“São muitos os testemunhos de graças alcançadas”, afirma Dom José Ruy ao citar oração e novena pela beatificação de Dom Henrique
Julia Beck
Da Redação

Dom Henrique Soares /Foto: Diocese de Palmares
Há cinco anos, a Igreja no Brasil perdia, precocemente, um de seus bispos: Dom Henrique Soares. À frente da Diocese de Palmares desde 2014, até sua morte, o bispo faleceu após o agravamento de sua saúde, em decorrência de problemas respiratórios causados pela Covid-19.
A morte repentina, aos 57 anos de idade, gerou grande comoção popular. Entre os católicos, um pedido específico foi endossado: a abertura do processo de beatificação e canonização de Dom Henrique. Na época, a Igreja esclareceu que o processo, salvo uma particular dispensa papal, não poderia começar antes de decorridos pelo menos cinco anos da morte do candidato.

Clara Soares, irmã de Dom Henrique Soares /Foto: Reprodução Canção Nova
Agora, passado o tempo mínimo para a abertura do processo de beatificação e canonização, o amigo de Dom Henrique e bispo da Diocese de Caruaru (PE), Dom José Ruy Gonçalves Lopes, esclarece que ainda não há uma previsão para o início deste processo. Em setembro de 2020, ele oficializou um decreto canônico que aprovou a oração e novena pela beatificação de Dom Henrique.
Mesmo sem uma data firmada, a irmã do bispo falecido, Clara Soares, segue na expectativa: “É chegada a hora!”. “Rezo diariamente pedindo a abertura do processo de beatificação”, declara.
Graças alcançadas
Dom Ruy enfatiza que a Igreja é muito prudente. Ele explica que o período mínimo de cinco anos de espera é para que a “comoção social passe” e predomine o testemunho de vida daquela pessoa, daquele homem ou daquela mulher, para que, enfim, seja declarado santo ou santa. Neste período, a conduta e as virtudes são averiguadas.
“Terminados os cinco anos, somente Deus saberá quando será aberto esse processo”, afirmou o bispo de Caruaru. Dom Ruy recorda que Joana D’Arc esperou mais de 300 anos pela canonização, e que o processo não tem um prazo exato para todos. No entanto, ele conta que são muitos os testemunhos de graças alcançadas após a realização da oração privada – todos enviados no e-mail do bispo, que consta junto à prece. As graças são todas comunicadas à irmã de Dom Henrique, que está próxima do desenrolar deste processo. Segundo Dom Ruy, até o momento, há um milagre relatado.

Bispo de Caruaru, Dom José Ruy/ Foto: Diocese de Caruaru
Cada santo reconhecido pela Igreja provoca nos fiéis a certeza de que todos podem ser santos, acredita Dom Ruy. A pessoa se torna santa não por heroísmo, merecimentos ou virtuosismo, “mas, sobretudo, pela graça de Deus. Pela graça de Deus a gente pode melhorar de vida, a gente pode se converter e alcançar também a santidade”, reflete.
Quem foi Dom Henrique?
Para Clara, Dom Henrique Soares foi o “irmão mais velho” que era todo tímido. “Ele se sentia muito à vontade para puxar nossas orelhas quando necessário”, recorda ela ao citar a relação do bispo também com os outros irmãos. “Era alegre, brincalhão e adorava estar com a família. Era o ”tio padre” dos sobrinhos (…). Como filho, tornou-se ‘o pai de nossos pais’. Era sempre ouvido e havia um respeito mútuo”.
Desde 18 de julho de 2020, a irmã conta que vive uma saudade que não se mede, “avassaladora”. A decisão foi por viver o luto mergulhada na oração. “Só nela o meu coração se aquieta, mergulha na vontade de Deus e vive uma paz profunda”, acrescenta.
Dom Ruy fazia parte do mesmo regional da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) que Dom Henrique – o “Nordeste 3”. Foi através de amigos em comum (Dom Magnus Henrique Lopes – bispo de Salgueiro, e Dom Francisco Barros Falcão – bispo auxiliar do ordinariato militar) que os dois se aproximaram e estabeleceram um vínculo de amizade.
“Dom Henrique é aquele tipo de bispo que faz muita falta! Desde a sua morte precoce (…), ele permanece na memória afetiva de todos nós, não pela saudade, mas sobretudo pelo conteúdo, beleza e profundidade das suas pregações. Ainda hoje, as pessoas o escutam nas mídias, nas redes sociais. As suas pregações ainda costumam reverberar, isto é, fazer efeito, acalentar corações, catequizar, e isso, verdadeiramente, faz com que Dom Henrique continue vivo na memória, na alma e na vida da Igreja”, afirma o bispo de Caruaru.
Clara acrescenta que, após a morte do irmão, um imenso acervo de suas produções – textos, homilias, meditações, áudios, entrevistas, pregações – foram encontrados. “Uma imensa e gratificante surpresa. Ele estava começando a produzir seus livros. Ele dizia: quem vai dar importância às coisas que escrevo?”, lembra. À medida que os conteúdos estão sendo organizados, a família os tem disponibilizado para os fiéis. Entre eles está o livro “Os encontros de Jesus”, publicado em 2021.
Dados biográficos

Dom José Ruy e Dom Henrique Soares /Foto: Facebook Dom José Ruy
Dom Henrique Soares da Costa nasceu, no dia 11 de abril de 1963, em Penedo, Alagoas. Aos 18 anos de idade, ingressou no Seminário de Maceiro; em 1984, concluiu o bacharelado em filosofia pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal). No período de 1985 a 1989, foi noviço no Mosteiro de São Bento, na cidade do Rio de Janeiro, e no Mosteiro Trapista de Nossa Senhora do Novo Mundo.
Regressou para o Seminário de Maceió, em 1990, onde iniciou a faculdade de Teologia. No ano seguinte, foi para Roma e concluiu a Teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana, com mestrado em Teologia Dogmática. Foi ordenado sacerdote no dia 15 de agosto de 1992. Como sacerdote, foi reitor da Igreja Nossa Senhora do Livramento, em Maceió, de 1994 a 2009.
Em 1º de abril de 2009, foi nomeado pelo Papa Bento XVI como bispo auxiliar da Arquidiocese de Aracaju. Foi ordenado bispo no dia 19 de junho de 2009, por Dom Antônio Muniz Fernandes, arcebispo de Maceió. Seu lema episcopal era In Christo Pascere (“Apascentar em Cristo”). No dia 19 de março de 2014, o Papa Francisco o nomeou bispo da Diocese de Palmares.