Às 3h da manhã, o cardeal faleceu no Hospital Militar Central de Praga. Tinha 82 anos. Desempenhou um papel fundamental na Igreja tcheca na virada do milênio
Da redação, com Vatican News

O cardeal Dominik Duka / Foto: Reprodução Youtube
Faleceu nesta madrugada, terça-feira, 4 de novembro, aos 82 anos, o cardeal dominicano Dominik Duka, arcebispo metropolitano emérito de Praga. A morte ocorreu no Hospital Militar Central (VUN) da capital da República Tcheca. Nascido em 26 de abril de 1943 em Hradec Králové (Boêmia Oriental), então Tchecoslováquia, batizado com o nome de Jaroslav, era filho de um oficial do exército que, durante a invasão nazista, conseguiu deixar o país com a ajuda do dominicano Giorgio Maria Veselý e, através da Suíça, chegou à Inglaterra. Ali, até o final da Segunda Guerra Mundial, combateu no exército tchecoslovaco no exílio. Nos anos 1950, porém, foi preso pelas autoridades do novo regime comunista junto com outros oficiais do front ocidental. Eram tempos de ateísmo de Estado e repressão ideológica. A prisão do pai afetou toda a família. Assim, quando o jovem Jaroslav concluiu o ensino médio, em 1960, no ginásio “Josef Kajetan Tylle”, desejava prosseguir os estudos, mas as autoridades não o permitiram. Foi então obrigado a procurar trabalho. Iniciou numa fábrica em Hradec Králové, onde permaneceu de 1960 a 1962 como operário, obtendo depois a especialização de torneiro mecânico. Nos dois anos seguintes prestou serviço militar e, ao retornar, continuou trabalhando na fábrica, ainda impedido de realizar sua vocação religiosa. Em 1965, após longa espera, foi admitido na Faculdade Teológica dos Santos Cirilo e Metódio, em Litoměřice.
O noviciado clandestino
Em 5 de janeiro de 1968, ingressou clandestinamente na Ordem dos Frades Pregadores — à época proibida e considerada ilegal na Tchecoslováquia — recebendo o nome de Dominik. Após o primeiro ano de noviciado, fez os votos temporários em 6 de janeiro de 1969. Em 22 de junho de 1970, foi ordenado sacerdote pelo cardeal Štěpán Trochta e, durante cinco anos, exerceu o ministério como administrador paroquial nas fronteiras da arquidiocese de Praga: Chlum svaté Máří, Jáchymov e Nové Mitrovice, atualmente pertencentes à diocese de Plzeň. Em 7 de janeiro de 1972, fez a profissão solene na Ordem de São Domingos.
Impedido de viver a consagração religiosa
Em 1975, teve retirado o “alvará estatal de administrador espiritual”, o que o impediu de viver abertamente sua consagração religiosa. Durante quinze anos, trabalhou como desenhista técnico na fábrica automobilística Škoda, em Plzeň. Apesar do trabalho cotidiano, continuou estudando e colaborando clandestinamente com os dominicanos, correndo risco de prisão. De 1975 a 1986 foi vigário provincial e, de 1976 a 1981, mestre dos noviços. Paralelamente, participou da criação de um centro clandestino de estudos religiosos e organizou as atividades da nova geração dominicana na Tchecoslováquia. Em 1979, obteve a licenciatura em Teologia pela Faculdade Pontifícia de Teologia São João Batista, em Varsóvia, Polônia.
Em 1981, foi condenado por se opor à vigilância estatal sobre as Igrejas, conforme o Código Penal vigente. Passou quinze meses preso no cárcere de Plzeň-Bory, acusado de atividades religiosas, organização de estudos para clérigos dominicanos, publicação de material clandestino (samizdat) e colaboração com o exterior. Ao ser libertado, em 1986, foi nomeado superior da província dominicana da Boêmia e Morávia, cargo que manteve até 1998. Nesse período, participou da Assembleia Especial para a Europa do Sínodo dos Bispos (novembro-dezembro de 1991).
Bispo de Hradec Králové e depois presidente da Conferência Episcopal
Em novembro de 1989, ano da Revolução de Veludo, que levou ao fim do regime comunista tchecoslovaco, foi eleito presidente da Conferência dos Superiores Maiores Religiosos de seu país, e, de 1992 a 1996, também vice-presidente da União das Conferências Europeias dos Superiores Maiores Religiosos. Em 6 de junho de 1998, foi nomeado pelo papa João Paulo II como bispo de Hradec Králové, recebendo a ordenação episcopal em 26 de setembro das mãos do arcebispo Karel Otčenášek.
Durante onze anos na diocese natal, promoveu diversas iniciativas, como a fundação do Instituto Teológico e de um ginásio em Skuteč. Em 2002, convocou o segundo Congresso Eucarístico Diocesano. De 2000 a 2004, foi eleito vice-presidente da Conferência Episcopal Tcheca. Em 6 de novembro de 2004, João Paulo II o nomeou administrador apostólico sede plena et donec aliter provideatur da diocese de Litoměřice, cargo que manteve até 22 de novembro de 2008.
Em 13 de fevereiro de 2010, foi promovido por Bento XVI a arcebispo de Praga. Grão-chanceler da Faculdade de Teologia da Universidade Carolina de Praga, foi eleito, em 21 de abril de 2010, presidente da Conferência Episcopal Tcheca, função que exerceu até 2020. Nesse cargo, teve papel decisivo na restituição dos bens da Igreja e no diálogo público sobre o papel da Igreja na sociedade, unindo fé sólida, coragem cívica e abertura à cultura e à ciência. Em 23 de dezembro de 2011, presidiu, na Catedral de São Vito, as exéquias do ex-presidente tcheco Václav Havel, a quem conheceu pessoalmente em 1981, na prisão.
Cardeal em 2012
Ao longo dos anos, recebeu inúmeros prêmios e reconhecimentos, tanto civis quanto religiosos. Teve papel de destaque na tradução da Bíblia de Jerusalém para o tcheco, publicada em 2009, trabalho ao qual se dedicou por trinta anos. Em 2012, foi criado cardeal pelo papa Bento XVI, no Consistório de 18 de fevereiro, com o título dos Santos Marcelino e Pedro, tomando posse em 25 de novembro do mesmo ano. Participou do Conclave de março de 2013, que elegeu o papa Francisco. Em 21 de maio de 2016, Francisco o nomeou enviado especial à celebração eucarística pelo 1700º aniversário do nascimento de São Martinho de Tours, realizada em Szombathely (Hungria), em 9 de julho. Em 21 de abril de 2018, o Papa o designou enviado especial para as celebrações do 1050º aniversário da primeira sé episcopal na Polônia, ocorridas em Poznań, de 22 a 24 de junho.
Em 13 de maio de 2022, Duka renunciou ao governo pastoral da arquidiocese metropolitana de Praga. Em 8 de julho de 2023, foi nomeado enviado especial do Papa à cerimônia de coroação da imagem de Nossa Senhora “Saúde dos Enfermos”, venerada desde o século XVI no santuário polonês de Smolice, arquidiocese de Poznań, realizada em 9 de setembro. Ainda em julho de 2023, apresentou ao Dicastério para a Doutrina da Fé algumas questões sobre a administração da Eucaristia a divorciados em nova união, possibilidade aberta, ainda que com limitações, pela exortação apostólica Amoris laetitia do papa Francisco.
Em 24 de outubro do ano seguinte, em Praga, o purpurado participou da cerimônia de assinatura do Acordo entre a Santa Sé e a República Tcheca sobre certas questões jurídicas. E, no final de março passado, acompanhou a peregrinação jubilar nacional a Roma. Em 23 de agosto recente, Leão XIV o nomeou enviado especial às celebrações do centenário da arquidiocese polonesa de Gdańsk, realizadas na catedral de Oliwa, em 14 de outubro. Devido à hospitalização, o cardeal não pôde comparecer.


