50 ANOS

Evangelii Nuntiandi frisa potência da mídia para evangelizar, diz professor

Saiba mais a respeito da exortação apostólica sobre a evangelização no mundo contemporâneo, publicada por São Paulo VI e que completa 50 anos nesta segunda-feira, 8

Gabriel Fontana
Da Redação

A imagem é uma montagem: à esquerda está a foto de um homem de costas, com uma camisa onde está escrito "Pascom", usando um celular para filmar a celebração da Missa; à direita, a capa da exortação apostólica Evangelii Nuntiandi, publicada pela Edições CNBB.

Foto: Diocese de São José dos Campos/Reprodução Edições CNBB

O dia 8 de dezembro guarda alguns marcos na história da Igreja. Entre eles, completam-se 50 anos da exortação apostólica Evangelii Nuntiandi.

O documento, publicado por São Paulo VI em 1975, tem como tema a evangelização no mundo contemporâneo. Entre alguns aspectos, o texto trata especialmente da vocação evangelizadora da Igreja, ressaltando também a importância dos meios de comunicação que já estavam a transformar a sociedade da época.

De ameaça moral a potência evangelizadora

A imagem ilustra um homem branco, de barba e cabelos castanhos. Trata-se de Moisés Sbardelotto, entrevistado nesta matéria.

Moisés Sbardelotto / Foto: Arquivo pessoal

Professor universitário e coordenador do grupo de reflexão sobre comunicação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Moisés Sbardelotto recorda que a relação da Igreja com os meios de comunicação passou por mudanças profundas ao longo do século XX.

As cartas encíclicas Vigilanti cura (1936) de Pio XI, sobre o cinema, e Miranda prorsus (1957) de Pio XII, sobre o cinema, o rádio e a televisão, adotavam uma postura defensiva diante dessas mídias, vistas como potenciais ameaças morais ou ideológicas. Contudo, estes documentos já apresentavam alguns sinais de reconhecimento do papel dos meios de comunicação na formação cultural da sociedade.

O grande ponto de virada se deu no Concílio Vaticano II, quando foi publicado o decreto Inter mirifica (1963). O documento reconheceu oficialmente as “maravilhosas invenções da técnica” que abriram novos caminhos para a comunicação e também para a evangelização. Com os desdobramentos pós-conciliares, a Igreja se percebeu imersa em uma cultura midiática em evolução, tornando mais evidente o processo de midiatização da religião.

Potencializar a evangelização

É nesse contexto cultural e eclesial que São Paulo VI publicou a exortação apostólica Evangelli Nuntiandi, fruto do Sínodo sobre a Evangelização realizado em 1974. Segundo Sbardelotto, o documento marca um ponto decisivo na história da relação da Igreja com os meios de comunicação, pois reconhece explicitamente o papel central que os meios de comunicação assumiram no século XX.

Além disso, o texto enfatiza a necessidade de a ação evangelizadora incorporar estes meios de modo responsável e criativo. “São Paulo VI afirma que nenhuma etapa da dinâmica evangelizadora – como o primeiro anúncio e a catequese – pode ignorar esses meios. O documento não apenas legitima seu uso, mas o considera indispensável”, afirma o professor.

A Igreja viria a sentir-se culpável diante do seu Senhor, se ela não lançasse mão destes meios potentes que a inteligência humana torna cada dia mais aperfeiçoados.
– Evangelii Nuntiandi, n. 75

Em meio às diversas vias para anunciar a Boa Nova, São Paulo VI considerou os meios de comunicação como ambientes legítimos para desempenhar a missão evangelizadora, reconhecendo sua capacidade de fazer a mensagem chegar às multidões e potencializando o alcance da evangelização.

Ao mesmo tempo, porém, o Pontífice soube discernir o alcance e a profundidade da evangelização pelas mídias. “Ele insiste que a evangelização mediada não pode se contentar com comunicar para muitos, mas precisa chegar à consciência e ao coração de cada pessoa ‘como se fosse única, com tudo aquilo que tem de mais singular’ (n. 45), a fim de obter uma adesão e um compromisso realmente pessoal”, indica Sbardelotto.

A força do testemunho

O homem contemporâneo escuta com melhor boa vontade as testemunhas do que os mestres, dizíamos ainda recentemente a um grupo de leigos, ou então se escuta os mestres, é porque eles são testemunhas.
– Evangelii Nuntiandi, n. 41

Neste contexto, surge um outro aspecto importante da evangelização: a autenticidade do testemunho cristão. “A evangelização nasce de uma mudança interior, que se manifesta primeiramente como ‘proclamação silenciosa’ (n. 21) do Evangelho por meio da própria vida”, salienta o professor.

“Para o documento, evangelizar não é simplesmente transmitir doutrinas, mas compartilhar a própria experiência de encontro e de seguimento de Cristo”, prossegue Sbardelotto. “Isso implica adotar formas de comunicação que dialoguem com as linguagens culturais contemporâneas”, acrescenta.

Relação com a Canção Nova

A exortação apostólica Evangelii Nuntiandi também marca profundamente a história da Comunidade Canção Nova. Nascida para anunciar o Evangelho, muito da identidade foi inspirada pelo documento publicado por São Paulo VI.

O presidente da Comunidade Canção Nova, padre Wagner Ferreira, recorda que, à época da publicação da exortação apostólica, o então bispo de Lorena (SP), Dom Antônio Afonso de Miranda, apresentou a Evangelii Nuntiandi ao Padre Jonas Abib, então responsável pela Pastoral Juvenil da diocese.

A imagem é uma foto antiga, sépia, do Padre Jonas Abib e de Dom Antônio Afonso de Miranda.

Padre Jonas Abib e Dom Antônio Afonso de Miranda / Foto: Reprodução Instagram

Dom Antônio pediu ao Padre Jonas que aplicasse o documento junto aos jovens, pois os jovens são mais abertos às novidades e com eles é mais fácil de começar. A partir daí, o sacerdote começou o Catecumenato e, dois anos depois, sentiu o chamado a começar a Comunidade Canção Nova.

“A história da Canção Nova é marcada por esse documento”, afirma padre Wagner. “Nos Nossos Documentos, nos nossos Estatutos, deixamos sempre claro: a Canção Nova nasceu da Evangelii Nuntiandi”, salienta.

Evangelizar pelos meios de comunicação

Padre Wagner Ferreira observa também que foi por meio da Evangelii Nuntiandi que o Padre Jonas percebeu que Deus também queria a Canção Nova nos meios de comunicação.

À época, Padre Jonas já gravava alguns programas para rádios locais, utilizando este espaço para anunciar o Evangelho. Veio então a oportunidade de comprar a Rádio Bandeirantes, de Cachoeira Paulista (SP), e assim surgiu a Rádio Canção Nova.

“Foi quando o Padre Jonas percebeu que no número 45 da Evangelii Nuntiandi, São Paulo VI fala também da evangelização através dos meios de comunicação”, aponta padre Wagner. “Isso foi uma confirmação para o Padre Jonas de que a Canção Nova tem a missão de evangelizar, de forma preferencial, mas não exclusiva, pelos meios de comunicação”, conclui.

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