Santa Sé promoveu, na manhã desta quinta-feira, 5, uma entrevista coletiva com especialistas e engajados na luta contra a crise climática global
Da Redação, com Boletim da Santa Sé
Na manhã desta quinta-feira, 5, aconteceu uma coletiva de imprensa sobre a mais nova Exortação Apostólica escrita pelo Papa Francisco e publicada pela Santa Sé. Intitulada “Laudate Deum: vozes e testemunhos sobre a crise climática”, a entrevista reuniu especialistas e pessoas engajadas nesta questão ambiental.
Entre os participantes estiveram: a líder do movimento “Fridays for Future” na Alemanha, Luisa-Marie Neubauer; o cofundador das organizações juvenis francesas “Per un Risveglio Ecologico” e “Lutte et Contemplation”, Benoit Halgand; o jovem libanês Jubran Ali Mohammed Ali; e a animadora do “Progetto Policoro” da Arquidiocese de Palermo e do Movimento Laudato si’ e associada da Ação Católica, Alessandra Sarmentino.
Crise não só do clima, mas da cultura e da esperança
Em sua intervenção, Luisa-Marie partilhou sua experiência enquanto ativista pelo clima e citou que, em sua adolescência, ela costumava ouvir que “se a economia crescesse, passo a passo, todas as pessoas do mundo prosperariam”, o que hoje considera um “conto de fadas”.
“Laudate Deum fala do que eu chamaria de crise da cultura, da humanidade que não conseguiu estabelecer uma relação profunda com o nosso berço natural. Se sabemos o que será perdido, mas não nomeamos o que ainda temos para ganhar e explorar, não é de admirar que percamos pessoas na negação”, declarou Luisa-Marie.
Ela também falou sobre a “crise da esperança”, provocada pelas promessas vazias e as reações de pessoas que dizem “ser tarde demais”. “Precisamos de instituições, de líderes, de pessoas de todas as idades, precisamos que vocês se tornem ativistas. Precisamos que você não espere mais pela esperança, mas se torne ela”, sinalizou a jovem.
Lutar por Cristo e pelo amor aos irmãos
O engenheiro Benoit Halgand contou, em sua participação, que está envolvido no movimento pelo clima na França há vários anos, aliando uma vida de oração e ação coletiva diante dos desafios ecológicos. Ele também expressou que, como outras pessoas de sua geração, ele está consciente – e preocupado com a crise climática que se apresenta.
Neste contexto, Halgand agradeceu ao Papa Francisco pelo “lembrete claro e firme sobre a urgência das questões climáticas e sociais”, e citou três pontos da Laudate Deum que considerou “proféticos”: a necessidade de uma sociedade civil forte e de uma resposta política à crise ecológica, a urgência de abandonar os combustíveis fósseis e a mobilização humana baseada não apenas no dever moral ou no medo pelo futuro, mas no amor e na fé em um Deus misericordioso.
“Como salientado na Laudate Deum, não podemos esperar crescer serenamente na nossa relação com Cristo, com os nossos irmãos e irmãs e com a Criação, se continuarmos a sofrer as injunções consumistas do sistema econômico. É para seguir a Cristo e amar mais que desejamos lutar. (…) A nossa luta será vã se não nos deixarmos reconciliar e renovar profundamente por Cristo”, manifestou o engenheiro.
Aprender a respeitar e defender a natureza
Na sequência, o jovem libanês Jubran Ali Mohammed Ali, que chegou à Itália em 2020, apresentou seu testemunho. Ele falou sobre como a guerra no seu país de origem impediu que ele estudasse, fato que o levou a migrar em busca de melhores condições de vida, mas também falou sobre a recente tragédia ambiental que atingiu a Líbia.
A tempestade Daniel deixou mais de 11 mil mortos na Líbia, e mais de 30 mil pessoas perderam suas casas. “Em pouco tempo a água destruiu a vida de muitas pessoas e ninguém teve tempo de escapar. Isto aconteceu não só pelas mudanças climáticas, mas também porque as casas foram construídas debaixo da barragem e nunca houve qualquer controle ou manutenção”, relatou Ali.
Diante disso, ele fez seu apelo: “desejo que todos os homens aprendam a respeitar a natureza e a defender a nossa casa comum, a terra”. Por fim, ele agradeceu ao Papa Francisco, que “sempre tem palavras de carinho para nós migrantes e refugiados”.
Cidadania ativa
Alessandra Sarmentino também recordou uma região que foi atingida por problemas ambientais ligados ao clima: a Sicília, na Itália, que sofreu com incêndios em julho deste ano e segue enfrentando este problema, em setembro.
“Os incêndios destroem, como consequência direta, qualquer forma de vida da flora e da fauna; provocam o superaquecimento do solo, dando origem a reações químicas e biológicas que afetam sua fertilidade. A desertificação avança, a terra já não é capaz de acolher vida. A seguir estão as consequências indiretas de deslizamentos de terra e inundações”, detalhou Alessandra.
Ela apontou o “hábito” como “o maior problema dessa triste história”, indicando que “nos habituamos a este cenário de morte que, no entanto, só nos assusta quando está perto das nossas casas”. Por isso, indicou, é necessário falar sobre esse assunto na família, na escola, nos centros recreativos, nos oratórios.
Neste sentido, citou a “cidadania ativa”, cujo significado é “estar aqui e agora, no presente para construir um futuro melhor. Cada um com suas próprias habilidades e competências”, com os outros e para os outros. “Este é, na minha opinião, o significado mais profundo da experiência de hoje. Esta nossa casa precisa da ajuda de todos, do agricultor, do professor, da dona de casa, do empresário. Todos somos chamados a cuidar”, encerrou.