Papa instituiu o Domingo da Palavra de Deus em 2019; data é dedicada à celebração, reflexão e divulgação da Palavra
Thiago Coutinho
Da redação
Neste domingo, 24, a Igreja celebra o Domingo da Palavra de Deus. No Vaticano, o Papa Francisco presidirá a celebração eucarística na Basílica de São Pedro por ocasião da data instituída por ele em setembro de 2019, com a Carta Apostólica, em forma de Motu próprio “Aperuit illis”. O documento institui o III Domingo do Tempo Comum como dedicado à reflexão, celebração e divulgação da Palavra.
“A celebração desse domingo, em primeiro lugar, deve ser feita por meio da participação na Santa Missa ou na Celebração da Palavra ou ao menos fazendo a meditação pessoal dos textos da liturgia dominical”, explica o bispo da diocese de Garanhuns (PE), Dom Paulo Jackson Nóbrega de Sousa.
Por conta da pandemia, a data este ano será comemorada de maneira mais contida, para assim preservar a saúde dos fiéis. “Como, neste ano, estamos ainda na situação de pandemia, a celebração desse domingo especial será bem limitada. Contudo, as comunidades, paróquias e dioceses, em outros anos, organizam programas especiais de rádio ou televisão, lives por meio das páginas eletrônicas das dioceses e paróquias, jornadas bíblicas, gincanas bíblicas, dia de formação, encontros de estudo, reunião dos grupos de Leitura Orante da Palavra de Deus, reunião de Círculo Bíblico ou outras atividades que, com criatividade, são propostas aos fiéis”, afirma Dom Paulo.
No dia 19 de dezembro passado, a Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos publicou uma nota sobre o “Domingo da Palavra de Deus”. Dom Paulo sintetiza o documento assinado pelo prefeito da Congregação, Cardeal Robert Sarah, , em 12 pontos, destacados a seguir:
1) Recordar o valor da Sagrada Escritura para a vida da Igreja e a relação entre Palavra e Liturgia;
2) Reler os documentos do Magistério que tratam da Palavra de Deus e a Introdução aos Lecionários, especialmente aquilo que diz respeito aos princípios teológicos, celebrativos e pastorais em torno do uso da Palavra de Deus na Missa;
3) Realizar a procissão solene de entrada da Santa Palavra de Deus antes da Primeira Leitura, ou do Evangeliário, no momento do Santo Evangelho;
4) Respeitar as leituras indicadas: nunca as substituir ou suprimir;
5) Recomenda-se o canto do Salmo Responsorial;
6) Preparar bem a homilia: exponha-se, partindo-se da Escritura, os mistérios da fé e da vida moral;
7) Valorizar o papel dos Ministros e Ministras da Palavra de Deus, como também daqueles que proclamam a Palavra nas Santas Missas; nada se faça de improviso;
8) Dar bastante importância ao silêncio para a meditação da Palavra proclamada;
9) Dar destaque especial ao ambão, como mesa da Palavra; evite-se usá-lo para comentários, avisos ou coordenação do canto;
10) Cuidado especial seja dado aos Lecionários: sejam simples e dignos; não sejam substituídos por folhetos ou subsídios litúrgicos;
11) Com a comunidade, sejam feitos encontros de formação sobre o uso litúrgico da Palavra de Deus durante o Ano Litúrgico;
12) Seja também uma ocasião para o aprofundamento da relação entre Palavra de Deus e Liturgia das Horas.
A Palavra de Deus e a pandemia
Ao instituir o Domingo da Palavra de Deus, o Papa Francisco pede que a Igreja desperte a consciência sobre a importância da Sagrada Escritura para a vida dos fiéis, especialmente na Liturgia. Em tempos de pandemia e todas as dificuldades que se originaram com ela, pode-se dizer que o pedido do Santo Padre se torna ainda mais oportuno, como concorda Dom Paulo.
“Muitos não têm tido condições de participar da Santa Eucaristia, mas mantêm a sua fé alimentada pela Santa Palavra de Deus. Cresceu imensamente, por exemplo, o número de bispos que, pela internet, cotidianamente fazem a meditação do texto do Santo Evangelho. Isso tem alimentado a fé do povo”, enaltece Dom Paulo. “No Brasil, um grupo de professores de Sagrada Escritura criou, por meio do Youtube, o Grupo de Reflexão Bíblica São Jerônimo, oferecendo a meditação da Palavra de Deus de cada dia. A Palavra faz o coração arder. E isso nos mantém na fidelidade à nossa fé”, reitera.
O Papa pediu ainda que a Sagrada Escritura seja dirimida e melhor esclarecida para que assim se torne acessível a toda a comunidade — inclusive destaca a importância do silêncio durante a celebração litúrgica.
“A palavra ‘homilia’ tem um aspecto de diálogo coloquial, de proximidade afetiva. Não é simplesmente um exercício do intelecto. Na homilia, unem-se três aspectos: a Palavra de Deus, o mistério litúrgico que está sendo celebrado e os apelos da vida da comunidade”, esclarece Dom Paulo. “É muito bonito também que tanto o Papa Francisco quanto o Cardeal Sarah têm insistido na importância do silêncio depois da homilia, para que a Palavra de Deus possa ecoar em nossas vidas e iluminar as decisões da semana que se abre a partir do Dia do Senhor”, reforça.
Lugar da Palavra
Na Igreja Católica, não existe nenhum sacramento sem a proclamação da Palavra de Deus, lembra Dom Paulo. A Liturgia é a fonte da qual os fiéis se alimentam da Mesa da Palavra e da Mesa da Eucaristia.
“É, portanto, central o lugar que a Palavra de Deus ocupa. O Papa Emérito Bento XVI, na Verbum Domini, nos diz que a Palavra deve ser acolhida a partir de três âmbitos: estudo, oração e missão. Esse deve ser o papel da Palavra de Deus na vida dos fiéis: objeto de estudo, mistério de comunhão e conteúdo fundamental do processo de evangelização”, aconselha o bispo.
E conclui: “Como diz o salmista: ‘Lâmpada para os meus pés é a tua palavra, e luz para os meus caminhos’ (Sl 119,105)”.