Dia Mundial da Vida Consagrada será celebrado nesta terça; cardeal e padre destacam a criatividade dos religiosos nesse tempo
Julia Beck
Da redação, com colaboração de Lizia Costa
O Dia Mundial da Vida Consagrada será celebrado nesta terça-feira, 2. No Jubileu de Prata da data, instituída por São João Paulo II, é a primeira vez que a celebração ocorre em meio à pandemia da covid-19.
Em uma retrospectiva sobre o que mudou desde 2 de fevereiro de 2020, o Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, Cardeal João Braz de Aviz, afirma que os religiosos e religiosas aprenderam mais fortemente a utilizar os meios de comunicação. “Presencialmente, não pudemos fazer muita coisa”, recorda.
Atividades on-line
A utilização das muitas ferramentas on-line é classificada por Dom Braz como oportuna, diante da necessidade dos religiosos de pararem encontros e outras atividades. “Em anos anteriores, cheguei a visitar 30 países; neste último ano, não consegui visitar nenhum. Os encontros presenciais que estávamos acostumados a fazer não foram realizados, mas desenvolvemos outras formas de contato”.
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O cardeal brasileiro destaca, em especial, a realidade dos institutos religiosos do continente africano. De acordo com Dom Braz, atualmente, há 52 deles na África, estando 25 deles bem organizados. Ao notar a necessidade de maior contato e presença na realidade dos demais institutos, o prefeito da congregação vaticana lembra que encontros on-line foram propostos.
“Pude colher as angústias destes momentos que eles estão vivendo. O presidente da Confederação para os Institutos de Vida Consagrada da África pôde se sentir apoiado e disse que o dicastério se interessou por ele. Isso dá alegria para o nosso trabalho. (…) Não estamos parados, mas encontrando modos de nos encontrarmos virtualmente”, aponta Dom Braz.
Outra observação feita pelo cardeal neste tempo é a diminuição da chegada de correspondências físicas. As mensagens têm chegado por meios eletrônicos, o que torna mais rápida a comunicação, crescendo ainda mais a necessidade de contato.
Mensagem para o Dia da Vida Consagrada
“A nossa confiança, em 2021, é que possamos construir novas relações, superando a pandemia”. Este é o desejo da presidente da Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), Irmã Maria Inês Ribeiro, manifestado em sua mensagem para o 25º Dia Mundial da Vida Consagrada, divulgada em 26 de janeiro.
A religiosa recorda a necessidade de as pessoas consagradas renovarem o empenho missionário sinodal e carismático com a Ação Evangelizadora do Brasil. É um chamado a ser luz que brilha na escuridão que ainda impede de ver e ouvir a voz do Senhor. “Somos a voz que grita neste deserto da indiferença e não podemos desanimar. Que nada roube a nossa identidade carismática, fraterna e apostólica”.
Desafios da vida consagrada no Brasil
O coordenador da Conferência dos Religiosos do Brasil – Regional São Paulo (CRB-SP), padre Rubens Pedro Cabral, frisa que a vida religiosa no país enfrenta três grandes desafios: a manutenção dos processos formativos, o aumento dos cuidados fraternos e necessidade de se disciplinar e reorganizar.
Sobre os processos formativos, o sacerdote explica que eles são fundamentais tanto para os jovens iniciantes, quanto para quem já integra algum instituto ou comunidade religiosa.
“Esses encontros sempre foram presenciais. Facilitam o entrosamento, dinâmica relacional, conhecimento mútuo e agora tudo se faz on-line. Sabemos que existe uma formação em andamento, mas ela é dificultada pelo fato de as pessoas não se encontrarem, não se conhecerem por não se verem o suficiente”.
Ao comentar sobre o aumento dos cuidados fraternos com os membros das comunidades e institutos, padre Rubens fala do senso de co-responsabilidade de uns pelos outros. Com a pandemia, todos precisaram viver cuidadosamente fazendo processos de higienização necessários para que não haja contaminação dentro das casas religiosas, facilitando a continuidade da vida fraterna.
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O coordenador da CRB-SP também aprofundou a importância da reavaliação das comunidades e institutos, principalmente na forma de atendimento à população. “É de conhecimento comum que a vida religiosa traduz em obras, escolas e hospitais a vivência do evangelho”.
“Nossas obras de caridade são feitas em instituições. Estes atendimentos foram dificultados pela pandemia, exigindo criatividade e disciplina na questão financeira e em sua prática, para darmos continuidade de nosso carisma com o menor prejuízo possível às pessoas que atendemos, em sua maioria, pessoas fragilizadas, necessitadas, carentes”.
A celebração do Dia Mundial da Vida Consagrada
Padre Rubens lembra que esta celebração do Dia Mundial da Vida Consagrada costuma acontecer de forma interna. Em âmbito mais amplo, junto às comunidades, celebra-se a vida consagrada no Brasil no terceiro domingo de agosto, por ocasião do mês vocacional.
Desta forma, o sacerdote afirma que a data contará com as mesmas celebrações, mas seguindo o distanciamentos e protocolos de higiene. O que muda, segundo o coordenador da CRB-SP, é que não serão feitas confraternizações e partilhas entre os religiosos.
Aprendizados neste tempo de pandemia
O tempo de pandemia é também de aprendizado para a vida religiosa e consagrada, frisa padre Rubens. O coordenador da CRB-SP destaca que, neste processo, os elementos que se destacam são a possibilidade de voltar às origens da vida comunitária, com orações mais disciplinadas e intensas: “A pandemia nos trouxe de volta, nos fez valorizar ainda mais os momentos de oração, celebração da vida interna”.
“Outra coisa importante é a valorização do ‘ser religioso’ mais do que o ‘fazer religioso’. Neste tempo de pandemia, o ‘ser religioso’ se destaca, é aflorado e revalorizado: nossas constituições, regras, vivências positivas do carisma. Garantimos um pouco mais de tempo dedicado a esses elementos constitutivos da vida religiosa e consagrada”, aponta o sacerdote.
Padre Rubens observa que a pandemia despertou também a necessidade de se reafirmar a confiança em Deus, na Igreja, na eclesialidade, na vida religiosa. “Confiar no Deus providente e previdente, que ama, acolhe e acompanha a vida religiosa”.
Essas ações, de acordo com o coordenador da CRB-SP, ajudam na manutenção da esperança, que também requer oração. “Foi acrescentado a cada religioso e religiosa, e aos cristãos, neste tempo de pandemia, que sejamos solidários na oração. (…) Que cada religioso e religiosa mantenha-se firme na convicção de que sabemos em quem acreditamos, esperamos e confiamos”, concluiu.