Último dia do mês dedicado a Sagrada Escritura é voltado para São Jerônimo, presbítero e doutor da Igreja; especialista destaca fatos marcantes
Fernanda Lima
Da Redação
A data que encerra o mês da Bíblia destaca a vida de São Jerônimo, sacerdote, teólogo, escritor, filósofo, historiador e exegeta, ou seja, que estudava e interpretava os textos sagrados. Ele fez a primeira tradução da Bíblia do hebraico e grego para o latim, língua falada pelo povo.
Essa tradução da Bíblia para o latim, chamada Vulgata, tornou-se a versão oficial da Bíblia para a Igreja Católica por muitos séculos. Isso produziu grande influência na cultura e teologia ocidental.
São Jerônimo tinha uma célebre frase que dirigia aos seus fiéis e a quem o escutava: “Ignorar as Escrituras é ignorar a Cristo”.
O especialista em Bíblia e mestre em teologia espiritual, Padre Antônio Carlos Ferreira, CMF, lembra do longo tempo investido pelo santo na tradução da Sagrada Escritura. “Jerônimo começou a tradução por volta de 390 d.C. e trabalhou nela ao longo de várias décadas. A tradução completa levou cerca de 15 a 20 anos, mas ele continuou a revisá-la até sua morte em 420 d.C.”, sublinhou.
Além de ser conhecido como o santo que traduziu a Bíblia, outros fatos marcaram a vida deste santo. “Ele estudou e traduziu obras clássicas. Escreveu extensas obras teológicas, cartas e tratados, contribuindo para a patrística cristã. Sua vida foi rica em atividade intelectual, espiritual e pastoral. Isso consolidou seu legado como um dos grandes doutores da Igreja”, enfatizou.
No Brasil
Padre Antônio Carlos explicou como aconteceu a primeira tradução da Bíblia para o português aqui no Brasil. “Em nosso país, foi realizada por João Ferreira de Almeida, em meados do século XVII. Almeida começou a traduzir a Bíblia em 1681, focando inicialmente no Novo Testamento. Isso teve um papel significativo no desenvolvimento do protestantismo no Brasil. A primeira tradução completa da Bíblia para o português, realizada por católicos no Brasil, foi a do Padre Antônio Pereira de Figueiredo e foi publicada entre 1778 e 1790”, comentou.
Essa primeira tradução católica feita pelo padre Figueiredo foi a partir da Vulgata Latina. O Novo Testamento foi publicado entre 1778 e 1781, em seis volumes; e o Antigo Testamento, entre 1782 e 1790, em 17 volumes, completando a Bíblia, ao todo, em 23 volumes.
Em 1959, foi publicada a primeira edição da Bíblia Ave-Maria, que logo tornou-se uma das mais populares. “Sua publicação foi um empenho da editora, sob direção dos Missionários Claretianos, com o objetivo de democratizar o acesso à Palavra de Deus. Foi realizada a partir dos textos originais em hebraico, aramaico e grego, com o auxílio de estudiosos e monges beneditinos da Bélgica”, explica padre Antônio.
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Diferentes traduções
De acordo com o especialista, diversos fatores influenciam nas diferentes traduções em muitas versões da Bíblia. “O primeiro aspecto é que existem inúmeros manuscritos e versões dos textos em hebraico, aramaico e grego. Os tradutores podem escolher quais textos usar como base. Outro fator é a abordagem adotada pelo tradutor que variam entre traduções literais (que buscam manter a forma original) e traduções mais dinâmicas (que priorizam o significado e a influência em língua moderna)”, destacou.
Padre Antônio Carlos recordou que palavras e expressões podem ter significados diferentes conforme a época e o público. “As traduções são influenciadas pelo contexto cultural e pelas mudanças na língua ao longo do tempo”, disse.
Curiosidade
O profissional que faz a tradução da Bíblia é chamado tradutor bíblico. O sacerdote esclareceu que a equipe é formada por especialistas em diversas áreas, como teologia, linguística e história. “O processo é complexo e exige grande conhecimento e sensibilidade por parte dos tradutores. Tudo deve ser cuidadosamente planejado para garantir que a tradução seja fiel ao espírito e à letra do texto original, respeitando ao mesmo tempo as necessidades e a linguagem do público alvo”, concluiu.