Moçambique

Igreja denuncia ameaças de extremistas islâmicos em Cabo Delgado

Grupos jihadistas atearam fogo em vilarejos e campos na província de Cabo Delgado; ações culminaram no êxodo de milhares de pessoas

Vatican News

Mais uma vez o Bispo de Pemba, o brasileiro Dom Luís Fernando Lisboa, denuncia internacionalmente o êxodo de milhares de pessoas que deixam suas casas sob a ameaça e a devastação de grupos extremistas islâmicos armados.

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O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados prevê que até dezembro, na província de Nampula, haverá 40 mil pessoas deslocadas. De Maxixe, na província de Inhambane, o Padre Roberto Maver, Superior Regional da Congregação da Sagrada Família de Bérgamo explica o que está por trás dos conflitos, embora a comunicação interna no país seja quase inexistente.

Os recursos do território

“A província de Cabo Delgado é uma das regiões mais ricas do país: com pedras preciosas, rubis de Montepuez, a presença do gás em Palma, uma das cidades mais ao norte. Porém, os rendimentos das jazidas de minérios estão nas mãos de poderosos locais ou multinacionais que exploram o território”, explica o religioso. A economia familiar é baseada no cultivo de hortaliças e na pesca, que é muito frutífera. Nos últimos meses, a situação tornou-se dramática: as populações, especialmente das ilhas Quirimbas, foram obrigadas a deixar suas terras e irem à Pemba, a capital.

Os interesses geopolíticos em jogo

Em Capo Delgado, as razões da tensão são vários: além dos conflitos locais endêmicos, há o aspecto que tem a ver com a extração de rubis e o nascimento do grupo armado islâmico radical. “Com a chegada, em 2017, da empresa contratada e a necessidade de legalizar a atividade de mineração, criou-se um antagonismo com os garimpeiros clandestinos”, destaca o Padre Maver. A polícia tentou acabar com esse tipo de conflito.

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“O grupo armado que vem criando problemas desde 2017, e que neste ano destaca-se mais claramente, a princípio só se chocava com as forças armadas moçambicanas, com o tempo a violência foi dirigida contra a população local que é forçada a fugir. As forças de defesa querem garantir a paz para, é claro, garantir a produtividade das economias da região. Infelizmente, nem sempre é fácil e a instabilidade é enorme”.

Jovens recrutados à força, sem saber seu destino

“Os interesses do grupo armado são ainda mais difíceis de entender”, diz Maver. “Estamos inclinados a pensar que eles querem criar um Estado dentro de um Estado”. Eles também são responsáveis pelo sequestro, recentemente, de duas religiosas, mais tarde libertadas, e pela conquista da cidade portuária de Mocimboa da Praia.

“O fato de terem conseguido tomar posse de um porto que permite a chegada do exterior de pessoas ou outro material é preocupante – lamenta Maver – e o estado moçambicano está tentando enfrentá-los, mas se encontra despreparado. Talvez – supõe – não queira recorrer a uma intervenção internacional para demonstrar a própria força e autonomia”. Os grupos extremistas, bem organizados e com meios e armas muito sofisticadas, contam com as aflições dos jovens moçambicanos para recrutá-los e criar uma rede de informadores nos vilarejos, em troca de dinheiro. Obrigados a partir, muitos deles não voltam mais. Nestes dias em Maxixe foram celebrados três funerais com caixões vazios, porque nem mesmo os corpos são enviados aos familiares.

As ajudas aos deslocados e os temores dos missionários

A Cáritas diocesana de Nacala, é assediada todos os dias por centenas de pessoas de Cabo Delgado. Há cerca de 300 mil pessoas desalojadas em absoluta precariedade”, diz-nos novamente o missionário. “Na cidade eles não encontram condições muito melhores e as pessoas oferecem o pouco que têm”. A ajuda oferecida por instituições privadas, pela Cáritas e pela Igreja local é insuficiente para garantir uma condição de vida aceitável”. A área afetada pelo conflito também é problemática para as missões. Os religiosos não abandonaram a população, ficaram perto dos que sofrem. Mas quando a situação se tornou mais perigosa, prevaleceu a prudência e eles se retiraram para uma comunidade mais tranquila em lugar seguro. “O bispo está acompanhando de perto todos os que são vítimas desta fuga forçada – conclui Maver – e os próprios missionários na esperança de que esta dura prova seja superada”.

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