Férias proporciona às famílias um maior tempo de convivência; profissional dá dicas de como aproveitar o tempo com qualidade, visando fortalecer as relações e as memórias afetivas
Julia Beck
Da redação
Para as famílias, as férias podem ser grandes oportunidades para a criação de memórias afetivas, construção de laços ou mesmo a retomada de laços. É o que afirma a psicóloga Elaine Ribeiro sobre este período entre dezembro e janeiro, em que muitos pais e filhos passam a conviver mais presencialmente.
A profissional frisa que a vida tecnológica tem dificultado a proximidade entre as pessoas, algo de suma importância na infância. De acordo com ela, a história viva e vivida ao longo do tempo, com pessoas importantes, ajuda as crianças a construírem lembranças de afeto.
“Muitos de nós temos memórias do cheiro de mato, do bolo da vó assando no forno. Tudo isso vai sendo construído aos poucos. A memória afetiva é de extrema importância e valor no desenvolvimento infantil, porque é por meio dela que as crianças aprendem sobre suas emoções e as novas descobertas vão propiciando elementos afetivos, formativos e sociais”, explica.
É por isso que Ribeiro explica que alguns lugares, desenhos, cores, sabores, brinquedos, músicas e experiências trazem, na vida adulta, memórias positivas. “Nesse sentido, é nosso papel dar aos filhos novas experiências e boas memórias de sua infância e adolescência”.
Família: amor de Deus na terra
O membro do clero de Marília (SP) e assessor da Pascom no Regional Sul 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), padre Tiago Barbosa, recorda que a família é um presente que a bondade de Deus concede para que a humanidade experimente o amor em sua forma mais genuína.
“Ao nascermos de uma família, constatamos a preciosidade desta instituição que, efetivando o amor de Deus na terra, é chamada a continuar a generosidade da partilha e do afeto entre seus membros a fim de que a humanidade compreenda que a gratuidade do carinho é atitude natural de quem vive os laços familiares que são queridos pelo Altíssimo.”
A Igreja, que vive o Tempo do Advento, se prepara para a celebração do Natal. Segundo o sacerdote, recordar o nascimento de Jesus é recordar que o próprio Deus feito homem nasceu em uma família.
“A ‘sacralidade’ da Sagrada Família está justamente em preservar os vínculos de amor na gratuidade do afeto. Enquanto o mundo fechou as portas para José e Maria, o casal de Nazaré abriu o coração e, na humildade do exemplo, e também da estrebaria, apresentaram a todos nós a grandiosidade do amor! A Sagrada Família é exemplo para as famílias católicas porque viveram a inteireza do amor e, por isso, transmitem a nós o valor de nos entregarmos, sem reservas, aos cuidados daqueles que o amor de Deus nos confiou”, complementa.
Tempo de qualidade
O tempo e a proximidade levam à percepção das mudanças no outro, limites pessoais na maternidade e paternidade, além da necessidade de atenção e paciência, comenta a psicóloga. Este mesmo também, prossegue Elaine, pode levar a conflitos e situações que a distância nem sempre permite que sejam percebidos.
Diante disso, a profissional reforça o valor do tempo, principalmente o de qualidade. É por meio dele que “vamos notando qualidades, habilidades, capacidades nos filhos que vão crescendo”, indica.
Elaine pontua que alguns pais não se sentem preparados para esse momento de férias e proximidade. Muitos se acham pouco criativos ou se mostram preocupados em fazer coisas com muito dinheiro, quando na verdade, a psicóloga reforça que conviver é o mais importante.
Padre Thiago sublinha que o tempo é uma das maiores dádivas que Deus dá. “Nele, se nos entregarmos com amor, viveremos a intensidade das relações; assim, às famílias eu peço: dediquemos nosso tempo uns aos outros para que os laços do amor de Cristo, que desejou que nascêssemos numa família como ele nasceu, sejam fortalecidos e assim descubramos que o essencial de nossas vidas não está naquilo que temos, muito menos no que o nosso dinheiro pode comprar, mas reside justamente no amor que podemos ser uns para com os outros”.
Viajar ou ficar em casa
De acordo com a psicóloga, viajar em família é uma excelente oportunidade não apenas para criar memórias, mas ensinar a planejar, estabelecer roteiros, valorizar os esforços da família para estarem juntos.
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“Não apenas viagens caras, mas aquela ida para um outro lugar para visitar parentes ou pessoas queridas, envolve planejar tempo, dinheiro, arrumar malas, organizar o tempo, as idas e vindas. Em tudo isso a família pode e deve estar envolvida. Além disso, nas viagens nem tudo sai como o previsto e lidar com essas situações também nos treina capacidades de adaptação, resiliência, conflitos e superação”, afirma.
Para quem não vai conseguir realizar uma viagem em família nas férias, Elaine sugere que pais e filhos realizem atividades ao ar livre, esportes, jogos de tabuleiro, cozinhem juntos, inventem coisas, saiam para caminhar, comam fora, tomem um sorvete, acampem no quintal de casa, convidem amigos para assistir a um filme em casa.
Enfim, a profissional ressalta que ser criativo ajuda a vencer os limites e a atratividade que o mundo on-line dá. “Mesmo que você não esteja o tempo todo com os filhos, porque trabalha, planeje o que podem fazer juntos e longe das telas. Em algum momento, vocês podem até jogar juntos, mas não fique o tempo todo nesse universo. Lembre-se que a criatividade não requer sempre ter muito dinheiro, mas dispor de um tempo para fazer as coisas de uma forma diferente”.
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Vencer a indiferença
O Papa Francisco tem insistido que a indiferença é um dos grandes problemas da contemporaneidade, alerta padre Thiago. Por isso, nessas férias e na vida cotidiana, o presbítero pede que pais e filhos não abram seus lares para o egoísmo e as vaidades. Para ele, não se pode deixar que a indiferença faça morada nas casas e nos corações.
Aproveitar a sensibilidade do Natal para deixar que o amor e a vivacidade brotem do presépio e tomem conta dos corações e das famílias, é o que indica o sacerdote. “Não sejamos indiferentes em nossas casas, antes, deixemos com que a verdade do amor nos aproxime e nos ajude a vivermos a intensidade dos momentos e de nossas relações familiares”.