O projeto “Padres para a Igreja em Santa Catarina” começou a ser concebido em 2024 e quer cultivar uma cultura vocacional viva
Thiago Cutinho
Com colaboração de Lorena Araújo

Projeto Padres para a Igreja em Santa Catarina quer novos sacerdotes no Sul do país / Foto: Arquivo Pessoal
A necessidade de despertar novas vocações sacerdotais, a fim de ter padres que possam continuar coordenando e animando a ação evangelizadora levou à criação do projeto “Padres para a Igreja em Santa Catarina”. A ideia surgiu ainda em março de 2024, durante o CONSER, o Conselho Episcopal Regional Sul 4 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.
De acordo com padre Antonio Madeira, Presbítero da Diocese de Criciúma e Secretário Executivo do Regional Sul 4 da CNBB, o projeto é fruto da preocupação e do zelo pastoral dos bispos diante da crescente necessidade de padres nas diversas comunidades que compõem as dioceses. “A partir dessa provocação, avançamos por um caminho de discernimento por meio do CRP (Conselho Regional de Pastoral), que reconheceu a necessidade de um olhar mais atento e cuidadoso voltado à vocação presbiteral. Em seguida, percebeu-se a importância da criação de um Grupo de Trabalho (GT), composto por representantes das províncias eclesiásticas, da CRB, seminaristas, da FACASC (Faculdade Católica de Santa Catarina) e leigos”, explicou.
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Após a estruturação do projeto, os idealizadores elaboraram um cronograma para discutir as formas de aplicá-lo nas comunidades de base. “O projeto também foi apresentado aos seminaristas, coordenadores diocesanos do Serviço de Animação Vocacional, agentes da Pastoral da Comunicação e em outros espaços eclesiais, com o objetivo de sensibilizar e conscientizar sobre a urgência de promover uma cultura vocacional de forma transversal”, detalhou.
Povo sedento
O coordenador do projeto, padre Alexandre Amorim, lamentou que o número de vocações sacerdotais tenha diminuído, embora o povo siga sedento da presença e do cuidado pastoral dos padres. “Essa percepção, que se tornou ainda mais urgente com os dados das nossas dioceses, foi um dos principais motores para a criação do Projeto Padres para Igreja em Santa Catarina”, afirmou.

Integrantes do projeto Padres para a Igreja em Santa Catarina com Papa Leão XIV, em Roma / Foto: Vatican Media – Arquivo Pessoal
De acordo com o padre, o clero tem envelhecido e as ordenações não têm sido suficientes para levar adiante as demandas missionárias da Igreja contemporânea. “Mesmo que, num primeiro olhar, os números de presbíteros pareçam razoáveis, a distribuição etária e o número de seminaristas revelam um cenário preocupante para o futuro próximo. Daqui a dez anos, por exemplo, muitos dos nossos padres já estarão com idade avançada ou ‘aposentados'”, disse.
A realidade atual tem impacto sobre as vocações, comenta padre Alexandre. “A cultura em que os jovens estão inseridos, marcada por superficialidade, medo de compromissos duradouros e uma busca constante por sucesso rápido tem dificultado o florescimento de vocações. Mas não podemos esquecer: Deus continua chamando. O que falta, muitas vezes, é o ambiente certo para que esse chamado seja escutado, acolhido e amadurecido”, observou.
O projeto “Padres para a Igreja em Santa Catarina” vai de encontro a esta necessidade eclesiástica e se torna uma resposta concreta a esta demanda por novos sacerdotes. “O Projeto nasce desse clamor: queremos cultivar uma cultura vocacional viva, onde nossas paróquias, famílias e jovens sejam espaços férteis para a escuta do chamado de Deus. A urgência não é só institucional, é espiritual e comunitária. O futuro da missão em nossas dioceses depende das sementes que plantarmos hoje”, reforçou o padre e coordenador do projeto.
Não se perder nos devaneios e no medo
As vocações são despertadas ao longo da vida. É fundamental, segundo padre Antônio Madeira, dedicação à vida religiosa, às orações e participação ativa na comunidade eclesial. “O discernimento vocacional precisa ser acompanhado, de preferência com a ajuda de um diretor espiritual, pois é nesse acompanhamento que se encontram luzes para o caminho. O fruto de um discernimento bem feito é a paz interior. É na convivência com a comunidade, ouvindo o chamado de Deus e sendo confirmado pela própria Igreja, que a vocação vai se moldando e amadurecendo com serenidade”, aconselhou.
Padre Antonio pede ainda que os pais não tenham medo ou dificuldades em aceitar a vocação dos filhos. “A vocação é um dom, uma iniciativa de Deus que brota no coração da pessoa e a conduz à plenitude da vida. Quando um filho ou filha sente o chamado de Deus — seja para a vida sacerdotal, consagrada, missionária ou outro caminho vocacional, ele está respondendo a algo que o realiza profundamente, que o faz feliz”, exaltou o sacerdote.
Jubileu
O projeto toma forma num ano de grande importância para a Igreja, que celebra o Jubileu da Esperança. “Não é por acaso”, afirmou padre Alexandre. “O projeto é uma peregrinação vocacional. Ele nasce da inquietação de quem ama a Igreja e percebe que o tempo é agora, as vocações são agora, o chamado de Deus é agora. Não podemos esperar mais. A esperança de um presbitério vivo, jovem e cheio de ardor missionário não é uma utopia, é uma construção que começa hoje, com ações concretas e com o testemunho das nossas comunidades”, analisou.
O Projeto Padres para Igreja em Santa Catarina foi elaborado a partir de escuta, estudo e colaboração de diversas pessoas ligadas às dioceses do Regional Sul 4. As ações e trabalhos propostos podem ser acompanhados por meio dos perfis em redes sociais do projeto, @projetopadresparaigrejasc e @cnbbsul4.