27 de novembro

Atentado contra Papa Paulo VI completa cinquenta anos

Pontífice sofreu atentado em 27 de novembro de 1970, depois de chegar em Manila (Filipinas), para uma de suas viagens apostólicas

Da redação, com Vatican News

Papa Paulo VI/ Foto: Daniel Ibanez – CNA

Um homem vestido de padre segurando um crucifixo com uma mão e um punhal com a outra. Um Papa de 73 anos que enfrentava a mais longa viagem de seu pontificado. Um atentado descoberto graças à pronta reação dos colaboradores do Pontífice. O atentado ocorreu cinquenta anos atrás, em 27 de novembro de 1970, quando Paulo VI visitava a Ásia e a Oceania.

A viagem fora motivada pela primeira conferência dos bispos da Ásia Oriental, e durante toda a peregrinação o objetivo foi conhecer as pessoas que vivem do outro lado do globo, com uma mensagem que esclarecia o significado de enculturação da fé e do enriquecimento para a comunhão de toda a catolicidade.

Foi o próprio Paulo VI que apresentou aos fiéis, durante uma audiência geral, o itinerário da viagem, que tinha como primeira etapa três dias em Manila, nas Filipinas, depois uma parada em uma ilha da Polinésia; três dias em Sidney na Austrália; em seguida Jacarta, a capital muçulmana da Indonésia. De lá, um voo para Hong Kong. Por fim, a última etapa seria Colombo, no Ceilão (atual Sri Lanka). 

Início da viagem

Paulo VI partiu, em 26 de novembro, e o avião fez uma escala técnica em Teerã, no Irã, onde o Pontífice foi cordialmente recebido pelo Xá da Pérsia Reza Pahlavi. Também foi decidido fazer uma parada não programada em Daca, no então Paquistão Oriental, para um encontro com as vítimas de um furacão. O Papa quis entregar uma soma significativa de dinheiro para os socorros que era uma coleta feita a bordo do avião entre os jornalistas que o acompanham na viagem.

Na manhã de 27 de novembro, logo que pousou no aeroporto de Manila, Paulo VI sofreu o atentado que poderia ter lhe custado a vida. “Antes de cada viagem”, lembrou o secretário particular do Pontífice, Padre Pasquale Macchi, em suas memórias, “o Papa era avisado de que poderia ser vítima de algum possível atentado, desde a sua viagem à Terra Santa até o Extremo Oriente. O Serviço Secreto sempre alertava a Secretaria de Estado. Mas o Papa enfrentava as viagens sem qualquer preocupação, confiando em Deus”. Desta vez, porém, o Papa foi atingido.

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“Enquanto saudava as autoridades, os cardeais e bispos”, escreveu seu secretário, “o Papa foi atacado por um pintor boliviano, Benjamin Mendoza y Amor, de 35 anos, vestido de padre, que segurava um crucifixo dourado em uma mão e na outra, escondida por um pano, um kriss (punhal malaio). Com um golpe ele feriu o Papa no pescoço, felizmente protegido pelo colarinho rígido, e com outro no peito perto do coração”.

Papa Paulo VI escreveu uma nota naquele dia: “Se estou bem lembrado, depois das saudações às personalidades … vi de modo confuso um homem que, impetuosamente, vinha na minha direção. Pensei que era um dos muitos que queriam me cumprimentar ou beijar minha mão, ou dizer algo… Assim que chegou em minha frente, ele me deu com as duas mãos, duas fortes punhaladas no peito, e logo depois mais duas, tão forte que senti o violento golpe”.

Padre Macchi, recordou, certa vez, os momentos que sucederam o atentado: “Pensando que era um fanático, me joguei sobre ele com uma certa violência para imobilizá-lo, e o empurrei nos braços da polícia, impedindo-o assim de dar mais golpes. Depois de um primeiro momento de perplexidade, o Papa sorriu suavemente. E revejo seu olhar sobre mim, velado por uma leve censura à minha impetuosidade. Depois, o Papa prosseguiu até o palco para o primeiro discurso, sem mencionar o ataque: seu vestido branco, entretanto, estava marcado por uma mancha de sangue”. Também foi decisiva a intervenção do bispo Paul Marcinkus, o organizador das viagens papais, que impediu o homem de golpear novamente.

Depois do atentado

Foi o próprio Paulo VI, na nota escrita no dia do ataque, que escreveu: “Entramos no carro. Foi então que vi na minha manga (esquerda?) algumas pequenas gotas de sangue, e percebi que uma de minhas mãos devia ter tocado algo manchado de sangue, talvez a mão do agressor. Eu continuava a sentir no peito o peso da agressão, mas nada mais. Chegamos à catedral. Quando fui vestir os paramentos, tentei lavar as manchas de sangue das mãos, sem me dar outra razão para o que realmente tinha acontecido”.

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Após a cerimônia, ao chegar à nunciatura, o Papa finalmente recebeu ajuda médica. Ele mesmo conta: “Pude me despir, e então percebi que a camiseta de baixo suada tinha uma grande mancha de sangue no peito, devido a uma pequena ferida, bem perto da região do coração, superficial e indolor: a camiseta tinha contido a hemorragia, que não era copiosa. Uma outra ferida, ainda menor, quase um arranhão apareceu, à direita, na base do pescoço”. Logo fui medicado”, continua Paulo VI, “as duas feridas foram fechadas e tratadas nos dias seguintes, e logo sararam. Uma pequena aventura de viagem, um pouco de barulho no mundo (soube que na Itália, quando chegou a notícia, o Parlamento suspendeu a sessão) e grande gratidão aos que se interessaram por mim, sobretudo graças ao Senhor que me quis seguro e me permitiu a continuação da viagem”.

Febre e continuação da viagem

O médico do Papa, depois de examinar as feridas, deu-lhe uma injeção antitetânica, que causou um estado febril. E aconselhou a Paulo VI de suspender seus compromissos da tarde. Mas o Papa, no entanto, “decidiu que o programa deveria seguir como planejado para não decepcionar as expectativas das pessoas e para manter a reserva sobre o ocorrido”. Nessas condições, o Papa foi ao encontro com o Presidente Marcos, com o Corpo Diplomático e com uma delegação de Formosa.

Na época, a notícia do atentado deu a volta ao mundo, mas a Santa Sé não confirmou que o Papa tinha sido atingido. Em uma declaração, o agressor disse: “Sinto muito ter falhado, eu o faria novamente se tivesse a oportunidade”. Saiu da prisão alguns anos depois, graças ao fato de que o Vaticano não tinha se constituído como parte civil.

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