“Devemos redescobrir a fé em um além da vida”, disse o frei capuchinho ao Papa e os membros da Cúria Romana
Da redação, com Vatican News
A segunda pregação do Advento feita pelo pregador da Casa Pontifícia, cardeal Raniero Cantalamessa, ao Papa e à Cúria Romana, realizou-se na manhã desta sexta-feira, 11, na Sala Paulo VI, sobre o tema “Nós anunciamos a vida eterna”. O frade iniciou sua reflexão recordando as palavras de Isaías que estavam presentes na primeira leitura do Segundo Domingo do Advento: “Consolai, consolai o meu povo, diz o vosso Deus.”
A frase, explicou o cardeal, é um convite, na verdade um comando, perpetuamente atual, dirigido aos pastores e pregadores da Igreja. “Queremos hoje receber este convite e meditar sobre o anúncio mais consolador que a fé em Cristo nos oferece”, disse. De acordo com Cantalamessa, a segunda ‘verdade eterna’ que a situação da pandemia trouxe à tona é a precariedade e a transitoriedade de todas as coisas.
“Tudo passa: riqueza, saúde, beleza, força física. É algo que todos temos diante dos olhos, todo o tempo. Basta comparar as fotos de hoje – nossas ou de personagens famosos – com as de vinte ou trinta anos atrás, para nos darmos conta. Atordoados pelo ritmo da vida, não fazemos caso de tudo isso, não nos detemos para medir as devidas consequências”.
O frei capuchinho afirmou que, de repente, tudo o que todos davam por pressuposto se revelou frágil, como uma fina camada de gelo que rompe-se sob os pés. “A tempestade – dizia o Santo Padre naquela memorável bênção ‘urbi et orbi’ de 27 de março passado – desmascara a nossa vulnerabilidade e deixa a descoberto as falsas e supérfluas seguranças com que construímos os nossos programas, os nossos projetos, os nossos hábitos e prioridades”.
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A crise planetária que está em curso pode ser a ocasião para redescobrir, com certo alívio, não obstante tudo, um ponto firme, um terreno sólido, melhor, uma rocha, sobre a qual fundar a existência terrena, sublinha o cardeal. A palavra Páscoa – Pesach, em hebraico – significa passagem e, em latim, traduz-se transitus. Essa palavra evoca, para si, de acordo com Cantalamessa, algo de “passageiro” e de “transitório”, portanto, algo tendencialmente negativo.
“Santo Agostinho percebeu esta dificuldade e a resolveu de modo iluminante. Fazer a Páscoa, explicou, significa, sim, passar, mas “passar ao que não passa”; significa “passar do mundo, para não passar com o mundo”. Passar com o coração, antes de passar com o corpo!”, disse ainda.
O que “nunca passa” é, por definição, a eternidade, frisou o frade. “Devemos redescobrir a fé em um além da vida. Esta é uma das grandes contribuições que as religiões podem dar, juntamente com o esforço para criar um mundo melhor e mais fraterno. Ela nos faz compreender que todos somos companheiros de viagem, em caminho rumo a uma pátria comum onde não existem distinções de raça ou nação. Não temos em comum só o caminho, mas também a meta. Com conceitos e em contextos bastante diversos, esta é uma verdade comum a todas as grandes religiões, ao menos àquelas que creem em um Deus pessoal”.
Para os cristãos, a fé na vida eterna não se baseia em discutíveis argumentos filosóficos acerca da imortalidade da alma, mas sim em um fato preciso, a ressurreição de Cristo, e sobre a sua promessa: “Na casa de meu Pai há muitas moradas. (…) vou preparar-vos um lugar. E depois que eu tiver ido preparar-vos um lugar, voltarei e vos levarei comigo, a fim de que, onde eu estiver, estejais vós também”, comentou o cardeal.
Também para os cristãos, reforçou Cantalamessa, a vida eterna não é uma categoria abstrata, é mais uma pessoa. Significa estar com Jesus, “formar corpo” com ele, compartilhar do seu estado de Ressuscitado na plenitude e na alegria da vida trinitária.
“A nossa meditação de hoje sobre a eternidade não nos exime, certamente, de experimentar com todos os demais habitantes da terra a dureza da prova que estamos vivendo; deveria, porém, ao menos nos ajudar, os fiéis, a não sermos sobrecarregados por ela e a sermos capazes de infundir coragem e esperança também em quem não tem o conforto da fé”, concluiu.
Traduzido do italiano por P. Ricardo Farias