O prefeito do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral falou durante a reunião em Roma entre os bispos anglicanos e católicos de todo o mundo, por ocasião da Semana pela Unidade dos Cristãos
Da redação, com Vatican News
A XVI Assembleia geral ordinária do Sínodo dos Bispos, realizada em outubro passado, “foi mais plenamente um Sínodo dos Bispos do que as 15 sessões anteriores”. Foi o que afirmou o cardeal Michael Czerny, prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, falando à Comissão Internacional Anglicana-Católica para Unidade e Missão, reunida na Casa Pastor Bonus, em Roma, por ocasião da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. O cardeal disse isso em resposta às objeções levantadas de que a presença de não-bispos na Assembleia, portanto de religiosos e religiosas, padres e leigos, poderia distorcer a identidade do Sínodo. “Eu diria o contrário”, afirmou Czerny, “a participação deles enriquece o Sínodo e o torna ainda mais episcopal, porque um bispo acompanhado é mais bispo do que um bispo isolado”.
No batismo, a igualdade fundamental de todos os cristãos
O fundamento da igualdade básica entre todos os participantes, continua o cardeal, é o batismo comum: “O Vaticano II ensinou, em termos inequívocos, que todos os batizados têm igual dignidade. Não pode haver hierarquia nisso: Deus não considera alguns mais batizados do que outros. Todos os batizados devem ser ouvidos; aqueles que impedem alguns de falar e só ouvem os outros pela metade não estão em sintonia com o Espírito Santo”. Dentro da Igreja, continua o prefeito, cada vocação precisa das outras e todas são necessárias, todas devem ser ouvidas “em um espírito de participação, corresponsabilidade e comunhão: as três palavras de ordem do Sínodo”.
A experiência da “conversa no Espírito”
O cardeal Czerny retorna à experiência que teve na Assembleia do Sínodo no Vaticano, onde aquela metodologia de escuta específica chamada “conversa no Espírito”, que havia sido experimentada primeiro em nível de Igrejas locais e depois na fase sinodal continental, foi aplicada em nível universal. Ele descreve os vários momentos de escuta e compartilhamento de cada um dos participantes em grupos de trabalho, em torno de um tema específico, intercalados com momentos de silêncio e oração pessoal, e observa que esse método “também incorpora uma ética, de igualdade”. E acrescenta: “O círculo – tínhamos mesas redondas, mas também poderia ser um círculo de cadeiras sem mesa – não tem posição superior; há um facilitador; todos os participantes ao redor da mesa redonda têm o mesmo status. Clero, membros de congregações religiosas, leigos jovens e idosos, mulheres e homens: havia um compromisso muito consciente com a igualdade fundamental entre os participantes”. Foi um teste que, segundo ele, “passou com louvor”.
Unidade sinodal
Há uma reciprocidade entre o ecumenismo e a sinodalidade, disse em uma ocasião o Cardeal Kurt Koch, prefeito do Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos, e o cardeal Czerny faz eco às suas palavras para reiterar que, assim como o batismo é o fundamento da sinodalidade, o ecumenismo também o é. E é importante conhecer “as diferentes formas de sinodalidade em outras tradições cristãs”. A assembleia de outubro passado, com a presença de delegados fraternos de outras igrejas e denominações, diz Czerny, foi uma oportunidade de comprovar a existência de um sensus fidei que abrange toda a “gama de comunhão”. Verificou-se que “somos um no Espírito” no que é essencial.
A escuta e a partilha de dons entre as Igrejas se faz necessária
“A colaboração entre todos os cristãos é crucial”, enfatizou o cardeal, “para enfrentar os desafios pastorais de nosso tempo. Em sociedades secularizadas, isso permite que a voz do Evangelho tenha mais força”. E, conforme declarado no Relatório Síntese do Sínodo citado por Czerny, é “um recurso para curar a anti-cultura de ódio, divisão e guerra que coloca grupos, povos e nações uns contra os outros”. Alguns aspectos ainda precisam ser esclarecidos a esse respeito, diz o prefeito, mas “o intercâmbio sinodal entre as comunhões cristãs é imensamente útil”. E ele conclui citando as palavras de um delegado protestante: “A conversa no Espírito mostra o quanto somos capazes de receber e dar se convidarmos uns aos outros para processos de discernimento nos quais tentamos chegar a um acordo para enfrentar os desafios atuais.”