Padre Alexandre Pinheiro conta sua experiência com o amigo surfista Guido Schäffer e afirma: “O esporte pode ser também um momento de oração”
Fernanda Lima,
Da Redação
A coragem de viver o dia a dia sem perder de vista um único alvo: o céu. Quem conviveu com o jovem carioca, surfista e médico relata como foi sua experiência com Guido Schäffer. Padre Alexandre Pinheiro é mestre em direito canônico e doutor em Teologia, e conta como nasceu a amizade com o jovem surfista. “Conheci o Guido, em 1998, no grupo de oração ‘Fogo do Espírito Santo’ em Ipanema. Eu o vi pela primeira vez falando para dezenas de jovens sobre como escutava Deus”, afirma.
Memórias de um amigo
O sacerdote também declara que, naquela noite, Guido testemunhou uma experiência marcante. “Em uma viagem de surfe ao sul do Brasil, ele pediu um sinal a Deus para saber se estava no caminho certo. Um pescador que ele conheceu na praia estava encantado ao ouvi-lo falar de Cristo e resolveu presentear o Guido com uma imagem de Jesus talhada em madeira. Para ele, essa foi uma resposta clara às suas orações”, explica.
Além de surfista, Guido também era médico. “O doutor Guido atendia as pessoas como médico do corpo e da alma, e as direcionava para Deus. Muitos jovens o acompanhavam nos seus trabalhos com os pobres e os doentes na Lapa e na Santa Casa de Misericórdia. Também havia momentos de lazer, com encontros de surfe e fraternidade nas praias do Rio”, ressalta o padre.
A forma jovial e despojada que Guido desenvolvia sua missão também chamava a atenção. “Ele pregava o Evangelho de bermuda e camiseta, usando as gírias dos surfistas”, diz o padre Alexandre, que também recorda como foi o momento em que Guido decidiu entrar no seminário. “Ele terminou o noivado e iniciou sua caminhada rumo ao sacerdócio, ainda atuando como médico. Em uma de nossas conversas, ele me disse que no, seminário, o seu sacerdócio seria conhecido no mundo inteiro”, partilha.
Ao comentar sobre o dia em que Guido faleceu, o sacerdote revela um fato significativo. “Ficamos surpresos com a notícia da sua páscoa num acidente de surfe. Hoje, o lugar é chamado de ‘Praia do Guido’. Sua mãe perguntou ao padre Javier: ‘A igreja precisa tanto de padres… Por que Deus levou meu filho?’. O sacerdote respondeu para ela: ‘Você deu à Igreja muito mais do que um padre. Você nos deu um santo!’. De fato, sua fama de santidade é cada vez maior em todo o mundo.
Um padre surfista
O sacerdote também fala sobre sua relação com o esporte aquático e conta como consegue encontrar Deus nesse meio. “Por causa da minha amizade com o Guido e a afinidade com os esportes, fui designado para celebrar missas na ‘Praia do Guido’, que fica no Quiosque do Cristo Redentor. Costumo praticar natação e surfe antes e depois da Missa. Além disso, também sou faixa preta em jiu-jitsu”.
Padre Alexandre revela sobre suas experiências com Deus enquanto pratica o esporte. “O contato com o mar me acalma e me ajuda a meditar na presença do Criador. O esporte pode ser também um momento de oração, trazendo-nos saúde para o corpo, mente e espírito”, afirmou.
Processo de Canonização
Ressaltando que a fase diocesana local no Rio de Janeiro já foi encerrada e que a causa de beatificação do Guido foi enviado ao Vaticano, padre Alexandre esclarece como está o andamento do processo. O Dicastério para as Causas dos Santos reconheceu suas virtudes heroicas e o declarou venerável. “Agora, resta o selo de Deus com a declaração de um milagre alcançado por sua intercessão, sem explicação pela ciência para que o venerável Guido seja declarado beato. Em seguida, será necessário um segundo milagre para que seja declarado santo”, concluiu.