Primeiro Concílio ecumênico da história da Igreja completa 1700 anos neste dia 20 de maio; padre Marcus Guimarães reflete sobre importância desse evento
Gabriel Fontana
Da Redação

Afresco representando o Concílio de Niceia presente na Capela Sistina
Há exatos 1700 anos, bispos de todo o mundo se reuniram, pela primeira vez, para discutir questões ligadas à fé católica. Convocado pelo Imperador Constantino, no dia 20 de maio de 325, tinha início o Concílio de Niceia (atual İznik, na Turquia).
A data era frequentemente lembrada pelo Papa Francisco e marca o primeiro Concílio ecumênico da história da Igreja. Vozes dissidentes ameaçavam a fé cristã e, diante disso, recorreu-se ao diálogo para que fosse retomada a unidade.

Padre Marcus Guimarães / Foto: Arquivo pessoal
Membro do clero de Nova Iguaçu e assessor da Comissão Episcopal para o Ecumenismo e Diálogo Inter-Religioso da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), padre Marcus Guimarães afirma que o Concílio de Niceia é uma recordação a todos os cristãos de que aquilo que une é mais forte do que aquilo que divide.
“Em um clima de conflitos causados por heresias e divisões, a convocação e realização do Concílio de Niceia foi um apelo e um convite a todos os cristãos para darem um passo resoluto rumo à unidade do povo de Deus no anúncio fiel do Evangelho”, comenta o sacerdote.
Ele destaca também a força da ação do Espírito Santo na vida da Igreja. “Ele é o artífice da unidade e o protagonista da missão. Agindo na Igreja, o Espírito a desafia a acolher e a testemunhar com palavras, gestos e ações, o dom da unidade, da diversidade reconciliada, do entendimento, sobretudo pela prática conciliar e sinodal que sempre requer muita oração, escuta e discernimento da vontade de Deus para a Sua Igreja”, frisa padre Marcus.
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Diálogo e unidade
Neste contexto, o assessor salienta que não existe caminho para o diálogo, pois o diálogo é o próprio caminho. A partir dele, passa-se do confronto ao encontro para uma verdadeira comunhão missionária.
“Niceia é o modelo e o apelo para que firmemos também hoje, em tempos de polarizações, o empenho de trilhar sempre o caminho do diálogo. Ele é o itinerário para a unidade e a catolicidade da Igreja, para a construção da paz”, declara o sacerdote.
A unidade não é uma meta a ser realizada por meios humanos apenas, mas é um dom a ser pedido ao Pai.
– Padre Marcus Guimarães
Desde seu primeiro discurso como Pontífice, o Papa Leão XIV tem frisado a importância dessa unidade. Padre Marcus também recorda o Papa Francisco, que exortava os cristãos a incorporar a unidade e o amor de Deus Uno e Trino na vida pessoal e na vida da Igreja como testemunho diante de um mundo ferido por divisões e rivalidades.
“A unidade cristã precisa ser buscada no empenho pela promoção do diálogo ecumênico. Há um compromisso nosso de cristãos de destacarmos, em nossa vida eclesial, a dimensão ecumênica como constitutiva, integrante da nossa fé cristã”, enfatiza o assessor, listando os fundamentalismos, desconhecimento dos fundamentos da fé, preconceitos e individualismos pessoais e grupais entre os desafios a serem superados na busca pela unidade.
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Unificação da data de celebração da Páscoa
Diante disso, padre Marcus recorda ainda um dos “sonhos” que tinha o Papa Francisco: unificar a celebração da Páscoa, comemorada em datas diferentes por latinos e orientais. Neste ano, porém, uma rara coincidência fez com que todos os cristãos celebrassem esta solenidade no mesmo dia, em 20 de abril.
“Seja essa ‘circunstância providencial’ um convite e um apelo a todos os cristãos do Oriente e do Ocidente para darem resolutamente um passo a mais rumo à unidade, à fraternidade universal, em torno de uma data comum da Páscoa”, conclui.