Relatório aborda reflexões dos padres sinodais sobre temáticas como situação dos divorciados, homossexuais e contracepção
Jéssica Marçal
Da Redação
A segunda semana dos trabalhos do Sínodo dos Bispos sobre família começou com a apresentação de um relatório, o Relatio post disceptationem, sobre as reflexões feitas até agora. Apresentado pelo relator-geral do Sínodo, Cardeal Péter Erdő, nesta segunda-feira, 13, o documento pede, em linhas gerais, paciência e delicadeza para com as famílias feridas.
As reflexões do documento são fruto do diálogo sinodal e indicam perspectivas que devem ser amadurecidas nas Igrejas locais e na Assembleia de 2015. “Não se trata de decisões tomadas nem de perspectivas fáceis. Todavia, o caminho colegial dos bispos e o envolvimento de todo o povo de Deus sob a ação do Espírito Santo poderá guiar-nos para encontrar caminhos de verdade e de misericórdia para todos”.
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O relatório apresenta algumas perspectivas pastorais para lidar com as diversas situações familiares atuais. Quanto ao matrimônio, o documento reitera a necessidade de focalizar seu sentido sacramental, sem considerá-lo somente como uma “tradição cultural ou uma exigência social”. Também se defende a preparação dos noivos para o casamento e o acompanhamento pastoral dos primeiros anos de vida matrimonial.
Os padres sinodais alertam sobre a necessidade de caminhos pastorais novos, que partam da efetiva realidade das fragilidades familiares. Destaca-se a necessidade de cuidar das famílias feridas por situações diversas, seja por fatores pessoais ou culturais e econômicos. Nesses casos, não se trata de buscar soluções únicas, pautadas no “tudo ou nada”, mas o diálogo iniciado no Sínodo deve continuar nas Igrejas locais.
Divórcio, nulidade, casais recasados
Segundo o documento, muitos padres sinodais destacaram a necessidade de agilizar os procedimentos para o reconhecimento dos casos de nulidade. Entre as propostas apresentadas, foram indicadas a superação da necessidade da dupla sentença conforme, a possibilidade de determinar um caminho administrativo sob responsabilidade do bispo diocesano e um processo sumário a ser realizado em casos de nulidade notória.
Quanto à possibilidade de conceder os sacramentos da Penitência e da Eucaristia, alguns argumentaram a favor da disciplina atual em força do seu fundamento teológico. Outros se expressaram a favor de uma maior abertura em condições bem precisas. Para alguns, o eventual acesso aos sacramentos ocorreria se fosse precedido de um caminho penitencial, sob responsabilidade do bispo diocesano, e com um empenho claro em favor dos filhos. “Seria uma possibilidade não generalizada, fruto de um discernimento caso a caso”.
Homossexuais
O relatório também aborda o acolhimento às pessoas homossexuais, destacando que elas têm dons e qualidades a oferecerem à comunidade cristã. Mas é reafirmada a posição da Igreja: não equiparar as uniões entre pessoas do mesmo sexo ao matrimônio entre um homem e uma mulher.
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Transmissão da vida
Sobre a transmissão da vida, o documento cita a mentalidade difundida de reduzir a geração da vida a uma variável da projeção individual ou do casal. Os padres sinodais defenderam o adequado ensino sobre os métodos naturais, convidando a redescobrir a mensagem de Paulo VI na encíclica Humanae Vitae, sobre a regulação da natalidade.
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Evangelização
Defende-se o anúncio do Evangelho da família como uma urgência para a nova evangelização, dizendo que a Igreja deve fazer isso com ternura de mãe e clareza de mestre. Destaca-se que a evangelização é responsabilidade de todo o povo de Deus, cada um com seu próprio ministério e carisma.
O relatório defende ainda a conversão de toda a prática pastoral em relação às famílias. Para isso, os bispos insistiram na renovação da formação dos presbíteros e outros agentes pastorais, mediante um maior envolvimento das próprias famílias nesses trabalhos.
Realidade das famílias
Além das perspectivas pastorais, o relatório contém outras duas partes, que falam sobre a realidade das famílias e o Evangelho da família. São abordadas questões sobre o matrimônio, filhos que crescem somente com um dos pais (o pai ou a mãe), o crescente número de divórcios, a violência contra a mulher, o contexto de guerra e violência, em que se vê uma situação familiar deteriorada, e o fenômeno das migrações.
“Neste contexto, a Igreja necessita dizer uma palavra de esperança e de significado (…) É preciso acolher as pessoas com a sua existência concreta, saber apoiá-las na busca, encorajar o desejo de Deus e a vontade de sentir-se plenamente parte da Igreja, mesmo quem experimentou o fracasso ou se encontra nas situações mais variadas. Isto exige que a doutrina da fé, de fazer conhecer sempre mais seus conteúdos fundamentais, seja proposta junto à misericórdia”.
Os trabalhos do Sínodo seguem com os círculos menores – pequenos grupos de discussão mais aprofundada – a partir do documento apresentado hoje. As reflexões seguem até domingo, 19. O Sínodo da Família começou no dia 5 de outubro e tem como tema “Os desafios pastorais da família no contexto da evangelização”.