DIA DO NORDESTINO

Artistas usam elementos da cultura do Nordeste para evangelizar

Neste Dia do Nordestino, conheça projetos baseados na cultura nordestina que promovem a evangelização com alegria e bom humor

Gabriel Fontana
Da Redação

Foto: wirestock via Freepik

Neste domingo, 8, é comemorado no Brasil o Dia do Nordestino. A data foi instituída nacionalmente pelo Projeto de Lei n. 2.755, de 2022, cujo autor é o senador Angelo Coronel (PSD-BA), e homenageia o poeta, teatrólogo, músico e compositor Catulo da Paixão Cearense.

O artista, conhecido como “o Poeta do Sertão”, nasceu em 1863, no Maranhão, um dos nove estados que compõem a região Nordeste do país – os outros são Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí.

No texto do projeto, o senador afirma que a região é “uma terra com riquezas naturais, diversidade cultural e de importância econômica”, e defende que seu povo “apesar das dificuldades e, muitas vezes, dos preconceitos, mostram resiliência se estabelecendo em várias regiões do país, contribuindo para o desenvolvimento e a diversidade, por isso também se justifica a criação de uma data nacional para celebrarmos o povo e a cultura nordestinos”.

Evangelizar com alegria

Ivanildo Silva / Foto: Arquivo pessoal

Essa cultura, que conta com tantos expoentes literários e musicais, entre outros, também alcança outras finalidades além de levar entretenimento por meio da arte. O missionário da Comunidade Obra de Maria, Ivanildo Silva, usou os elementos típicos da cultura nordestina para evangelizar com muita alegria.

Natural de Limoeiro, no interior de Pernambuco, ele foi criado pela avó materna. Ivanildo sempre teve o desejo de ter muitos irmãos, e isso o levou a ingressar na comunidade em 1999, atraído pelo carisma de evangelizar de todas as formas, com alegria.

Assim, ele iniciou, em 2001, o projeto Doidin de Deus (DDD), com Jocelio de Castro, que na época era missionário da Comunidade Obra de Maria. A dupla dava vida a Ambrósio e Grampulino, dois personagens que carregavam a essência nordestina em suas apresentações musicais repletas de alegria. “A gente fazia o diferencial levando a originalidade da nossa cultura, do frevo, do xote, do xaxado, do baião, do caboclinho, do mangue beat”, analisa Ivanildo.

A irreverência nordestina

O missionário também indica que “o nordestino tem a arte de se reinventar”. Essa característica se mostrou presente no surgimento do projeto Doidin de Deus – que levou Ivanildo a visitar todos os estados brasileiros e o Distrito Federal, e até mesmo o exterior – e na nova área de atuação na qual ele iniciou em 2010: o standup comedy.

Em suas apresentações, Ivanildo aborda diversos temas, na maioria ligados a sua experiência de vida e à cultura nordestina. Com humor, ele também apresenta temas ligados à realidade de fé católica, e promove a evangelização para o seu público. E, a partir do standup, surgiu uma nova missão, dessa vez na rádio.

Atualmente, Ivanildo é o diretor da Rádio Olinda FM 105,3, cuja sede fica na cidade pernambucana, e apresentador de um programa semanal chamado “Viver de Rir” (porque morrer ninguém quer). A atração é transmitida por 16 emissoras de rádio de oito estados brasileiros e do Distrito Federal, incluindo as Rádios Canção Nova de Gravatá (FM 100,3) e Brasília (FM 89,1).

O programa “Viver de Rir” é carregado da essência nordestina que Ivanildo carrega. Entre suas características está a irreverência própria de um povo que está acostumado a enfrentar dificuldades. “O nordestino sabe fazer do limão uma limonada”, indica o apresentador.

Nordeste na internet

Pedro Henrique Torquato / Foto: Arquivo pessoal

Essa visão para identificar oportunidades que Ivanildo cita é verificada também na inciativa de um jovem que busca evangelizar em outro meio: as redes sociais. Pedro Henrique Torquato, de Maceió (AL), é o criador e responsável pelo perfil Oxente Católico no Instagram, e lá anuncia a Palavra de Deus de um jeito ao mesmo tempo diferente e típico.

O jovem conta que, assim como as pessoas de sua geração, ele sempre utilizou bastante as redes sociais, e identificou nelas uma forma de evangelizar. Contudo, ele se deparou com um problema: a insegurança. “Não me sentia seguro devido a dificuldade que possuía com a língua portuguesa. Foi então que surgiu a ideia de produzir conteúdos com características e gírias nordestinas, pois isso já fazia parte do meu dia a dia”, relata Pedro.

O projeto iniciado em 2017, que transforma passagens bíblicas por meio de expressões típicas da região, logo encontrou uma boa aceitação não só dos nordestinos, mas também de gente de outras regiões, comenta o jovem. Até 2022, o conteúdo era publicado apenas no Instagram, mas este ano, Pedro decidiu expandi-lo para outras plataformas, como o TikTok e o YouTube, investindo em um traço típico da cultura do Nordeste: o cordel.

Sentimento expresso em verso

“Tenho muito interesse na cultura nordestina”, afirma Pedro, “e aliado a isso, percebi quão grande é a fé católica nessa região. Com isso, decidi usar esses dois pontos para criar conteúdos de evangelização”, explica ao justificar a escolha pelo cordel. Seu primeiro trabalho neste estilo foi sobre a história de Dom Henrique Soares da Costa, falecido em 2020. 

Esse interesse pela própria cultura também virou verso, para tentar expressar o sentimento de ser católico e nordestino:

Pegado na mão de mãe
Vou a missa desde de menino
Conhecendo as histórias
Ali se formava meu destino
Deus me fez católico
Achou pouco e ainda me fez nordestino.

“Tudo acaba em forró”

Banda Filhos de Lourdes / Foto: Arquivo pessoal

Para além do Nordeste, a cultura nordestina também se expressa em outros lugares, carregada por seu povo e seus descendentes que já não moram nos nove estados que formam a região. É o caso da banda Filhos de Lourdes, que surgiu em Novo Gama (GO) e usa o forró como principal ferramenta de evangelização.

O músico Bruno Ronaldo é um dos três membros originais do grupo que hoje conta com cinco integrantes. Ele narra que a ideia de criar uma banda de forró católica surgiu durante alguns festejos na Capela de Nossa Senhora de Lourdes, na cidade goiana, quando percebeu que as pessoas não costumavam permanecer no evento organizado pela comunidade local.

“A gente já participava, já tocava na Missa, animando as celebrações dominicais, e a gente resolveu dar uma força para o novenário, para que as pessoas pudessem ficar um pouco mais de tempo e socializar”, partilha Bruno. Assim, em 11 de fevereiro de 2013, dia de Nossa Senhora de Lourdes, surgiu a banda Filhos de Lourdes, que hoje tem como integrantes João Paulo (voz e triângulo), Marcelo Salmão (backing vocal e sanfona), Raynan Santos (backing vocal e efeitos), Wendel Gomes (zabumba) e o próprio Bruno (voz e simpatia).

Precisando de músicas animadas e atrativas e levando em conta suas raízes, não houve dúvidas quanto ao que fazer. “Como todo mundo é filho de nordestino, a gente já tinha essa veia, a gente resolveu, de alguma forma, pegar as músicas da Igreja e tentar transformá-las, repaginá-las nesse ritmo tão bacana que é o forró”, explica Bruno.

“Encontramos nossa forma de expressar nosso amor por Deus”

O músico conta ainda que tudo começou como uma “brincadeira”, mas as pessoas começaram a se identificar e o projeto se expandiu. “A gente queria juntar a mensagem de evangelização ao tema da cultura nordestina, de forma leve e descontraída”, afirma Bruno.

Anos depois, o grupo começou a compor suas próprias canções. “Deus suscitou em nossos corações a vontade de compor canções próprias, e a partir de 2016, a gente começou a compor várias músicas, muitas em homenagem à Nossa Senhora”. A primeira delas foi feita por Wendel e se chama “Xote da Família”.

As letras são carregadas de expressões do Nordeste, e as apresentações contam com outros elementos e características típicos dos nordestinos, com a recitação de cordéis, a alegria e o bom humor. “Essa nossa forma de evangelização em que a gente brinca e se diverte muito em cima do palco ajuda as pessoas a entender que é possível sim a gente se divertir dentro da nossa Igreja e se alegrar com os valores cristãos”, sinaliza Bruno.

O músico aponta ainda para a valorização da cultura nordestina que é realizada por meio desse projeto de evangelização. “Nós nos sentimos extremamente felizes em sermos divulgadores e multiplicadores da cultura nordestina. É uma grande honra, uma missão muito difícil, porque procuramos levar de forma correta a cultura nordestina e a evangelização através dessa cultura”, expressa Bruno, que conclui: “nós encontramos no forró a nossa forma de expressar o nosso amor por Deus”.

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