Paróquia congolesa de Bienheureuse-Anuarite foi atacada na noite do último domingo, 27, pela milícia das Forças Democráticas Aliadas; massacre deixou dezenas de mortos
Da Redação, com Vaticano

Funeral das vítimas do ataque à paróquia de Bienheureuse-Anuarite/ Foto: Vicario Parrocchia Colpita Ieri Don Liringa
O vigário paroquial de Bienheureuse-Anuarite – no povoado de Komanda, na República Democrática do Congo, padre Dieudonné Liringa falou sobre o ataque que aconteceu no local na noite do domingo, 27. O atentado foi de autoria de membros das Forças Democráticas Aliadas (ADF) e deixaram 32 mortos, incluindo crianças. O funeral aconteceu nesta segunda-feira, 28.
Padre Dieudonné recordou os eventos que antecederam o ataque. Na sexta-feira, 25, o presbítero contou que os jovens da Cruzada Eucarística estavam na paróquia para iniciar os preparativos para o Jubileu do dia seguinte. Eles passaram a noite no local, prepararam a Santa Missa da noite e concluíram a novena que haviam iniciado. No sábado, 26, houve a Santa Missa do Jubileu de Prata, para celebrar o 25º aniversário da chegada do movimento da Ação Católica, Cruzada Eucarística, em Komanda. Após a celebração, houve um festejo. Depois, a delegação diocesana partiu para Bunia.
Por volta da 1h da madrugada, o sacerdote foi avisado de que havia um incêndio no bairro. Depois, ouviu o som de tiros. “Não havia como sair da comunidade. Ficamos lá até as 4h40. Depois de ligar para algumas pessoas, as redes de celular foram interrompidas. Mais tarde, saímos para ver o que havia acontecido durante a noite. Encontramos algumas pessoas que nos disseram que a cruzada de Komanda havia terminado. Foi então que começamos a entender que nossos jovens, nossas mães, nossos pais que tinham vindo para o Jubileu, haviam sido massacrados”, lamentou.
“Fomos ao local onde eles passaram a noite, a cerca de 500 metros da igreja paroquial, em um dos grandes salões que a paróquia usa na estrada principal. Então, os militares chegaram para contar os corpos. Algumas pessoas ainda respiravam; nós as levamos para o hospital. Também outras pessoas foram levadas para o hospital. Durante todo o domingo, tentamos entender o que fazer, esperando as autoridades até quase meio-dia. Então, sepultamos os corpos. Esperamos até hoje porque era preciso abrir as covas e celebrar uma Missa para acompanhá-los”, recordou padre Dieudonné.
Vítimas
As vítimas foram cristãos católicos, membros do movimento Ação Católica – Cruzada Eucarística da paróquia Bienheureuse Anuarite em Komanda, na Diocese de Bunia. Entre as vítimas estão pais e mães, que muitas vezes entraram no movimento ainda jovens, e depois crianças. Há também crianças que estão desaparecidas.
“De acordo com os relatos das crianças que retornaram, que conseguiram escapar das mãos de seus sequestradores, ainda há crianças por perto. Mesmo agora, aqui, há uma criança que retornou e nos disse que conseguiu se esgueirar para o mato e passou a noite lá. Hoje, ela voltou para casa”, comentou padre Dieudonné.
O presbítero frisou que ainda não se sabe a causa do ataque. Ele afirmou que os serviços de segurança dizem que foram as Forças Armadas da África Austral (ADF). “Tentamos entender por que eles vieram atacar os jovens, os membros do movimento da Cruzada Eucarística da Igreja. Quem os informou da presença dessas pessoas? Não entendemos. Eles atacaram os membros desse movimento enquanto dormiam, eles os massacraram”.
Na Santa Missa do funeral, o sacerdote destacou que em sua homilia, disse que Deus acolhe as almas em seu Reino. As leituras do Evangelho foram retiradas das Bem-Aventuranças. “Eles foram mortos porque eram mansos. Foram mortos porque seguiram o Senhor, por causa de sua fé, porque concordaram em vir celebrar este Jubileu. E morreram. São vítimas de sua fé em Cristo presente nos Sacramentos”, disse.
A paróquia contabilizou 32 mortes, 24 das quais foram sepultadas em uma vala comum no terreno da paróquia. Os outros oito corpos foram recuperados por suas famílias.
Proximidade do Papa
Em seu telegrama ao presidente dos bispos congoleses, o Papa disse que a tragédia impulsiona a Igreja a trabalhar ainda mais pelo desenvolvimento humano integral das pessoas martirizadas desta região. Padre Dieudonné frisou que Leão XIV, como Pastor, compartilha da dor do povo congolês.
“Ele nos apoia nestes tempos difíceis, e esperamos que estas palavras do Papa continuem a nos sustentar em nosso trabalho pastoral, em nossas atividades em grupo, e nos encorajem a seguir em frente para um dia redescobrir a paz que buscamos e o desenvolvimento integral da pessoa humana”.
Jubileu e o sangue dos cristãos
O sacerdote desejou que o Ano Jubilar traga paz aos jovens e ao mundo inteiro. Ele enfatizou que o Jubileu é um ano em que todos devem retornar ao Senhor. Aos jovens que celebrarão este Ano Santo, ele desejou que continuem a rezar pela paz no mundo.
“Há massacres não só aqui, mas também em outros lugares. Pensamos em Gaza e na Ucrânia, em todos os lugares. Nossa esperança é que um dia Cristo, o Príncipe da Paz, nos conceda esta paz prometida a todos os que o seguem”, afirmou.
Por fim, padre Dieudonné pediu aos jovens que participarão do Jubileu, que intercedam pelos católicos que se encontram em áreas onde a morte pode ocorrer a qualquer momento, onde proclamar a Palavra de Deus pode ser difícil devido às circunstâncias e às limitações:
“Que possamos nos apresentar como verdadeiros profetas que anunciam Cristo e a verdade sem medo do martírio, para testemunhar a nossa fé, como estes jovens do nosso país que testemunharam a sua fé amando Cristo até à morte”.