Por ocasião da pré-cúpula da ONU sobre sistemas alimentares, Caritas defende direitos dos pobres, papel das mulheres e dos agricultores locais
Da Redação, com Caritas Internationalis
Por ocasião da pré-cúpula da ONU sobre sistemas alimentares, a Caritas Internationalis exorta os decisores políticos a incluir os direitos dos pobres em todas as discussões. A instituição também pede que se assegure uma significativa participação dos produtores e dos consumidores locais, em particular das mulheres, na definição e atuação das políticas em nível local.
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A pré-cúpula começou nesta segunda-feira, 26, em Roma, com organização do governo da Itália. O encontro termina nesta quarta-feira, 28, e conta com a participação de mais de 110 governos. A cúpula sobre os sistemas alimentares está prevista para setembro em Nova York.
Segundo a Caritas, ambos os eventos não devem perder oportunidades de garantir uma transformação duradoura dos sistemas alimentares. Isso se faz ainda mais necessário diante da pandemia de covid-19 que agravou as desigualdades pré-existentes no acesso aos alimentos. “Na verdade, espera-se que, nos próximos meses e anos, vários milhões de pessoas sofram de insegurança alimentar e desnutrição”, informa um comunicado divulgado hoje pela Caritas.
Promoção da agricultura comunitária
A Caritas parte da convicção de que o acesso ao alimento é um direito humano fundamental. Assim, acredita que somente a agricultura industrial não garantirá a segurança alimentar e a transformação dos sistemas alimentares. Para a instituição, a longo prazo, isso contribuirá somente para criar mais exclusão e injustiça no acesso ao alimento.
O pedido da instituição é que sejam promovidas a agricultura tradicional comunitária, a agroecologia e a revisão das cadeias de abastecimento em favor dos mercados locais. Atenção também ao incentivo ao consumo alimentar responsável.
O comunicado destaca a necessidade urgente de promover uma agricultura e uma produção alimentar que incrementem os métodos ecológicos e sustentáveis. Da mesma forma, frisa como urgente encorajar as atividades agrícolas rurais através dos incentivos para os agricultores.
“Este foi também o grito dos agricultores latino-americanos durante o Sínodo sobre a Amazônia em 2019. Isso garantirá a ‘justiça alimentar’ e permitirá aos pequenos agricultores viver dignamente”, afirma o secretário-geral da Caritas Internationalis, Aloysius John.
Participação das mulheres
A Caritas também destaca a necessidade de reconhecer o papel das mulheres na agricultura tradicional em âmbito local. É preciso ajudá-las a estabelecer cooperativas locais e cadeias de abastecimento que lhe permitam vender os próprios produtos.
“As mulheres fazem parte do setor agrícola e são responsáveis por cerca de 60-80% da produção alimentar dos países em via de desenvolvimento. Todavia, são também aquelas que encontram maior dificuldade e desafios por causa da falta de acesso aos direitos sobre a terra, ao crédito, aos recursos de produção e ao capital inicial”, pondera John.
Alinhadas com os ensinamentos da Laudato sì, as organizações da Caritas questionam as soluções tecnocráticas a problemas como a mudança climática, a degradação ambiental e o desperdício de alimentos.
“A crise alimentar mundial precisa ser enfrentada de modo diferente, superando o pressuposto de que a ciência e a tecnologia podem oferecer soluções a todo problema e adotando escolhas políticas, estilos de vida e espiritualidade que desafiem o paradigma tecnocrático predominante. No centro dos problemas de insegurança alimentar, fome e desnutrição estão os seres humanos com sua dignidade, relações e esperanças”, conclui John.