18/07

Dois anos sem Dom Henrique Soares: testemunho de fé

“In Christo Pacere” (Apascentar em Cristo) era o lema sacerdotal de Dom Henrique Sores, que sempre esteve junto ao seu povo e clero e para eles foi pai e pastor

Mauriceia Silva
Da Redação

Dom Henrique Soares / Foto: Arquidiocese de Palmares

18 de Julho de 2022. Há exatamente dois anos falecia Dom Henrique Soares da Costa. O bispo de Palmares (PE) faleceu aos 57 anos em decorrência de complicações da covid-19. A partida inesperada surpreendeu tristemente muitos católicos de todo o país.

A irmã de Dom Henrique, Clara Soares, define o momento como um misto de sentimentos. “ A sensação de um vazio profundo, uma dor imensurável e ao mesmo tempo a certeza de que Nosso Senhor o quis para Si. Dentro de mim ressoava: sim Pai! Sim!”.

O pároco da Paróquia de Nossa Senhora das Dores em Maraial, da diocese de Palmares, padre Sidiny Figueiredo de Melo, se refere ao dia da partida de Dom Henrique como um dia muito difícil para todos da diocese de Palmares. Segundo o sacerdote, toda diocese rezava pela recuperação do bispo. 

“Acreditávamos piamente na recuperação dele. Na saúde, na restauração do quadro pra que ele voltasse pra casa. Realmente foi um dia muito doloroso, um dia que nos deixou marcados, pela ausência do nosso pai, do nosso pastor.” 

Padre Sidiny ressalta que o maior legado deixado por Dom Henrique foi o amor a Jesus e, consequentemente, à Igreja. “A fidelidade que ele tinha com o ministério, a capacidade que ele tinha de entender que, na pessoa dele, Cristo apascentava o seu rebanho.”

Padre Sidiny afirma que, em meio aos palmarenses, Dom Henrique era um bom pastor e que foi e continua sendo um bispo segundo o coração de Cristo, que realmente fazia as vezes do Nosso Senhor em meio ao povo.

“Ele sempre dizia assim que o bispo era o “anjo da Igreja”, aquele que tinha a missão de transmitir a mensagem de Deus. E verdadeiramente ele foi pra todos nós esse anjo. Nos transmitiu com palavras mas também com gestos, de modo especial com o carinho que tinha por cada um, o amor de Deus.”

O Leão de Palmares

Dom Henrique era chamado de Leão de Palmares porque a voz dele era uma voz que se fazia ouvir em todos os lugares, explica padre Sidiny. “Quando Dom Henrique falava, todos escutavam, do crente ao ateu, do intelectual ao mais simples todos paravam pra escutá-lo.” Assim, Padre Sidiny se refere a Dom Henrique como um “Leão” que defendeu e honrou a Igreja.

A paternidade de Dom Henrique ressoa de modo único sobre o sacerdócio de padre Sidiny. “Posso dizer que Dom Henrique pra mim é um pai, é uma inspiração. É alguém que permanece muito vivo em minha consciência e em meu modo de exercer o ministério”.

Tendo se passado dois anos do falecimento do bispo, na diocese de Palmares  continuam as marcas da passagem e da atuação de Dom Henrique. “Nós somos gratos a Deus por tudo aquilo que ele nos fez experimentar, quando esteve conosco. Ele bem dizia que era homem de uma esposa só e assim aconteceu. Dizia que não queria ir pra outra diocese, Deus tinha lhe dado essa igreja, e ele queria ser fiel até o fim a ela, e assim o fez. Então essa fidelidade na simplicidade, reconhecendo que na diocese de Palmares estava como ele dizia sempre, toda a Igreja de Cristo.”

O professor de história da Igreja, Felipe Aquino, conheceu Dom Henrique Soares de perto. Aquino recorda que uma das alegrias que teve com Dom Henrique foi a participação dele no programa “Escola da Fé”. 

“Pelo menos umas três vezes ele pôde participar comigo da Escola da fé. E nós conversávamos sobre muitos assuntos. Um dos assuntos que se alongava bastante no nosso programa era sobre Igreja, a importância da Igreja, a infalibilidade da Igreja, a Invencibilidade que a Igreja tem, os erros que aconteciam na Igreja, hoje inclusive, e outra coisa sobre a qual ele falava muito também é a teologia da libertação.”

Paternidade transcendente

Casamento de Sarah e Renato celebrado por Dom Henrique / Foto: Arquivo Pessoal

O casal Sarah Cavalcante Barros e Renato de Assis Barros teve seu casamento celebrado por Dom Henrique Soares, que na ocasião ainda era Padre Henrique. A partir dali surgiu uma grande amizade: o casal passou a contar com o sacerdote para acompanhamento espiritual. 

Após o casamento, o então padre Henrique continuou à disposição, atendendo o casal em confissão e também em direção espiritual. “Padre Henrique foi um pai para nós.” 

Essa paternidade fez toda a diferença na vida de Sarah e Renato. “No começo do matrimônio muitas vezes os casais têm pequenas dificuldades que não conseguem conciliar.  O fato de ter um diretor espiritual foi fundamental nos primeiros anos de matrimônio da gente.”  

Batizado do filho do casal Sarah e Renato feito por Dom Henrique / Foto: Arquivo pessoal

Por fim, Sarah afirma que o casal teve em Dom Henrique uma paternidade que transcende. “Nós temos um intercessor no céu, um pai espiritual. Nossos pais são vivos, mas quando ele faleceu, a dor a gente sentiu como a perda de um pai espiritual. É uma dor que a gente compreende, não deixa de doer porque é uma perda. Mas nós cremos que um dia nos reencontraremos no céu.” concluiu Sarah. 

Legado

Para o Professor Felipe Aquino, Dom Henrique deixou um legado muito grande porque ele era um homem que falava o que achava que tinha de falar. “Ele não tinha medo. Sobre todos os assuntos que apareciam na mídia, ele se pronunciava pesadamente contra o aborto, pesadamente contra tudo o que o mundo quer que a gente viva e não está de acordo com a lei de Deus.”

Os assuntos tratados por Dom Henrique Soares estão em suas pregações e livros publicados. “Dom Henrique um dia me procurou, dizendo que queria publicar seus livros pela nossa editora, Editora Cléofas. Claro que eu fiquei muito satisfeito pela confiança dele, e até hoje, nós já publicamos quatro livros dele”, conta o professor Felipe.

Segundo Aquino, um dos livros é “A liberdade para a qual Cristo nos libertou”, sobre a carta aos Gálatas, muito querida a Dom Henrique. “Eu gostava muito de ler os livros do Dom Henrique e gosto porque tem uma profundidade bíblica e teológica, e uma clareza de exposição, com aquele jeito dele fácil de falar”. 

Além disso, as pregações de Dom Henrique estão disponíveis na internet para quem desejar acessar.  “Todo o conteúdo que veicula na internet e outros meios de comunicação não tem o domínio da nossa família. Essa foi nossa decisão para que todos se sentissem livres para beber da fonte emanada por meu irmão.”, afirma Clara Soares. 

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Palavra do bispo de Caruaru

O bispo de Caruaru (PE), Dom José Ruy Gonçalves Lopes, destaca que Dom Henrique foi um místico, partindo de dois princípios: primeiro da sua fé em Cristo e, segundo, da sua oração. “Porque tinha fé e porque rezava ele tinha os olhos de Deus, sabia enxergar a realidade do mundo, sabia enxergar a vida das pessoas com os olhos de Deus”.

Dom Henrique era também doutor em Teologia Dogmática, então era um homem de grande conhecimento cultural e teológico. “Desse modo ele também procurava ultrapassar alguma coisa que era simplesmente do âmbito intelectual ou racional (…) Ele buscava as coisas de Deus, as coisas transcendentes, ele queria ver além das aparências”, acrescenta Dom Ruy.

O grande legado de Dom Henrique, segundo Dom Ruy, é seu testemunho de fé. “Um homem que amou profundamente a Deus, amou profundamente a Igreja”.

Em setembro de 2020, Dom José Ruy editou o decreto que oficializou a oração – para uso privado dos fiéis – pela beatificação de Dom Henrique Soares da Costa. O bispo lembra que a Igreja estabelece um tempo de cinco anos após a morte para que se possa entrar com o pedido de abertura de um processo de canonização.

“Estamos celebrando dois anos da sua partida para o encontro com Deus, portanto, ainda não temos um processo aberto. Temos, sim, uma oração pedindo que se abra o processo que, certamente, daqui a três anos, ou não, será aberto”.

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