No dia de Nossa Senhora do Rosário, Dom Gil Antônio e padre Márcio Prado observam que muitos católicos encontraram, nas redes sociais, um meio para rezar
Julia Beck
Da Redação

Foto: Canva/ Bruno Marques
Com as muitas iniciativas presentes nas redes sociais, a devoção ao Santo Terço e ao Santo Rosário tem se difundido expressivamente. Nesta terça-feira, 7, em que a Igreja celebra Nossa Senhora do Rosário, o arcebispo de Juiz de Fora (MG) e referencial para o Terço dos Homens no Brasil, Dom Gil Antônio Moreira, celebra a valorização desta oração pelos cristãos. “Parece um sinal do céu”, disse.
O missionário da Comunidade Canção Nova, padre Márcio Prado, afirma que essa força do Santo Terço vem da “misericórdia de Deus que visita o nosso tempo”. “Esse resgate se dá, com certeza, por providência divina diante da situação que vivemos”, de muito “paganismo” e “mundanismo”. O sacerdote sublinha esta é uma “santa febre”, uma “santa epidemia” que tem contagiado muitos.
Há uns anos, o arcebispo de Juiz de Fora sublinha que o Rosário era rezado apenas por algumas pessoas – padres, bispos e papas que “nunca abandonaram esta oração”. Com o surgimento de grupos e movimentos voltados para esta devoção, Dom Gil comenta que não só uma tradição foi retomada, mas uma nova forma de oração foi instaurada.
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“Atualmente, reza-se com muito mais piedade, com muito mais meditação. São Paulo VI, na sua encíclica Marialis Cultos lembra que devemos rezar o Rosário contemplando o rosto de Jesus, a vida de Jesus”, recorda. O arcebispo reforça que o Rosário é uma oração cristológica, uma “meditação da vida de Cristo aos olhos de Maria”.
Santo Terço
Padre Márcio Prado frisa que a oração do Santo Terço perdura por séculos por conta da sua raiz bíblica, sua raiz na tradição da Igreja, na devoção popular e no carinho que o povo tem por Deus e por Nossa Senhora.
Segundo Dom Gil, o terço surgiu no século III, quando monges costumavam colocar sementes em um cordão para contar as orações que faziam. No século XIII, ele conta que São Domingos Gusmão organizou o Santo Terço com as dezenas e contemplações. “Desde aquele tempo, a oração do terço ajudava a vencer as dificuldades”, disse.
Depois do século XIII, o bispo pontua que muitos problemas foram vividos na Europa, heresias, o surgimento do protestantismo e a ameaça dos muçulmanos que desejavam o fim do cristianismo foram algumas delas. “No entanto, o Santo Terço permaneceu”.
A Revolução Francesa, os assassinatos por guilhotinas (que assolaram conventos inteiros) e as teorias filosóficas ateístas também ameaçaram a tradição do Santo Terço de acordo com o arcebispo de Juiz de Fora.
Leão XIII, Pio X, Bento XV, Pio XI, Pio XII, João XXIII, Paulo VI, João Paulo I, João Paulo II, Bento XVI, Francisco e Leão XIV são papas que Dom Gil afirma terem valorizado esta oração milenar.
“Na agonia do Papa Francisco, vimos quantos terços foram rezados na praça São Pedro, transmitidos pelos meios de comunicação. Até o nosso próprio Papa atual, na época cardeal, rezou um desses terços na Praça São Pedro, durante a doença do Papa Francisco”, recorda.
Nova forma de evangelizar
Em 2020, com a pandemia da Covid-19, algumas arquidioceses, dioceses, paróquias e movimentos desenvolveram iniciativas de oração por meio das redes sociais. Entre eles, está o Instituto Hesed, que, há cinco anos, realiza lives às 4h da manhã, para rezar o Santo Rosário.
O Carmelita Mensageiro do Espírito Santo, Frei Gilson da Silva Pupo Azevedo, também é outro nome expressivo na oração da madrugada, com destaque para os períodos da Quaresma da Igreja e dos “40 dias com São Miguel Arcanjo”. As lives do religioso já reuniram milhões de católicos.
Na televisão, a Canção Nova, assim como outros canais de inspiração católica, transmite ao vivo o Santo Terço e o Terço da Misericórdia. Dom Gil pontua que, “de fato, esta é uma nova maneira de evangelizar, de levar Cristo aos demais”. O arcebispo destaca que as ferramentas atuais utilizadas para a oração são “fabulosas”. “Ajudam a divulgar Cristo”, frisa.
Para o bispo referencial do Terço dos Homens, esta valorização do Santo Terço é fruto da intercessão de Nossa Senhora diante das muitas injustiças, violências e desafios enfrentados pelo país. “Que Deus nos abençoe nesse dia de Nossa Senhora do Rosário e nos dê a graça de rezar o terço todos os dias, meditando a vida de Cristo”, deseja.
Oração que traz paz
Entre os muitos benefícios relatados pelos fiéis que rezam o Santo Rosário ou o Santo Terço, está a “paz no coração” e o “fortalecimento da fé”, revela o arcebispo de Juiz de Fora. Ele sublinha que a oração não é uma mera repetição de palavras, mas um momento de crescimento na espiritualidade.
“Quem reza o rosário com fé sente os seus efeitos (…) até em família. Muitas famílias que começaram a rezar o rosário resolveram conflitos que, apesar de pequenos, pareciam difíceis de serem superados”, completa. Dom Gil acrescenta “até o rosto das pessoas muda do começo do terço para o fim”. “Isso porque há meditação”, indica.
Padre Márcio afirma que a oração do Rosário e do Santo Terço ajuda espiritualmente o cristão a ter equilíbrio. “Meditando os mistérios da vida do Senhor, é possível contemplar a própria vida e também aplicar aquilo que se reza”, ressalta.
Redes sociais como ferramenta
Padre Márcio indica que o valor espiritual do Rosário é imensurável. “Muita gente foi resgatada e está sendo resgatada pela oração virtual”, assegura. Para o presbítero, a realidade virtual é um campo pastoral assim como as cidades, os bairros e os grupos. De acordo com ele, ainda que a tradição do Rosário seja consolidada, é sempre positivo quando a Igreja, dentro daquilo que é bom e faz bem, acompanha os avanços e as tecnologias.
“A Igreja tem usado desses meios para evangelização, para alcançar até mesmo crianças e jovens. Claro, é um desafio manter a tradição, mas é preciso, realmente, inovar sem perder as características, sem perder aquilo que é essencial. O que é essencial no Rosário? Meditar os mistérios da Paixão do Senhor, da Morte, da Ressurreição, os mistérios luminosos. Então, é essencial entrar em comunhão com Deus através do Rosário, essa é a finalidade. Se para isso é possível usar os meios tecnológicos, Deus seja louvado!”.
Dom Gil explica que os benefícios da oração independem da forma como ela é realizada – on-line ou presencialmente. No entanto, ele acredita que a oração presencial traz uma sensibilidade ainda maior, por reunir pessoas e famílias. “É muito bom que isso seja feito”, reforça. Sobre a oração via internet, Dom Gil ressalta que muitos não conseguem reunir a família para rezar, sendo este um recurso válido. “Tudo deve ser empregado em favor de Deus, das coisas de Deus. Devemos sempre procurar o que é melhor, o que nos ajuda a rezar”, concluiu.
Ao ser contagiado pelo rosário virtual, o católico precisa “dar passos”, sugere o missionário da Canção Nova. Segundo ele, a oração e a comunhão com Deus devem levar ao próximo. O presbítero aponta que, a partir do rosário, é preciso também se inserir na realidade comunitária da família com a união de propósitos, como a busca pela caridade e misericórdia.
“Que muita gente que foi alcançada pelo rosário virtual não pare nisso, que viva também (…) esse rosário em comunidade, em família e em grupos (…). A presença é importante, também o contato, o olhar, cumprimentar e abraçar é positivo”, complementa.