católica, pois marca o início da sua ação evangelizadora. Neste dia, comemora-se a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos e Maria, reunidos no Cénaculo, 50 dias após a Páscoa.
Foi este acontecimento que deu aos apóstolos a coragem e a alegria plena para anunciar o Evangelho e a Salvação de Cristo a todos os povos, mediante o poder do Espírito Santo.
Para aprofundar esta temática, o noticias.cancaonova.com entrevistou o padre Ricardo Rezende, da Comunidade Canção Nova, autor do livro “O Segundo Pentecostes: a promessa é para vós e para os vossos filhos”.
Leia a entrevista completa a seguir:
Notícias.cancaonova.com — Qual o significado da celebração de Pentecostes, a partir do que é narrado na Bíblia em Atos dos Apóstolos (At 2, 1-4)?
Padre Ricardo — Pentecostes vem do grego pentēkostḗ, que significa “quinquagésimo”. A origem da festa é baseada em uma antiga tradição hebraica, dos judeus, chamada Shavuoth (que significa semanas). Era uma celebração de agradecimento às colheitas, quando eles davam as primícias para o Senhor. Acontecia 50 dias após a Páscoa e os judeus faziam para agradecer.
Como narra na Bíblia, era festa de Pentecostes dos judeus, mas Jesus vindo restabelecer o “novo Israel”, deu um novo sentido para esta data. Nos Atos dos Apóstolos 2, confirma a realidade da presença do poder e da comunhão de Deus com seu povo. Ali Ele restabelece e envia o Espirito Santo, unge, dá dons, efusos e infusos, dons carismáticos para que eles possam se santificar. E também para o “Ide”: “Ide por todo mundo e pregai o Evangelho” (Mc 16,15). Ali nós podemos dizer que há a formação da Igreja. A Igreja nasce em Pentecostes. Com o restabelecimento desta aliança, deste novo Israel, desta comunhão plena com Deus. O Senhor promete estar junto daqueles que creem. E isso acontece através do Espírito Santo.
Notícias.cancaonova.com — Como o Espírito Santo age na Igreja?
Padre Ricardo — O Espírito Santo veio como um marco. Após a ascensão de Jesus aos céus, Ele envia seu próprio Espírito — o Espírito de Deus —, ali em Pentecostes. E a missão, a ação do Espírito é consolar os homens, dar a esperança, então Ele derrama os seus dons sobre o homem. E Ele age, principalmente pelos sacramentos. No sacramento do Batismo, principalmente, nos da iniciação cristã (Batismo, Crisma e Eucaristia), mas também em todos os sacramentos, porque é o Espírito que sustenta e mantém o homem e, por consequência a Igreja, e por consequência o mundo. É Ele o sopro da vida. É Ele que dá vida a todas as coisas. É pela comunhão com Ele, com o Espírito Santo, que tornamo-nos espirituais, assim diz o Catecismo da Igreja Católica (parágrafo 15). O Espírito Santo nos torna espirituais e nos coloca em direção ao paraíso. Nos reconduz ao Reino dos Céus. Nos dá o sentimento de filiação ao Pai. É gerado em nós confiança ao Pai, que é Deus, na participação da graça de Cristo e da sua missão salvadora. Somos encorajados, nos tornamos filhos da luz. E fazemos parte da eterna glória. O Espírito Santo é aquele que nos mantém, nos dá vida, nos sustenta neste mundo para a vida eterna. Ele nos prepara para a vida futura. Essa é a missão do Espírito Santo no meio de nós. E claramente, num sinal visível da graça invisível, e essa graça invisível é o poder do Espírito Santo em ação são os sacramentos. Porque são os atos de Cristo. Quem administra os sacramentos é o próprio Cristo, e é na força do Espírito Santo.
Notícias.cancaonova.com — Como foi desenvolvida a Doutrina sobre o Espírito Santo e qual seu papel na Santíssima Trindade?
Padre Ricardo — O Espírito Santo foi um grande desconhecido. Não há possibilidade de controlá-lo. Há muitos nomes para identificá-lo. Esta doutrina foi sendo formada ao longo do tempo. Os discípulos e apóstolos tomaram consciência plena do Espírito Santo em Pentecostes. Ali é a revelação do Espírito. O Antigo Testamento é revelação do Pai. Depois, no Novo Testamento, é autocomunicação de Deus no Filho e a Sua redenção. Em Cristo somos salvo. E, em Pentecostes, é a autorrevelação do Espírito que gera a Igreja. A Igreja é do coração de Deus. Ela é, na realidade, transcedental. Por isso dizemos: a Igreja Celeste, a Igreja Militante (que somos nós) e a Igreja Padecente (que são aqueles que estão no Purgatório). Então, até meados de 500 anos d.C., é formado ao lado da Cristologia, forma-se a doutrina do Espírito. São três pessoas em um único Deus, que tem personalidade. E cada um tem a sua missão na economia da salvação. O Espírito Santo tem como objetivo em meio a nós de nos santificar, de nos manter santificados para nos levar à Glória de Deus, ao Paraíso. Na Doutrina, o Espírito Santo não deixou de agir no meio de nós com seus dons carismáticos. Ele rege o mundo, mantém e o sustenta. É no sopro de Deus, no sopro da vida, que dá este impulso a nós. Foi desenvolvido ao longo dos anos, não foi em um dia. Assim como não foi em um dia que os apóstolos tiveram o desvelamento e a confirmação de que Cristo era Deus. E a cada dia vamos tomando mais consciência da pessoa do Espírito Santo, que procede do Pai e do Filho.
Notícias.cancaonova.com — Dentro da missão da Canção Nova, essa celebração de Pentecostes tem grande significado. Como é essa presença do Espírito Santo dentro da missão da Canção Nova?
Padre Ricardo — Assim como é o nascimento da Igreja, é também o nascimento da Canção Nova. É Ele que a mantém e a sustenta. Tudo na Canção Nova foi por obra do Espírito Santo. Pela sua ação, por meio do batismo no Espírito Santo. Por trás de grandes homens vem o Espírito Santo. Padre Jonas, por meio de seu batismo no Espírito Santo, viveu esta experiência. De ser tomado e renovar a sua fé. Entregar-se inteiramente neste sentimento filial ao Pai. E a Canção Nova vem desta experiência e também de outros homens e mulheres, que são batizados pelo Espírito Santo e nascem para uma nova vida. Uma vida em busca da santidade. E isso acontece em Pentescostes. Sendo assim, podemos dizer que a Canção Nova vive um segundo aniversário em Pentecostes — seria como celebrar a grande graça da intervenção divina com sua misericórdia e nos fazendo homens novos para um mundo novo. Não existe Canção Nova sem o Espírito Santo.
Notícias.cancaonova.com — O que significa o “batismo no Espírito Santo”?
Padre Ricardo — O Batismo no Espírito Santo é uma novidade após o segundo Pentecostes, que denominamos e marcamos na história de salvação do mundo para esta geração. Os Papas, desde Leão XIII, têm pedido um grande Pentecostes sobre a face da Terra, sobre a Igreja. E veio com a novidade do Concílio Vaticano II, que abre-se para novos dons, novas graças e expressões que o Espírito sopra, intui e realiza no mundo. E o maior desses efeitos foi o Batismo no Espírito Santo, que nada mais é que a reativação interior das graças, os dons e os frutos adormecidos no coração do homem que foram recebidos no batismo. Porque no batismo recebemos o dom de Deus que há em nós. E no Crisma, confirmamos e recebemos de forma mais completa estes dons. Mas, muitas vezes não o praticamos e a fé entra pelos ouvidos e não deixamos Deus agir em nós. Mas, no Batismo do Espírito Santo há essa reativação, este despertar. O Batismo no Espírito Santo desperta no homem esta consciência de filiação ao Pai, ao Filho e ao Espírito. Esta é graça, o despertar dentro do homem que já está batizado. Do homem crismado. E esta é a novidade deste segundo Pentecostes. Que Deus nos deu, para esta geração, ‘a promessa para vós e vossos filhos’, esta promessa é o Espírito Santo. Porque estamos diante de uma geração perversa. Diante de uma geração incrédula.
Notícias.cancaonova.com — Como fazer essa contínua experiência com o Espírito Santo? Qual a importância de invocá-lo no dia a dia?
Padre Ricardo — É uma importância de essência. Como um copo d’água, você tem que enchê-lo sempre para saciar a sede. E como o Espírito Santo age? Quando damos acesso do nosso coração a ele. Ele não entra em nós se não permitirmos. Onde há luz não há trevas. Eu, particularmente, digo todos os dias quando acordo: ‘Espírito Santo, governa minha vida’. Porque se eu governar, estrago tudo. Humanamente, se eu não for guiado pelo Espírito Santo durante o meu dia, o que acontece comigo? Acabo agindo mal com as pessoas, sendo incrédulo, não amando, não cuidando, blasfemando, maldizendo as pessoas, querendo ganhar sempre. O Espírito Santo, como santificador das nossas almas, hóspede de nossas almas, vem equilibrar nossa vida. Essa é a importância de invocá-lo todos os dias, para que não percamos a graça santificadora, para não perdermos o entusiasmo evangelizador.