Presidente do Celam e da CNBB comenta esforços do Papa para promover a paz no mundo, além de indicar aos católicos uma importante via de colaboração por esta causa: a oração
Julia Beck
Da redação
São incontáveis os apelos de paz feitos pelo Papa Francisco ao longo destes 10 anos de pontificado. Conflitos e guerras são constantemente recordados pelo Santo Padre que não se cansa de, além de apelar pelo fim dos conflitos, encorajar os fiéis católicos a rezarem nesta intenção, e lideranças internacionais a intermediarem buscando a paz.
A postura do Pontífice é “coerente com a mensagem do Evangelho: anunciar e promover a paz!”, afirma o presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho (Celam) e da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Jaime Spengler.
O bispo lembra que a Igreja anuncia o Evangelho do Crucificado-ressuscitado, e que a paz é expressão do empenho na obra do cuidado pela vida: “Eu vim para que todos tenham vida, e vida em abundância” (Jo 10,10).
“O empenho pessoal na obra do cuidado se expressa de modos variados: o cuidado como promoção da dignidade e dos direitos da pessoa; o cuidado como empenho pela promoção do bem comum; o cuidado como exercício da solidariedade; o cuidado como salvaguarda da criação”, complementou.
A paz de Deus e a paz do mundo
Uma das frases marcantes de Jesus a seus discípulos é: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou, mas não a dou como o mundo. Não se perturbe nem se intimide o vosso coração” (João 14,27). A partir dela é possível perceber que há diferença no conceito de paz deixado por Jesus para o de paz adotado pelo mundo.
Dom Jaime explica que a paz do mundo é baseada numa relação de forças econômicas e militares. “A paz para o mundo é o intervalo entre duas guerras. Dura até quando o vencedor pode se impor e o vencido não pode se rebelar. É a paz imposta pelo mais forte! Não é esta a paz que Jesus nos deixa”, comenta.
A paz de Jesus, prosseguiu o presidente da CNBB, nasce de um amor mais forte do que a morte: é a paz do Crucificado ressuscitado, “que nos torna concidadãos dos santos e familiares de Deus” (cf. Ef 2,14-19).
Do lado da paz
Recentemente, em um de seus apelos, ao citar a guerra entre Israel e Hamas, o Papa Francisco pediu aos cristãos que ficassem do lado da paz. Dom Jaime recorda o trecho bíblico que afirma: “Cristo é nossa paz” (Ef 2,14). Diante deste fato, ele reforça que todo batizado é vocacionado a ser, no mundo, instrumento de paz.
“A guerra é também expressão de injustiças, desrespeito humano e falta de disposição para o diálogo honesto e franco. Quando se perdem de vista as grandes referências das buscas humanas e cristãs, abrem-se espaços para possíveis contradições e conflitos. É o que está na base de distintos conflitos armados mundo afora”, frisa.
“Com a guerra todos perdem! Com a guerra não há vencedores! Urge parar as armas e corajosamente criar condições para que povos irmãos possam viver na paz e com justiça” – Dom Jaime Spengler
O conflito entre Israel e Hamas deixa como resultado morte, destruição e crise humanitária, ressalta o presidente do Celam. “Com a guerra todos perdem! Com a guerra não há vencedores! Urge parar as armas e corajosamente criar condições para que povos irmãos possam viver na paz e com justiça. Para isso são necessárias também decisões políticas. Neste âmbito, especialmente os dirigentes das nações são chamados a assumir responsavelmente a tarefa que lhes foi confiada: promover e cuidar daquilo que denominamos o bem comum”.
Como trabalhar pela paz?
Os cristãos e católicos são convidados à oração, destaca Dom Jaime. Segundo ele, todos podem e devem promover, no seio de suas comunidades, orações pela paz. Cada pessoa também é instigada a rezar pelos governantes das nações, para que se deixem orientar pelos princípios norteadores de uma paz sustentável e justa.
“A oração pessoal e comunitária é cumprimento da tarefa dada por Jesus a seus discípulos de todos os tempos: ‘pedi e vos será dado’ (Mt 7,7-8). São Paulo exorta seus ouvintes a cultivarem constantemente a oração: ‘Rezai sem cessar’ (1Ts 5,17)”, argumenta.
Por fim, o presidente da CNBB salienta que a paz é dom do Senhor e também é expressão do íntimo desejo de todos de cooperar para deixar o mundo um pouco melhor para as futuras gerações.