Agosto é o mês de aniversário da carta apostólica Mulieris Dignitatem, sobre a dignidade e vocação da mulher
Mauriceia Silva
Da Redação
Há 34 anos, o Papa João Paulo II, hoje santo, publicava, em forma de Carta Apostólica, o primeiro documento do Magistério Pontifício dedicado inteiramente à questão da mulher: a Carta Apostólica Mulieris Dignitatem. O Papa dirigiu-se à mulher como um tema não apenas específico, mas indispensável.
A empresária de Arte Sacra, esposa e mãe de 5 filhos, Viviane Lopes, diz que leu o documento algumas vezes e percebe que ele traz orientações em relação à essência da mulher e ao verdadeiro valor que está acima das coisas que elas fazem.
“Muitas mulheres sentem vergonha por serem donas de casa, mães de família, sem uma formação acadêmica. Nesse documento, São João Paulo II nos ajuda a descobrir o nosso valor, nossa dignidade de filhas de Deus, independente daquilo que fazemos.”
No documento, é notável o temor de que a mulher que age em nome da libertação do domínio do homem possa se deformar e perder aquilo que constitui a sua riqueza essencial. “O ser humano depois do pecado original de fato tem essa inclinação e um certo desejo mimético de ao invés de ver a beleza de sua missão, achar sempre que a do outro é melhor. Nessa deformação da natureza deixamos de ser nós mesmos e nos debatemos de forma desorientada contra aquilo que é mais singular e rico em nós”. Quem explica é a psicóloga e mestre em Antropologia, Maria Célia dos Reis Silva.
Riquezas distintas
Segundo o professor e pesquisador em Filosofia e Teologia Patrística, Joel Gracioso, na luta contra todo tipo de relação deturpada ou abusiva entre o masculino e o feminino pode ocorrer a perda da identidade da mulher.
“Homem e mulher são iguais do ponto de vista da natureza humana e de sua dignidade. Porém, são seres diferentes e, portanto, com riquezas distintas.” Para o pesquisador, no documento João Paulo II quis justamente salientar que, por mais que a natureza humana seja uma, ela se realiza de forma distinta no homem e na mulher. “A estrutura biológica, genética, psíquica são distintas no masculino e no feminino. Desta forma, a missão e o papel de cada um na família, na sociedade, na Igreja não são os mesmos. Isso não implica na desvalorização de alguma das partes, mas sim no reconhecimento da diferença e, por conseguinte, na necessidade da complementariedade.”
Segundo Maria Célia, na Carta Apostólica fica claro a igual dignidade e a diversidade dos papéis. Ela lembra que homem e mulher se complementam e vivenciam, na prática, uma missão intercambial. “Para que a missão do outro seja plena precisa haver essa parceria (que nas palavras do Papa seria a “comunhão”), e não um jogo de poder que tem origem na concupiscência, mas que somos chamado a superar.”
Como mãe e esposa, Viviane percebe a riqueza que há no masculino e feminino e conhece bem a importância da missão que cada um possui. “Minha missão se dá na humanização; na busca de formar a afetividade das crianças por meio da educação das virtudes, a educação religiosa, as leituras, a percepção mais afinada sobre cada um e a busca do caminho do coração das crianças. Eu não consigo imaginar como seria nosso lar sem a presença masculina e paterna tão fortes, como é a do meu esposo”.
Agosto Lilás
Além de marcar o aniversário desse documento pontifício sobre a vocação e a dignidade da mulher, agosto também foi o mês escolhido para a conscientização e fim da violência contra a mulher. O balanço divulgado pelo Ministério dos Direitos Humanos mostra que o canal para denúncias de violência contra a mulher, Ligue 180, recebeu 72.839 notificações apenas no primeiro semestre deste ano. A violência física foi o crime mais registrado no período, com 34 mil casos, seguida da violência psicológica, com 24.378, e da violência sexual, correspondendo a 5.978 casos.
Agosto Lilás é uma campanha de enfrentamento à violência doméstica e familiar contra a mulher, instituída por meio da Lei Estadual nº 4.969/2016. Ela possui o objetivo de intensificar a divulgação da Lei Maria da Penha, sensibilizar e conscientizar a sociedade sobre o necessário fim da violência contra a mulher, divulgar os serviços especializados da rede de atendimento à mulher em situação de violência e os mecanismos de denúncia existentes.
Totalmente contrária à violência doméstica, a Carta Apostólica Mulieris Dignitatem evidencia que, quando o homem ofende a dignidade pessoal e a vocação da mulher, ele age contra a própria dignidade pessoal e a própria vocação.
Amar, sair de si e dar-se
Sobre o capítulo IV da Carta Apostólica, mais precisamente no tocante ao domínio masculino, Maria Célia diz que “depois do pecado original, amar passa a ser uma “batalha”, para sair de si mesmo na direção de ser um dom para o outro. Portanto amar passa a ser um desafio para toda a vida, pois se o homem não consegue se educar para exercer sua missão em conformidade com o Dom da mulher, e a recíproca é verdadeira, os dois vão ofuscar sua real dignidade.”
Por fim, a psicóloga Maria Célia afirma que a coesão familiar é um caminho de santidade e de superação da natureza concupiscente. “Dado ao nosso momento histórico de grande afronta a essa coesão familiar e social, precisamos ter o horizonte ampliado pelo olhar do Papa que nos permite subir nos seus ombros de pai e mestre, e nos faz ver questões além e de grande profundidade e beleza, que estão presentes na missão da mulher”.