Superlotação dos hospitais e dificuldades para o atendimento dos doentes de Covid-19 são pontos sérios destacados pelos bispos
Kelen Galvan
Da redação, com colaboração de Danusa Rego
O arcebispo de Manaus, Dom Leonardo Steiner, disse, nesta terça-feira, 28, à Canção Nova que a situação na capital do Amazonas é bastante dramática. Ele explicou que, além da questão do novo coronavírus, a região vive uma época do ano em que acontece o “surto de virose” e isso tem contribuído para que os hospitais estejam lotados e as UTIs não tenham leitos disponíveis.
“Há um descuido diante do coronavírus, estamos percebendo que o sistema [de saúde] está entrando em colapso. Pessoas têm falecido em casa e o sistema dos cemitérios, para o enterro, não tem funcionado bem, dado ao grande número”, destacou Dom Leonardo.
Contudo, o arcebispo enfatizou a grande solidariedade que existe entre as pessoas, com o cuidado mútuo e disse que a Igreja local tem procurado acolher e acompanhar os moradores de rua, os povos indígenas, que vivem nas aldeias, e continua o trabalho, já realizado, com os migrantes.
Ele contou que indígenas que vivem na cidade – atualmente cerca de 35 mil estão nessa realidade – procuraram o arcebispado solicitando apoio, pois não tem a quem recorrer. “Nós continuamos trabalhando, servindo e procuramos consolar as pessoas”, afirmou o bispo.
Dom Leonardo lembrou o telefonema do Papa Francisco, no último sábado, 25, e disse que a palavra do Santo Padre tem ajudado muito.
“Ele mostrou realmente que é pastor, que ele tem um cuidado especial para com a Amazônia. Essa presença dele através de um telefonema é um grande consolo. E ao mesmo tempo, uma palavra de ânimo para que nós continuemos servindo e cuidando uns dos outros. E que nós permaneçamos todos unidos. Isso é o mais importante para o nosso futuro. E que Deus abençoe a todos nós”, concluiu o arcebispo de Manaus.
Marajó
A pandemia de coronavírus também preocupa a Igreja local da prelazia de Marajó, onde estão os municípios com os menores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil.
“Nós estamos numa realidade muito pobre e, neste momento de pandemia, precisamos de uma resposta específica para esta realidade, para que o povo não morra”, alerta o bispo local, Dom Frei Evaristo Pascoal Spengler, OFM.
O arquipélago de Marajó situa-se na foz do Rio Amazonas, entre as capitais Belém e Macapá, com um território maior do que Portugal, com 16 municípios e uma população superior a 560 mil habitantes, e o único meio de transporte é o fluvial.
“Para um ribeirinho chegar do interior da sua comunidade até a cidade leva mais de 20 horas, em alguns municípios. Aqui não há estradas, o transporte sempre é fluvial. E isso também significa muitas horas, um barco de Belém até Breves, no centro do Marajó, leva 12 horas”, conta o bispo.
Dom Spengler disse que o Marajó tem duas regiões bem distintas. Na região das ilhas, mais ao centro do arquipélago, o governo construiu um hospital de campanha no município de Breves. No entanto, a região dos campos está completamente desassistida, porque no planejamento do governo esses moradores deverão ser atendidos em Belém (PA).
“Há um problema sério que, desde domingo, todas as unidades de Belém estão completamente lotadas. Isso significa dizer que: se os moradores desta região têm de ser atendidos em Belém – mas não poderão sê-lo, significa que estamos escolhendo que esses serão mortos”, alerta o bispo.
Ele destaca ainda que, outro ponto crítico é que os moradores desta região não têm suporte para receber os benefícios do governo e precisam ir em embarcações lotadas até Belém, onde eles têm contato com o coronavírus e tornam-se focos de contágio.