DIÁLOGO ECUMÊNICO

Cardeal Koovakad: diálogo interreligioso pode construir a paz

O indicado a Prefeito do Dicastério para o Diálogo Inter-religioso, o cardeal indiano fala sobre sua missão contínua de organizar as Viagens Apostólicas do Papa

Da redação, com Vatican News

O Cardeal Koovakad, indicado pelo Papa Francico para o Dicastério para o Diálogo Inter-religioso / Foto: Reprodução Youtube

“Sinto admiração, alegria e grande trepidação pela imensa responsabilidade de suceder um homem sábio e gentil como o Cardeal Ayuso, e um homem de profunda fé e incansável construtor da paz como o Cardeal Tauran.”

Esses foram os sentimentos expressos pelo Cardeal nascido na Índia George Jacob Koovakad, organizador das Visitas Apostólicas do Papa, ao receber a notícia da decisão do Papa Francisco na sexta-feira de nomeá-lo Prefeito do Dicastério para o Diálogo Inter-religioso.

O Dicastério promove relações com membros e grupos de religiões não cristãs, exceto o judaísmo, que se enquadra no Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos.

A Sala de Imprensa da Santa Sé anunciou sua nomeação como Prefeito na sexta-feira, 24 de janeiro, acrescentando que o Cardeal Koovakad manterá seu papel atual como organizador das visitas papais.

Na entrevista a seguir, o Cardeal Koovakad falou sobre suas primeiras impressões e os exemplos dos Papas na promoção do diálogo inter-religioso.

Vatican News — Como você recebeu essa nomeação?
Cardeal Koovakad — Com imensa gratidão ao Papa Francisco, que, em menos de dois meses, inesperadamente me incluiu no Colégio Cardinalício, me nomeou Arcebispo e agora me confia um Dicastério que foi recentemente liderado por um homem sábio e bom como o Cardeal Miguel Ángel Ayuso Guixot e, antes dele, um homem de profunda fé e incansável construtor da paz como o Cardeal Tauran, até o fim de sua vida. Confesso que o pensamento me enche de grande trepidação e uma sensação de inadequação. Ao mesmo tempo, confio fortemente nas orações de todos aqueles que continuam a sonhar com um mundo onde as diferenças religiosas não apenas coexistam pacificamente, mas se tornem elementos essenciais na construção da paz entre os povos. Confio na orientação do Santo Padre e no caminho já sabiamente traçado por aqueles que me precederam. Acima de tudo, confio na ajuda dos colaboradores do Dicastério, que conheci nas últimas horas e que já me acolheram com amizade e me fizeram sentir em casa.

Vatican News — Você nasceu há 51 anos em Chethipuzha, Kerala. Como indiano, mesmo tendo passado muitos anos longe do seu país, você sente que a coexistência inter-religiosa está profundamente arraigada na sua identidade?
Cardeal Koovakad — Sim, eu nasci e cresci em uma sociedade multicultural e multirreligiosa em que todas as religiões são respeitadas e a harmonia é preservada. A diversidade é uma riqueza! Gosto de enfatizar que o diálogo inter-religioso na Índia está tradicionalmente ligado ao monaquismo. Já em 1500, o padre jesuíta Roberto De Nobili adotou as roupas e costumes dos monges indianos, aprendeu línguas locais e procurou assimilar tudo o que pudesse ser valorizado nessas tradições. Essas tentativas não são isentas de riscos, embora, como o Papa nos ensina, dar um passo à frente e seguir em frente sempre traz riscos. Mas o que quero destacar é essa atitude de abertura, simpatia e proximidade com outras tradições. A fé cristã é capaz de inculturação: os cristãos são chamados a ser sementes de fraternidade para todos. Isso não significa abrir mão da própria identidade, mas sim estar ciente de que a identidade nunca deve ser uma razão para construir muros ou discriminar os outros. Em vez disso, deve ser sempre uma oportunidade para construir pontes. O diálogo inter-religioso não é simplesmente um diálogo entre religiões, mas entre crentes chamados a testemunhar a beleza de acreditar em Deus e praticar a caridade fraterna e o respeito.

Vatican News — Uma das responsabilidades do seu Dicastério é o relacionamento com o mundo islâmico. O que você pode nos contar sobre isso?
Cardeal Koovakad — O Concílio Vaticano II marcou o início de uma nova era nas relações com outras religiões, incluindo o islamismo. Lembro-me de palavras e gestos proféticos, como os de São Paulo VI, que, como peregrino em Uganda em 1969, honrou os primeiros mártires cristãos africanos ao traçar um paralelo que incluía os fiéis muçulmanos no martírio que todos eles sofreram sob os reis tribais locais. Depois, há as palavras de São João Paulo II para a juventude muçulmana em Casablanca, Marrocos, em 1985, quando ele disse: “Acreditamos no mesmo Deus, o Deus único, o Deus vivo, o Deus que cria mundos e leva Suas criaturas à perfeição.” Dezesseis anos depois, o mesmo Papa entrou em uma mesquita pela primeira vez, cruzando o limiar da Mesquita Omíada em Damasco durante sua visita à Síria. A memória do Papa Bento XVI rezando silenciosamente na Mesquita Azul de Istambul em 2006 permanece vívida. E como não mencionar os muitos passos dados pelo Papa Francisco, como a assinatura do Documento sobre a Fraternidade Humana com o Grande Imã de Al-Azhar, Ahmad Al-Tayyeb, em 4 de fevereiro de 2019, em Abu Dhabi, seguido um ano depois pela encíclica Fratelli tutti.

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