Assessor da Comissão para a Vida e a Família da CNBB reflete sobre a Semana Nacional da Vida – iniciada nesta terça-feira, 1º de outubro; pessoa idosa está no centro da temática deste ano
Julia Beck
Da redação
Esta terça-feira, 1º de outubro, marca não apenas o início de um mês, mas também o início de um importante período para a Igreja no Brasil: a Semana Nacional da Vida. Em 2024, o tema “Idosos, memória viva da nossa história” e o lema “Na velhice darão frutos” (Salmos 92, 15) destacam a importância da valorização da pessoa idosa.
O assessor da Comissão Episcopal para a Vida e a Família da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), padre Rodolfo Chagas Pinho, afirma que as pessoas idosas são a memória viva da história de uma sociedade. No entanto, ele observa que, muitas vezes, elas não são valorizadas adequadamente. “São tratadas como se não tivessem mais utilidade social”, aponta.
A falta de cuidado com os mais velhos reflete uma cultura do descarte, onde os mais vulneráveis, idosos, doentes, os não nascidos, os nascituros são marginalizados ou vistos como um fardo, observa o sacerdote. A cultura do descarte, prossegue o assessor da Comissão para a Vida e a Família da CNBB, é um conceito central do pontificado do Papa Francisco, que denuncia como na sociedade contemporânea, pessoas que já não produzem ou que não são vistas como economicamente valiosas, são deixadas de lado.
“A Igreja Católica, fundamentada no respeito pela dignidade humana, se opõe a essa cultura. Para a Igreja, cada pessoa, independentemente da sua idade ou condição, possui um valor intrínseco, sendo criado à imagem e semelhança de Deus. Os idosos, em particular, representam a memória viva de uma comunidade, de uma cultura, e têm um papel essencial na transmissão da fé e dos valores morais. Eles dão frutos na velhice, já diz o nosso Salmo, como sugere o lema da Semana Nacional da Vida. Então é necessário lutar contra a cultura do descarte”.
Cultura do encontro
O presbítero afirma que os católicos precisam se unir e promover uma cultura do encontro – também frequentemente enfatizada pelo Papa Francisco, onde todas as pessoas, especialmente as mais vulneráveis, são reconhecidas e valorizadas.
Leia mais
.: Papa: substituir a cultura do descarte pela cultura do respeito e do cuidado
“Nós queremos, com a Semana Nacional da Vida, fazer crescer a cultura da vida (…) e da valorização da pessoa. O Dicastério para a Doutrina da Fé lançou a Dignitas infinita, (declaração sobre a dignidade humana), apresentando para nós essa dignidade que é intrínseca em cada ser humano. A Igreja, à luz da revelação, reafirma de modo absoluto a dignidade ontológica da pessoa humana, criada à imagem e semelhança de Deus e redimida em Cristo Jesus”, sublinha.
Defesa da vida em todas as suas fases
Embora o foco da Semana Nacional da Vida seja a valorização da pessoa idosa, essa celebração reforça a defesa da vida em todas as suas fases, desde a concepção até a morte natural. Padre Rodolfo frisa que a vida humana enfrenta diversas ameaças contemporâneas, e a Igreja propõe algumas formas concretas também de lutar contra essas ameaças.
“Nós temos o aborto, a eutanásia, o suicídio assistido, a desigualdade social, a pobreza, a violência, as guerras que nós estamos vivendo, estamos assistindo no mundo. Algumas experimentações biotecnológicas, antiéticas, são algumas das ameaças que nós temos hoje na nossa sociedade”, afirma.
Leia mais
.: Papa: a defesa da vida não é ideologia, é uma realidade humana
O assessor da Comissão para a Vida e a Família da CNBB reitera a necessidade de uma educação de conscientização, visando informar e educar sobre o valor da vida em todas as suas fases. Ele recorda que a Igreja promove um ensino sobre a sacralidade da vida desde a infância, assim como também campanhas. A defesa ativa da vida, continua o sacerdote, também envolve participar de movimentos que promovam políticas públicas favoráveis à dignidade humana.
Os católicos são chamados a ser agentes de transformação, ressalta padre Rodolfo. Deste modo, devem combater as ameaças contra a vida através de ações. A caridade cristã, tanto em nível pessoal quanto institucional, exemplifica o presbítero, também é um meio de defesa e de promoção da vida em meio à pobreza e exclusão social. Ele cita também a oração e a evangelização, já que a luta pela vida também tem um viés espiritual. “A oração, pela conversão das mentes, dos corações, pela cultura da vida, faz parte também do trabalho pastoral da Igreja”, complementa.
“É um momento importante para reafirmar o compromisso de todos os nossos cristãos católicos com a defesa da vida. Defender, promover e cuidar da vida em todos os seus estágios: essa é a proposta da Igreja” – padre Rodolfo Chagas Pinho
Semana Nacional da Vida
A Semana Nacional da Vida é celebrada, anualmente, pela Igreja Católica no Brasil a partir do dia 1º de outubro. Ela é uma iniciativa que reforça o compromisso dos católicos em promover e defender a vida humana em todas as suas fases, desde a concepção até a morte natural. Esta semana culmina sempre no dia 8 de outubro, que é o Dia do Nascituro – que destaca a defesa da vida dos que ainda não nasceram.
“Essa celebração reafirma para os católicos a sacralidade da vida, baseada sempre nos ensinamentos fundamentais da Igreja – que considera a vida um dom de Deus inviolável, digno de respeito e proteção”, salienta padre Rodolfo.
O assessor da Comissão para a Vida e a Família da CNBB revela que a Doutrina Católica expressa de maneira clara, principalmente na encíclica Evangelium Vitae, do Papa João Paulo II, que a defesa da vida humana é uma responsabilidade essencial de todo cristão, que deve lutar contra a cultura da morte e promover a dignidade humana.
Católicos não podem ser a favor do que vai contra a vida
“Sendo católicos, nós não podemos ser a favor de algo que vai contra a vida. A Igreja ensina que ser católico significa estar em comunhão com a fé e a moral católica. Essa moral inclui a defesa incondicional da vida. Quando nós aderimos a Jesus Cristo, o seu Evangelho vem junto, nós não podemos separá-los. Ao apoiar práticas que atentam contra a vida, como o aborto e a eutanásia, o fiel se afasta de um dos princípios fundamentais do catolicismo, que é a proteção da dignidade humana, do início até o seu fim natural. É contraditório se identificar como católico e, ao mesmo tempo, defender práticas que vão contra a vida humana”, reitera.
O presbítero retoma a necessidade de defender aquele que já nasceu, a criança, os adolescentes, jovens, adultos e pessoas idosas. Ele acredita que a criança “precisa de escola, alimentação, educação, afeto e de um lar”. Os adolescentes “precisam se livrar de abusos, tanto psicológicos como sexuais”. Os jovens “precisam de um emprego para começar a vida” e auxílios matrimoniais. Os adultos, por exemplo, a mulher, deve ser defendida “de todo tipo de violência”. E os idosos protegidos, principalmente, “da cultura do descarte”.
“O Papa Francisco tem reafirmado que a Igreja é vida. Ela está sempre em defesa da vida, então qualquer posição contrária compromete a integridade da identidade católica”, conclui.