Assessor da Comissão para a Liturgia da CNBB enfatiza que flores não são ‘enfeite autônomo’ e reforça a proibição do uso de artificiais
Julia Beck
Da Redação

Foto: Canva
As flores, protagonistas desta estação – a primavera, têm uma bonita função dentro da liturgia da Igreja: evocar a vida que brota, a ressurreição e a esperança cristã. O assessor da Comissão Episcopal para a Liturgia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), frei Luís Felipe Marques, explica que por isso elas são usadas de modo especial no Tempo Pascal e em outras celebrações festivas, como solenidades e festas. “Devem estar sempre em função do altar e da liturgia, e não como enfeite autônomo”, complementa.

Frei Luis Felipe Marques / Foto: Arquivo pessoal
O religioso revela que a Instrução Geral do Missal Romano (IGMR) orienta que, na ornamentação da igreja, deve tender-se mais para a simplicidade do que para a ostentação. Uma diretriz que convida à sobriedade e desaconselha toda forma de exibição, luxo, aparato ou riqueza desnecessária. Frei Luís lembra que o foco principal não é a decoração em si, mas sim a liturgia que nela se celebra.
A ornamentação com flores deve ser sempre sóbria e, em vez de ser colocada sobre a mesa do altar, deve ser disposta junto dele, prossegue o assessor da CNBB. Deste modo, ele esclarece que as flores devem adornar sem impedir a visibilidade do que se passa no altar. “Preferencialmente, devem ser colocadas no chão, diante do altar, e não sobre ele. Afinal, nasceram no chão, e esse também pode ser um símbolo liturgicamente significativo”, ressalta.
Flores artificiais
As flores escolhidas para ornamentar a Igreja devem ser naturais. Frei Luís frisa que a IGMR enfatiza: “Na escolha dos elementos decorativos, procure-se a verdade das coisas” (IGMR 292). Isso, segundo ele, valoriza o que é autêntico e verdadeiro.
“Está proibido o uso de flores artificiais. Mais do que simplesmente embelezar o ambiente, a ornamentação da igreja deve contribuir para a formação dos fiéis, para a dignidade do espaço sagrado e para a participação ativa de todos nas celebrações”, comenta.
Conhecimento de liturgia
Outro ponto destacado pelo religioso é que a responsabilidade pela ornamentação da igreja exige conhecimentos básicos de liturgia, do ano litúrgico e da pastoral litúrgica. De acordo com ele, essa formação é fundamental para garantir que a decoração esteja em sintonia com o mistério celebrado e com o tempo litúrgico correspondente.
Moderação
A moderação na ornamentação do altar não inclui apenas as flores, mas também a toalha, os castiçais, os vasos sagrados, o microfone e até mesmo o suporte do Missal. Frei Luís detalha que tudo deve ser discreto, sem exageros ou elementos que desviem a atenção do verdadeiro centro da celebração: o altar.
“Evita-se, por exemplo, o uso de toalhas com muitas rendas ou com desenhos chamativos. O microfone deve ser funcional e pouco intrusivo, assim como o Missal e seus suportes. O altar é a mesa da Ceia do Senhor, por isso, devem estar sobre ele apenas a patena com o pão, o cálice com o vinho e o Missal. Qualquer outro objeto sobre a mesa do altar será, de certa forma, um excesso”, complementa.
Altar
Na tradição cristã, o assessor da Comissão para a Liturgia da CNBB explica que o altar nunca foi um móvel imponente ou decorado com exagero. Pelo contrário, sempre foi considerado um espaço circundável, visível e funcional, com destaque para sua dignidade e valor simbólico.
“Ele pode ser realçado com elementos como toalhas, velas, flores e a cruz, desde que todos contribuam para evidenciar sua nobreza e sobriedade, sem ocultá-lo ou dificultar os gestos próprios da ação litúrgica”, reitera.
Cuidados com os detalhes são importantes, mas o religioso esclarece que nunca devem se sobrepor ao essencial. “As flores, por exemplo, não são mais importantes que o altar, o ambão ou outros lugares simbólicos”, finaliza.

Altar do Santuário do Pai das Misericórdias ornamentado com flores /Foto: Daniel Xavier