Centenário Franciscano

O presépio revela que o mistério de Deus cabe na nossa casa, diz frei

Franciscanos falam sobre simbologia do presépio no ano em que é celebrado o Centenário dos 800 anos da criação da cena do nascimento de Jesus

Julia Beck
Da redação

Presépio /Foto: Nick Fewings na Unsplash

Neste ano de 2023 é celebrado o Centenário Franciscano dos 800 anos da criação do Presépio. O religioso franciscano da Ordem dos Frades Menores, Frei Augusto Luiz Gabriel, afirma que para os franciscanos este é um marco importante e histórico, pois a criação do Presépio remete ao Santo de Assis, que teve a iniciativa em 1223. 

“São Francisco quis contemplar com os próprios olhos as maravilhas da encarnação do Senhor, em Greccio, um pequeno povoado na Itália e assim, nas vésperas de celebrar o santo Natal, a ‘festa das festas’ como ele chamava, pediu, pois, para preparar um presépio e trazer muito feno, juntamente com um burrinho e um boi, e ordenadamente o dispôs”, conta.

O vigário provincial e secretário da evangelização da Província Franciscana da Imaculada Conceição, Frei Gustavo Medella, reitera que a iniciativa do santo nasceu do seu fascínio no mistério da encarnação e nascimento de Jesus. São Francisco “queria que os olhos pudessem ver a maravilha que foi o nascimento de Deus, infinito, todo poderoso, na simplicidade de uma criança, em um lugar improvisado, uma estrebaria”.

A ideia do santo, acredita o religioso, era proporcionar a todos esta experiência de atualizar e tocar, pela via sensorial, o mistério de um Deus apaixonado que se fez criança, se fez próximo da humanidade.

Frei Augusto acredita que desde aquele dia, transformado em algo esplêndido, compor um presépio tornou-se um ato de fé, vislumbrando a presença do Deus encarnado em tudo aquilo que constitui a vida.

Simbologia

Os símbolos, explica Frei Medella, têm o poder de transmitir mensagens que às vezes as palavras, e a própria razão, não conseguem transmitir. “Por isso são tão presentes na tradição cristã, desde o seu surgimento”.

O presépio vem nos revelar que a grandeza do mistério de Deus cabe na nossa casa”, ressalta Frei Medella. Montar e reproduzir aquela cena, prossegue o franciscano, vem revelar que na singeleza do Menino de Belém, Deus se torna próximo, que cabe na vida e no coração de cada pessoa.

Deus é totalmente acessível, reforça o religioso. “Quando nos ocupamos de montar o presépio, fazer as nossas preces, celebrar cada personagem e detalhe daquela cena, nos preparamos para receber melhor Jesus e celebrar o mistério do Natal”.

Admirável sinal

Em 2019, foi publicada a Carta Apostólica “Admirável sinal” (Admirabile Signum), de autoria do Papa Francisco, para ressaltar o significado e valor do Presépio. Sobre o documento, Frei Augusto recorda que ele destaca a importância dos símbolos cristãos, ressaltando que através deles a verdade da fé também é comunicada e anunciada, de modo significativo, profundo e visual.

Íntegra
.: Carta apostólica do Papa sobre o significado e o valor do Presépio

“O Papa quis revelar para todos que, mesmo com todos os avanços tecnológicos, com a sociedade hiper conectada (…), os símbolos que nos remetem à simplicidade, ao silêncio, à contemplação, como o presépio, continuam importantes, fundamentais e devem fazer parte do fundamento da nossa fé, nos enchendo de esperança, alegria e entusiasmo”, reflete Frei Medella.

Em novo livro divulgado na semana passada, cujo título é: “O meu Presépio. Conto a vocês sobre os personagens do Natal”, o Papa Francisco afirmou que é um dom saber como “encontrar a grandeza na pequenez que Deus tanto ama”.

A mesma dinâmica encontrada no presépio, prossegue o franciscano, é encontrada no gesto do Lava Pés, no mistério da Eucaristia e da Cruz. “É uma cena, uma realidade, que diante dos sentidos, são plenas de humildade. Aí está a grandeza e ousadia de Deus. Ele quer nos mostrar o caminho do despojamento, da confiança, da entrega, do serviço e dos gestos de amor e solidariedade. É a pequenez que nos torna grandes. E o presépio vem de encontro a essa pedagogia divina”.

Nesta perspectiva, Frei Augusto opina: “Certamente saber encontrar Deus nas pequenas coisas é um dom, uma dádiva, uma virtude. Assim, o Presépio, ao representar o nascimento de Jesus em circunstâncias humildes, destaca a ideia de que a grandeza divina está presente mesmo nas situações mais simples e modestas da vida. Creio que essa perspectiva ajuda a reconhecer a grandeza na pequenez, refletindo a mensagem cristã e franciscana de humildade, compaixão, esperança e alegria”.

Advento

O Tempo do Advento na Igreja é um momento de preparar a manjedoura e o coração para a chegada do “menino das palhas”, reflete Frei Augusto. Neste sentido, ele relata que sempre tem uma memória afetiva do começo deste período, principalmente no que diz respeito a montar e enfeitar a casa para o Natal.

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“Em casa tem-se o bonito costume de limpar tudo, lavar, organizar, além de ornamentar a árvore, pendurar a guirlanda na porta e preparar um lugar especial para o presépio. Sempre com toda a família reunida estes momentos ficaram gravados na minha memória. E agora como religioso franciscano, continuamos montando o presépio em nosso conventos e paróquias e em fraternidade, celebramos a Solenidade do Natal”, comenta.

Frei Medella afirma que montar o presépio é algo que também o remete muito à infância, à sua avó. Ele conta que outra lembrança relacionada a este símbolo cristão é do tempo em que estava no seminário, há aproximadamente 20 anos. “Levei para a minha família uma vela que tinha a cena do presépio esculpida. Pedi que escrevêssemos naquela velha a seguinte frase: ‘Que nossa família seja sempre como uma manjedoura, pronta para acolher o Menino Deus’”.

Renovar a esperança

“Este período do Advento é sempre uma oportunidade para renovarmos a nossa esperança”, sublinha Frei Augusto. Segundo ele, o menino Deus é uma prova disso: quando o seu povo estava sedento de gestos de bondade e mansidão, por ser muito oprimido e por ter uma imagem de um Deus aterrador, Jesus trouxe uma nova face divina.

O religioso ressalta que Jesus proclama um Deus apaixonado pela humanidade, que cura, multiplica os pães, perdoa a pecadora pública, ensina a vencer o egoísmo e a amar a todos, até mesmo os inimigos.

“Por isso, com o nascimento do menino Jesus, renovamos a esperança de um novo tempo, de um novo ano. Cristo, ao nascer entre nós e experimentar nossas dores, nos mostra que é possível vivermos como irmãos, num projeto de fraternidade e partilha. Basta que tenhamos a capacidade de pensar que a nossa felicidade consiste em fazer os outros felizes!”, opina.

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