Secretário-geral do Governatorado do Vaticano, Dom Fernando Vérgez comenta a reabertura ao público dos Museus Vaticanos
Da redação, com Vatican News
Em breve, o Museu do Vaticano reabrirá suas portas ao público, em condições de segurança, após o bloqueio obrigatório da quarentena da pandemia de coronavírus. De fato, o Museu do Vaticano, que, em 2019, contou com a presença de quase 7 milhões de visitantes, foi obrigado a suspender suas atividades públicas.
Em entrevista, o Secretário Geral do Governatorado da Cidade do Vaticano, Dom Fernando Vérgez Alzaga destacou “a grande necessidade de trabalhar na realidade concreta, sem esquecer que as pessoas são os protagonistas que dão vida ao Museu Vaticano e que a experiência real do Museu dá vida às pessoas”. “O virtual jamais poderá substituir a realidade, pois, para dar valor à arte são necessários olhos e coração”. Confira a entrevista:
Conte-nos sobre todo este período de quarentena obrigatória:
Dom Vérgez: Fechamos as portas ao público, cientes de que a salvaguarda da saúde vem em primeiro lugar. Por isso, neste último mês e meio, decidimos realizar apenas as atividades que considerávamos mais essenciais, para as quais contamos apenas com cerca de trinta funcionários ao dia. Uma porcentagem muito baixa se considerarmos que a grande “família” de funcionários e colaboradores do Museu é composta por quase mil pessoas, incluindo guardiões, historiadores de arte, restauradores, equipe administrativa e as várias empresas de serviços. Agora, precisamos dar tempo ao tempo para que toda a equipe se acostume com os novos protocolos de segurança, diante deste cenário inédito e complexo que estamos enfrentando».
Como o Museu do Vaticano enfrentou esta crise e espera enfrentá-la, economicamente, nos próximos meses?
Dom Vérgez: Antes de tudo, tivemos a preocupação de assegurar o salário a todos os funcionários, respondendo à firme vontade do Santo Padre. Em segundo lugar, cortamos, imediatamente, todas as despesas não urgentes. Como toda boa família, chegou o momento de economizar, eliminar o supérfluo e se sacrificar, em vista de um futuro melhor. Nesse sentido, podemos dizer que o Museu do Vaticano é uma instituição sólida, também do ponto de vista econômico. Isso nos permite encarar o futuro com confiança».
Atualmente, notamos um aumento do uso digital público, para todos os que foram obrigados a ficar em casa. Dom Fernando, o senhor acha que isso poderá ser intensificado?
Dom Vérgez: Esses dois meses foram, para nós, meses de silêncio. Vimos o Papa Francisco em uma Praça São Pedro deserta. Vimos as salas e galerias do museu vazias. O silêncio exigia oração. Por isso, preferimos ficar um pouco de lado, reduzir a nossa comunicação ao mínimo e dar testemunho cristão. No entanto, para quem queria ou ainda quer, no nosso site oficial oferecemos inúmeras visitas virtuais no Museu, inclusive na Capela Sistina. Há alguns meses, inauguramos um nosso perfil oficial no Instagram (@vaticanmuseums), onde, todos os dias, apresentamos uma obra das Coleções pontifícias. Neste último período, de modo particular, também o fizemos em colaboração com Vatican News. Porém, temos uma grande necessidade de trabalhar na realidade concreta, sem esquecer que as pessoas são os protagonistas que dão vida ao Museu Vaticano e que a experiência real do Museu dá vida às pessoas. O virtual jamais poderá substituir a realidade, pois, para dar valor à arte são necessários olhos e coração”.
Os Museus da Itália estão se preparando para abrir, em breve, suas portas ao público. O Museu do Vaticano está pronto?
Dom Vérgez: Ainda não temos uma data certa para a reabertura. Mas a preparação começa primeiro internamente. Ativamos protocolos em defesa da saúde da equipe: quando um funcionário chega, é medida a sua temperatura corporal e recebe luvas e máscaras. A Direção do Setor de Saúde e Higiene do Governatorado Vaticano apresentou um decálogo, sobre as regras de higiene e de distanciamento social, que todos devem seguir escrupulosamente. Para o público, estamos ultimando a instalação de alguns “scanners térmicos” para detectar a temperatura corpórea. O público só terá acesso ao Museu mediante bilhetes reservados antecipadamente, para favorecer uma entrada organizada. Todos os visitantes deverão usar máscaras. Na hora da reserva dos bilhetes, o site oficial do Museu oferecerá todas as informações necessárias».
Nesta Segunda Fase da epidemia, presume-se que os primeiros visitantes do Museu sejam os cidadãos da capital italiana e das suas proximidades. Eles terão alguma surpresa especial?
Dom Vérgez: Provavelmente sim, pelo menos no primeiro período. Por isso, estamos pensando em fazer uma mudança no horário de funcionamento: tentaremos incentivar as visitas à tarde e à noite, principalmente nos fins de semana. Gostaria que este momento difícil se transformasse em uma oportunidade. Por isso, faço minhas as palavras que o Prof. Antonio Paolucci, ex-diretor dos Museus do Vaticano, teve a oportunidade de lhes dirigir: “Romanos, tomem novamente posse do seu Museu. O Museu do Vaticano nasceu como propriedade da Cidade de Roma”. Logo, esperamos que sejam numerosos os visitantes, sobretudo romanos, nas próximas semanas».
Dom Fernando, será possível também visitar os Jardins do Vaticano?
Dom Vérgez: Claro que sim! Se reabrirmos nossas portas, não será para sacrificar a presença dos visitantes. Reabriremos tudo o que for possível. O lento retorno à normalidade, ao qual todos almejamos, exige certa criatividade, para impedir que tudo seja uma simples questão de imagem ou de falsa de imagem. Claro, também para as visitas aos Jardins do Vaticano, haverá modalidades particulares, capazes de levar em consideração as necessidades já mencionadas de segurança para a saúde das pessoas, com os devidos horários e itinerários. Retomaremos também as várias atividades turísticas e culturais nas Vilas Pontifícias de Castelgandolfo, que, por desejo do Santo Padre, são confiadas ao Museu do Vaticano. Nesse caso, preferimos concentrar tais atividades mais nos fins de semana, dando a oportunidade às pessoas de visitar a Residência de verão dos Papas e os esplêndidos jardins da Vila Barberini. Este período será propício e apropriado»!
Quantos visitantes os senhores esperam receber nos próximos meses até terminar a crise da pandemia?
Dom Vérgez: Esta pandemia nos ensinou uma coisa: evitar de fazer previsões para além de dois dias. Nestes anos, aprendemos que, no mundo do turismo, é essencial manter um relacionamento constante e confiante com os agentes de turismo. A contribuição deles é muito importante para conhecermos, antecipadamente, a dinâmica do mercado do turismo, bem como a escolha e o desenvolvimento de projetos e iniciativas de acolhimento. Com eles estamos tentando entender o que vai acontecer em um futuro próximo, mas não é fácil. No momento, o setor dos agentes e guias turísticos está em crise. Por isso, é natural que, por muito tempo, não será possível receber grandes grupos de visitantes e turistas. Será necessário ter muita paciência, enquanto as coisas não melhorarem».