Discurso

Papa: o abuso sexual destruiu nosso mundo, não apenas a Igreja

Francisco discursou à Pontifícia Comissão para a Tutela de Menores, que está reunida em assembleia desde quarta-feira, 3

Da Redação, com Boletim da Santa Sé

Foto: Vatican Media­ via Reuters

Na manhã desta sexta-feira, 5, o Papa Francisco recebeu em audiência, no Vaticano, os membros da Pontifícia Comissão para a Tutela de Menores. O grupo está reunido desde a última quarta-feira, 3, em assembleia que realiza balanço das atividades dos últimos seis meses e avalia e planeja novas diretrizes e ações.

Em discurso, o Santo Padre saudou todos, especialmente os novos membros, e contou brevemente a história do órgão. Com sua criação recomendada pelo Conselho de Cardeais há 10 anos, “as sementes plantadas estão crescendo”, disse o Papa.

Desafios

Francisco afirmou que o abuso de menores por parte do clero e a má gestão dos líderes da Igreja têm sido um dos principais desafios enfrentados nos últimos anos. Diante de tantos problemas existentes no mundo, como a guerra e a fome, “a falha em agir adequadamente para deter esse mal e em socorrer suas vítimas prejudicou nosso próprio testemunho do amor de Deus”, declarou o Pontífice.

Neste contexto, o Papa alertou especialmente para a omissão, indicando o quão prejudicial ela pode ser. “Na Confissão, pedimos perdão não só pelo mal que fizemos, mas também pelo bem que não fizemos. Pode ser fácil esquecer os pecados de omissão porque eles parecem menos reais em alguns aspectos, mas são muito concretos e prejudicam a comunidade tanto quanto os outros, se não mais”, explicou.

Segundo Francisco, ao não ter agido como deveria ter agido, a Igreja acabou gerando um grande escândalo. Mas não permaneceu em silêncio ou sem ação: o Papa citou o Motu Proprio Vos estis lux mundi, que solicita a disponibilização de locais para acolhimento de denúncias e atendimento de quem se diz lesado.

Três princípios para agir

O Pontífice pediu então que aos membros da Comissão seguissem três princípios, baseados em uma espiritualidade de reparação. O primeiro é lembrar onde a vida foi ferida e do poder de Deus para transformar desespero em esperança e morte em vida. “A terrível sensação de perda experimentada por tantos devido ao abuso, às vezes pode parecer insuportável”, assinalou.

O segundo princípio é que “o abuso sexual destruiu nosso mundo e não apenas a Igreja”. As consequências de um abuso podem perdurar através do tempo e criar obstáculos e brechas na vida das vítimas até hoje. “A natureza insidiosa do abuso destrói e divide as pessoas, em seus corações e entre si. Mas nossa vida não foi feita para permanecer dividida”, ressaltou Francisco.

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Por fim, o terceiro princípio é cultivar em si próprio o respeito e a bondade de Deus. Neste ponto, o Papa exortou todos a serem delicados nas ações, levando os fardos uns dos outros sem reclamar, pensando que este momento de reparação da Igreja dará lugar a outro momento da história da salvação. “Agora é a hora de desfazer o dano causado às gerações que nos precederam e àquelas que continuam sofrendo”, afirmou.

Conselhos e pedidos à Comissão

Na sequência, o Santo Padre falou sobre o trabalho desenvolvido pela Comissão. Destacou como todos se esforçam para curar uma grande ferida, atuando junto às Igrejas particulares, e aconselhou: “Os princípios do respeito pela dignidade de todos, da boa conduta e de um estilo de vida saudável devem tornar-se uma norma universal, independentemente da cultura e situação económica e social das pessoas”.

Finalizando, Francisco expressou sua alegria em analisar os planos da Comissão para atuar na Ásia, na África e na América Latina. Alegou que não é justo que as áreas mais prósperas do planeta contem com programas de proteção bem estruturados e financiados, enquanto outras regiões sofrem em silêncio, estigmatizadas quando tentam denunciar os abusos que sofreram.

O Papa também pediu um relatório anual sobre o trabalho realizado pela Comissão, indicando aquilo que acreditam que está funcionando bem e o que não está. Por fim, o Santo Padre elogiou o trabalho realizado pelo grupo nos últimos seis meses, o abençoou e, como de costume, pediu para os presentes não se esquecerem de rezar por ele.

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