Documento divulgado nesta sexta-feira, 20, alerta para necessidade de “pronta correção de rumos” diante da gravidade do momento atual do Brasil
Da Redação, com CNBB
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) publicou uma nota nesta sexta-feira, 20, sobre os eventos climáticos extremos verificados no país. O documento aponta que “a gravidade deste momento exige de todos coragem, sensatez e pronta correção de rumos”.
A nota chama a atenção para as alterações no clima, que ultimamente tem mudado com uma velocidade impressionante. A enchente no sul do país em maio, uma das maiores secas em grande parte do território nacional e o aumento assustador de queimadas são sintomas desta mudança apontada pelo episcopado.
O texto observa ainda que os povos e comunidades que mais demonstram habilidade e cuidado na proteção dos biomas são, paradoxalmente, os mais ameaçados e desconsiderados. Além disso, aponta a urgência dos poderes públicos adotarem intervenções rápidas, eficazes e estruturadas para enfrentar os eventos climáticos e garantir o cumprimento da legislação, fiscalização e punição dos culpados e investimento em prol de políticas ambientais que promovam os direitos de toda a Criação.
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Por fim, a CNBB se solidariza com todas as vítimas de eventos climáticos extremos no país e conclama o povo brasileiro à corresponsabilidade, compromisso e o cuidado com a Casa Comum. Confira, a seguir, a íntegra da nota:
NOTA DA CNBB SOBRE OS EVENTOS CLIMÁTICOS EXTREMOS
“Com efeito, sabemos que toda a criação até o presente, está gemendo como que em dores de parto. E não somente ela, mas também nós, que temos as primícias do Espírito, gememos em nosso íntimo, esperando a adoção filial, a redenção do nosso corpo” (Rm 8, 22-23).
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, por meio de sua Presidência, vem expressar preocupação sobre os recentes eventos climáticos extremos. A gravidade deste momento exige de todos coragem, sensatez e pronta correção de rumos.
O clima, ultimamente, tem mudado em velocidade e profundidade impressionantes: as inundações no sul do país, uma das maiores secas em amplas regiões do território nacional e o aumento assustador do número de queimadas. Aproximando-nos da festa de São Francisco de Assis, somos instados a reconhecer o momento crucial e decisivo para a proteção do equilíbrio ambiental e climático em todo o planeta.
No Brasil, o desmatamento avança, as queimadas persistem e a mineração ilegal segue sem efetivo controle. Na prática, estamos perdendo para o crime ambiental, acentuando as emissões de carbono, exterminando biodiversidade, quebrando processos ecológicos. Esse processo não é inocente. É fruto de um sistema socioeconômico que corrompe, exclui e mata.
Cientistas alertam que caminhamos para um “ponto de não retorno”! O Papa Francisco clama com urgência para ações efetivas de prevenção, mitigação e reparação da violência que estamos infringindo ao Planeta, quando diz: “com o passar do tempo, entretanto, dou-me conta de que não estamos reagindo de modo satisfatório, pois este mundo que nos acolhe está se desfazendo e, talvez, aproximando-se de um ponto de ruptura (Laudate Deum, n. 2).
Os povos e as comunidades que mais demostram habilidade e cuidado na proteção dos biomas são, paradoxalmente, os mais ameaçados e desconsiderados. A legislação precisa ser protegida, sem flexibilizações ao interesse particular, tendo em vista os riscos, as vulnerabilidades, os prejuízos e as perdas de vida. É imprescindível mudar o modelo de desenvolvimento que reduz a Criação a um ativo econômico.
Urgem, dos poderes públicos, intervenções rápidas, eficazes e estruturadas para enfrentar os eventos climáticos e garantir o cumprimento da legislação, fiscalização, punição aos culpados e investimentos em prol de políticas ambientais que promovam os direitos de toda a Criação, da qual o ser humano é coroa.
Manifestamos solidariedade a todas as vítimas dos eventos climáticos extremos, conclamamos o povo brasileiro para a corresponsabilidade, o compromisso e o cuidado para com a Casa Comum.
Que Deus Criador nos inspire e nos proteja e que Maria, Mãe da Esperança, nos ajude na cura de tantas feridas, dos pobres e da Terra.
Brasília – DF, 20 de setembro de 2024
Dom Jaime Spengler
Arcebispo da Arquidiocese de Porto Alegre – RS
Presidente da CNBB
Dom João Justino de Medeiros da Silva
Arcebispo da Arquidiocese de Goiânia – GO
1º Vice-Presidente da CNBB
Dom Paulo Jackson Nóbrega de Sousa
Arcebispo da Arquidiocese de Olinda e Recife – PE
2º Vice-Presidente da CNBB
Dom Ricardo Hoepers
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Brasília – DF
Secretário-Geral da CNBB