Sacerdote e psicóloga comentam intenção de oração do Papa para este mês: as pessoas que sofrem de depressão; veja como ajudar quem lida com este transtorno
Julia Beck
Da redação, com colaboração de Elane Gomes
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Foto: kitzcorner by GettyImages
As pessoas que sofrem de depressão estão na intenção de oração do Papa Francisco neste mês de novembro. Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), a depressão é um transtorno comum, mas sério, que interfere na capacidade de trabalhar, dormir, estudar, comer e aproveitar a vida.
O transtorno é causado por uma combinação de fatores genéticos, biológicos, ambientais e psicológicos. Algumas pesquisas genéticas indicam que o risco de depressão resulta da influência de vários genes que atuam em conjunto com fatores ambientais ou outros.
Nem todas as pessoas com transtornos depressivos apresentam os mesmos sintomas. A gravidade, frequência e duração variam dependendo do indivíduo e de sua condição específica.
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A psicóloga, Geórgia Moura /Foto: Arquivo Pessoal
Segundo estudo publicado na revista científica The Lancet, de outubro deste ano, os casos de depressão e ansiedade cresceram mais de 25% no mundo em 2020 devido à pandemia da covid-19. No Brasil, uma pesquisa desenvolvida pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) constatou que 92,2% dos participantes da pesquisa apresentaram sintomas de depressão.
Incoerência faz adoecer
A psicóloga Geórgia Moura afirma que toda incoerência adoece e impede a saúde mental de homens e mulheres. De acordo com a especialista, tudo que colocamos no nosso dia a dia deve contribuir e ser coerente com a nossa escala de valores. “A rotina pode ser um meio de saúde e ajuda, desde que tenha a ver com você”, apontou.
Dentro deste conceito, a profissional constata que o maior desafio é descobrir quais são os seus reais valores. “Somos feitos de uma mentalidade, de um conjunto de pensamentos e sentimentos, jeito de pensar e governar a nossa vida”, comenta.
Para entender quais são os valores individuais de cada um, Geórgia afirma que é preciso também compreender que o ser humano apresenta três dimensões: a espiritual, mental e física. Ao adoecer em uma dessas dimensões, a probabilidade de também adoecer nas outras é grande.
Encarar a psicologia e psiquiatria como ciências que vão ao encontro do ser humano é essencial, destaca a psicóloga. “Muitas pessoas têm resistência ao tratamento. Muitos associam psiquiatria à loucura e acham que ir ao encontro de um profissional da área é se reconhecer louco, alerta.
Alerta do Papa
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Padre Edson Donizetti /Foto: Oratório São Luiz
O pároco da Paróquia Santa Luzia, localizada no Jardim Nordeste, em São Paulo, padre Edson Donizetti Castilho, Salesiano, frisa que o Papa Francisco é fiel à missão que recebeu de Deus, ao orientar seus filhos e filhas espirituais para que rezem pelas pessoas que enfrentam a depressão. “Ele nos alerta para uma situação que a cada dia se torna mais preocupante em todo o mundo”, ressalta.
O sacerdote recordou então São Paulo VI durante uma conferência que proferiu na Assembleia da ONU: “Igreja deve ser perita em humanidade”. Um dos ensinamentos do Concilio Vaticano II, também foi lembrado:
“As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no coração da Igreja” (Gaudim et Spes).
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Mundo da “pressa”
Em seu pedido de oração para este mês, Francisco comenta que a depressão causa desespero, esgotamento e desesperança. Padre Edson complementa destacando que o mundo de hoje é o da “pressa”, marcado por ritmos alucinantes e pela impressão de que estamos sempre correndo contra o relógio.
“As pessoas que vivem esses estados de depressão necessitam de uma ‘proximidade’, também física, que se explicite por atitudes de respeito, paciência, fé e oração. Mas isso, embora seja fundamental, não basta! Quem se faz próximo da pessoa necessitada de apoio deve/pode ajudá-la a compreender a necessidade de buscar também, em muitas circunstâncias, respaldo nas ciências humanas e médicas”, alerta.
Segundo o presbítero, não são poucos os estudos científicos que reafirmam a importância do afeto e também da fé em Deus no processo percorrido pelas pessoas em relação à recuperação da saúde.
Tabu na sociedade
A saúde mental vem deixando de ser um tabu na sociedade e também entre os cristãos. Padre Edson constata que qualquer pessoa pode ser alcançada por quadros depressivos. Também bispos, padres, freiras, agentes de pastoral.
“As causas que conduzem uma pessoa a essas situações são complexas; os cristãos, felizmente, nos últimos anos têm, cada vez mais, testemunhado uma atitude de abertura para a compreensão disso e contemplado as pessoas que passam por isso com mais misericórdia e compaixão”, constata.
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Segundo o sacerdote, é um tremendo equívoco pensar que uma pessoa depressiva chegou a essa situação porque tem dívidas com Deus, afastou-se d’Ele, está recebendo um castigo divino ou coisa parecida. “Nada disso! Acompanhamento terapêutico, afeto familiar e fortalecimento da experiência de fé são importantes aliados com o equilíbrio da pessoa”, sublinha.
Como ajudar
A psicóloga Geórgia conta que para ajudar e dar apoio a quem sofre com a depressão é preciso, primeiramente, estar forte. “Senão serão duas pessoas adoecidas”, alerta.
Depois, a especialista reforça que é preciso descobrir os valores do outro e respeitá-los. Ao perceber que a vida da pessoa está incoerente com seus valores, Geórgia aponta a necessidade de sugerir caminhos, além de ter paciência e força para amar a pessoa do jeito que ela está.
“Ajudar o outro a carregar a sua dor, guiá-lo para o caminho de cura para sair da depressão, este é o caminho”, afirma.
Padre Edson complementa: “Não julgue de forma precipitada! A possibilidade de você errar e cometer uma injustiça é muito grande! E muito menos condene a pessoa! Também não sinta pena; sinta compaixão”.
“A pessoa depressiva, de modo geral, luta contra alguma grande dor interior; uma dor que ela não sabe bem de onde vem! Precisa ser apoiada para entender isso… e encontrar formas para superar essa dor imensa que a torna triste faz com que se sinta incapaz, desesperançada e sem vontade de viver!”, concluiu o presbítero.