Balanço

Mês missionário chega ao fim, mas missão continua, afirma padre

Diretor das Pontifícias Obras Missionárias faz balanço de mês missionário que será concluído neste sábado, 31

Julia Beck
Da  redação

Padre Maurício, diretor das POM, com membros do organismo durante atividade do mês missionário 2020/ Foto: POM

Chega ao fim o mês de outubro e com ele o mês missionário. Diferente dos outros anos, neste ano, ao celebrar a missionariedade com o tema “A vida é missão” e o lema “Eis-me aqui, envia-me” (Is 6,8), as Pontifícias Obras Missionárias – responsável pela animação deste mês – depararam-se com a pandemia da covid-19.

É importante recordar que o Dia Mundial das Missões, que foi instituído pelo Papa Pio XI em 1926, foi o ponto de partida para que, no Brasil, em 1972, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) consagrasse o mês de outubro como o mês missionário.

A programação deste ano, que foi desenvolvida pelas POM de forma on-line, alcançou o objetivo de desmistificar a ideia de que missão tem apenas ligação com atividades e conceituar o termo como algo inerente à vida de todos os batizados.

O diretor das POM, padre Maurício da Silva Jardim, concedeu uma entrevista ao noticias.cancaonova.com sobre o balanço do mês missionário, com as atividades desenvolvidas, mesmo que de forma on-line, e as perspectivas de futuro. Confira::

noticias.cancaonova.com – O mês missionário chega ao fim. Pela primeira vez, ele foi vivido em meio a uma pandemia. Qual balanço as Pontifícias Obras Missionárias fazem deste tempo e quais impactos a pandemia gerou na Campanha Missionária 2020?

Padre Maurício Jardim é diretor das Pontifícias Obras Missionárias./ Foto: POM

Padre Maurício da Silva: O tema, “A vida é missão”, ajudou as pessoas a refletirem a vida como ela é, no isolamento social, na igreja doméstica, na família. Somos missionários e missionárias 24 horas por dia. A Igreja ensina que a missão não se reduz à atividade, a uma parte da minha vida ou a a algumas horas do meu dia. Papa Francisco diz na Evangelii Gaudium que a “missão no coração do povo não é uma parte da minha vida, um ornamento que posso por de lado ou apêndice, é algo que não posso arrancar do meu ser se eu não quero me destruir”.

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Sou uma missão de Deus nessa terra e para isso estou nesse mundo. Essa compreensão de que a missão não se reduz a uma parte da minha vida, neste tempo de pandemia, foi muito bem trabalhado. Este conceito de missão, de que ela é um todo, é o ser da igreja, é essencial, faz parte da nossa identidade.

noticias.cancaonova.com – Desde o início do mês missionário, as POM desejaram que a campanha deste ano fosse um sinal de esperança para tantas vidas doadas de forma solidária, principalmente com o tema “A vida é missão” e o lema “Eis-me aqui, envia-me” (Is 6,8). Quais reflexões foram feitas para ajudar no crescimento da consciência missionária?

Padre Maurício: As POM desejaram e trabalharam muito para que essa campanha missionária chegasse a todas as pessoas de forma material, presencial e digital. Neste ano, foi muito bem trabalhado o tema e o lema da campanha, porque se multiplicaram as lives missionárias, as redes sociais das dioceses e paróquias, potencializando todo o material que produzimos replicando e intensificando com testemunhos de pessoas.

(…) Nesse mês missionário, trouxemos diferentes testemunhos de crianças, jovens, famílias, idosos, enfermos, consagrados e ministros ordenados que são missionários. Todos nós, desde o Batismo, recebemos essa força, essa unção do Espírito Santo, para fazer da nossa vida uma missão.

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A identidade visual da campanha mostra uma janela e um gesto do Papa Francisco, um encontro com um jovem cadeirante. O gesto é de proximidade, carinho e ternura. Não é só o Papa que está sendo missionário, ele recebe desse jovem o sorriso, mostrando que a missionariedade tem um duplo movimento: dar, mas também receber. Os pobres, vulneráveis e necessitados do nosso tempo também nos evangelizam e nos ensinam que a vida é missão. Então, o balanço é muito positivo, pois conseguimos criar essa consciência missionária em toda a Igreja, nos batizados, porque todos são missionários.

Campanha Missionária 2020 / Foto: Divulgação POM

noticias.cancaonova.com – Segundo as POM, ser discípulo missionário está além de cumprir tarefas ou fazer coisas. Como os católicos puderam exercer sua missionariedade neste tempo de pandemia e como podem continuar exercendo?

Padre Maurício:  O Papa Francisco, nesse Dia Mundial das Missões, escreveu uma mensagem ligando o tema “Eis-me aqui, envia-me” com a pandemia. O Papa faz uma reflexão dizendo que essa crise é um sinal de alarme para refletir onde se apoiam as raízes mais profundas que nos sustentam na tempestade.

Esse tempo então, que é de tempestade, sombrio e de crise nos recorda que esquecemos e ignoramos coisas importantes da vida, nos faz refletir sobre o que é realmente importante e necessário e o que é menos importante. Quando tivemos que desacelerar nas pastorais, visitas e atividades, ajudou a refletirmos o que é essencial na missão, o que é secundário, o que na nossa vida missionária colocamos como prioridade. Essa reflexão do Papa diz que é um momento de provação e escolhas.

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“A campanha missionária nos faz criar uma consciência de que algo precisa ser feito, não podemos ficar indiferentes diante da dor, do sofrimento, das injustiças sociais, da crise que atravessa a nossa Casa Comum, o planeta, a Amazônia. Todos esses temas implicam na vida missionária”. – Padre Maurício da Silva

noticias.cancaonova.com – Um dos apelos das POM deste ano foi a constante defesa e cuidado da vida em todas as dimensões. Neste ano, como este apelo tornou-se ainda mais urgente?

Padre Maurício: Foi um tempo muito forte, um convite do Papa a olhar menos para o espelho e mais para a janela, para o horizonte, para uma janela que se abre para o diálogo com o mundo, com as culturas, com as necessidades dos outros. No espelho, ficamos uma Igreja muito auto referencial, voltada para si mesmo, para suas preocupações internas, a janela nos faz ver a sociedade, e refletir sobre questões ligadas à vida, desde a sua concepção, até a morte natural.

A pandemia também nos ajuda a refletir: como estou me relacionando com as pessoas? Dou sentido para a minha vida quando a entrego com gratuidade, vivo com amor, sem sequiar o evangelho. A missão é isso, é o encontro com a outra pessoa, que é Jesus. Ele dá um novo horizonte para as nossas vidas, sem fronteiras, porque a missão é universal.

Mesmo na nossa pobreza e nos nossos desafios da pandemia, a nossa generosidade de dar da nossa pobreza é a lógica da missão. A missão se faz com os joelhos dos que rezam, das mãos que partilham e dos pés que partem. A Igreja no Brasil vai se despertando cada vez mais com projetos missionários

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A campanha missionária é apenas para recordar que somos uma missão, que somos missionários por natureza. Termina o mês de outubro, mas a missão não termina. A missão é permanente, continua na vida da Igreja. Temos toda essa caminhada para recordar que a vida é missão. Não podemos delegar a missão apenas para um grupo, um conselho, uma congregação, pois a missionariedade é o paradigma de toda a vida eclesial.

(…) Segundo São João Paulo II, a missionariedade é a grande causa da Igreja. O santo afirma que a crise na missão, no fundo, é uma crise na fé. Se não temos mais missionários e missionárias é porque no fundo ainda falta uma fé madura, também fruto da iniciação à vida cristã que deixou essa lacuna de encontro pessoal com Jesus. Depois que se faz esse encontro com Jesus, um caminho de conversão e seguimento da pessoa de Jesus, isso faz transbordar numa vida missionária, comprometida e de doação ao outro.

“A missão é o DNA da Igreja, a Igreja existe para a missão”. – Padre Maurício da Silva

noticias.cancaonova.com – Neste mês missionário, o Papa Francisco publicou sua nova carta encíclica, a “Fratelli Tutti”. Como este documentou veio ao encontro das reflexões propostas pelas POM para este mês? Quais contribuições esta encíclica gerou para a Campanha Missionária deste ano?

Padre Maurício: Dentro deste mês de outubro o Papa nos presenteou com a encíclica Fratelli Tutti. (…) Justamente no mês missionário vem esse presente do Papa recordando a humanidade que somos irmãos. O Papa, nestes oito capítulos, desenvolveu o que significa esta fraternidade universal, recordou que estamos em um mundo com muitas sombras, fechado, com uma crise ética, com uma cultura do descarte, que desvaloriza os direitos universais, a dignidade humana, sobretudo a dos mais pobres.

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Francisco fala também de perspectivas e a questão dos abandonados de hoje, um recomeçar é o que o Papa nos pede, além de um olhar para o próximo sem fronteiras, sem barreiras, muros e sim tentando criar pontes. Nessa encíclica, todos somos convidados a termos consciência da importância do diálogo aberto com a humanidade, que não se esgota em nossas fronteiras e que é universal, que tem a capacidade de valorizar olhares diferentes, perspectivas diferentes. Convida-nos também a buscar um mundo mais aberto, um projeto global: ter um coração aberto ao mundo inteiro.

Essas janelas se abriram no mês de outubro, uma delas é a da comunicação – acentuada nessa campanha missionária ocorrida durante a pandemia, que tem grande importância juntamente com as redes sociais, o diálogo nesse tempo que é muito difícil para nós. Criamos muitas pontes e abrimos muitas janelas. Espero que saíamos do mês de outubro com a consciência de que a vida é uma missão, a Igreja existe para a missão.

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