Texto foi entregue ao Papa e apresentado em coletiva de imprensa no Vaticano; documento reúne preocupações da Igreja com crise climática em vista da COP30
Da Redação, com Vatican News e Boletim da Santa Sé

Papa Leão XIV recebe comissão em audiência nesta terça-feira, 1º / Foto: Vatican Media/IPA via Reuters Connect
Em vista da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP30) que será realizada em Belém (PA), as Igrejas do Sul Global produziram um documento contendo alertas diante do colapso climático que afeta as comunidades mais vulneráveis do mundo.
Intitulado “Um apelo pela justiça climática e a Casa Comum: conversão ecológica, transformação e resistência às falsas soluções”, o documento foi apresentado ao Papa Leão XIV em uma audiência realizada nesta terça-feira, 1º. Entre os presentes no encontro esteve o arcebispo de Porto Alegre (RS) e presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho, Cardeal Jaime Spengler.
Posteriormente, o texto também foi apresentado em uma coletiva na Sala de Imprensa da Santa Sé. Em sua intervenção, o Cardeal Spengler destacou que o documento não é um gesto isolado, mas fruto de um discernimento coletivo entre as Igrejas do Sul Global – Ásia, África e América Latina.
“O documento contém os principais pontos de defesa, propostas e denúncias feitas pela Igreja, de acordo com o Magistério do Papa Francisco e do Papa Leão XIV, em relação à crise climática e às questões que estão sendo discutidas na COP30”, frisou o presidente do Celam.
Conversão ecológica

Cardeal Jaime Spengler durante coletiva de imprensa para apresentação do documento / Foto: Reprodução Vatican News no YouTube
Ele também afirmou que o texto denuncia o mascaramento de interesses sob nomes como “capitalismo verde” e “economia de transição”, que perpetuam lógicas extrativistas e tecnocráticas. “Rejeitamos a financeirização da natureza, os mercados de carbono, as ‘monoculturas energéticas’ sem consulta prévia, a recente abertura de novos poços de petróleo, ainda mais grave na Amazônia, e a mineração abusiva em nome da sustentabilidade”, expressou Spengler.
Diante disso, o cardeal reafirmou o compromisso da Igreja em educar na ecologia integral, acompanhar as comunidades que sofrem e permanecer vigilantes com um Observatório de Justiça Climática aos cuidados da Conferência Eclesial da Amazônia (Ceama) e que promoverá, entre outros estudos, o monitoramento dos níveis de carbono no país.
“Estamos convencidos de que a conversão ecológica não é uma opção para os cristãos, mas um chamado do Evangelho, e acreditamos, com a esperança pascal, que ainda é possível mudar de rumo. Faremos isso com os pés no chão e o coração no Reino”, concluiu.
Transformação de corações
O arcebispo de Gon e Daan, na Índia, e presidente da Federação das Conferências Episcopais da Ásia (FABC), Cardeal Felipe Neri Ferrão, declarou na coletiva que a Ásia se une ao clamor global por uma transformação que não seja apenas técnica, mas ética, profética e profundamente humana.
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“Nossa mensagem hoje não é diplomática, é pastoral. É um chamado à consciência diante de um sistema que ameaça devorar a Criação, como se o planeta fosse apenas mais uma mercadoria. (…) Não é apenas uma questão de mudar políticas; é uma questão de mudar corações”, ressaltou.
Diante disso, pontuou o cardeal, a Igreja deseja promover soluções e alternativas como programas educacionais, novos caminhos econômicos baseados no decrescimento, economias circulares, espiritualidade ecológica, políticas de proteção, acompanhamento de mulheres e meninas e fortalecimento de redes inter-religiosas para a defesa da vida.
“A África é um continente saqueado”
Na sequência, o arcebispo de Kinshasa na República do Congo e presidente do Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagascar (SECAM), Cardeal Fridolin Ambongo Besungu, expressou que “a África não é um continente pobre, é um continente saqueado”.
“É por isso que este documento que hoje apresentamos, como uma reflexão comum e um apelo à ação na preparação para a COP30, não é apenas uma análise: é um grito de dignidade. Nós, pastores do Sul, exigimos justiça climática como um direito humano e espiritual”, manifestou o cardeal.
Segundo Ambongo Besungu, a Igreja na África está comprometida em fortalecer a espiritualidade do cuidado, formar novas gerações em uma ética ecológica e construir uma aliança intercontinental do Sul para falar a uma só voz: “o tempo da indiferença acabou”. “A África quer viver. A África quer respirar. A África quer contribuir para um futuro de justiça e paz para toda a humanidade. E o fará com sua fé, sua esperança e sua dignidade invencível”, acrescentou.
Igreja em saída
Por fim, a secretária da Pontifícia Comissão para a América Latina, Emilce Cuda, destacou a fé renovada em Deus, a firme confiança na humanidade e o clamor por uma nova justiça ambiental como a mais alta forma de caridade manifestados pelos três cardeais. Ela recordou ainda a campanha “A vida está por um fio”, lançada pelo Celam em dezembro.
“A apresentação deste documento hoje, no âmbito da COP30, faz parte desse processo em que, a partir da América Latina, foram construídas pontes comunitárias com as conferências episcopais da África e da Ásia”, observou, acrescentando que, “como apóstolos missionários de uma Igreja sinodal em saída, iremos à COP30 para construir essa paz em meio a essa guerra fragmentada contra a Criação, onde muitos estão morrendo e ainda mais morrerão se não agirmos agora”.