No último dia de sua viagem apostólica, o Papa presidiu uma Missa em Beirute e encorajou os fiéis a cultivarem “as pequenas esperanças com gratidão a Deus” e despertar o sonho de um Líbano unido
Da redação, com Vatican News

Foto: REUTERS/Mohamed Azakir
O Papa Leão XIV presidiu a Missa na manhã desta terça-feira, 2, último dia de sua Viagem Apostólica ao Líbano, no Beirut Waterfront, para cerca de 150 mil fiéis. O local fica na área central e costeira da capital libanesa e perto do Porto de Beirute, onde antes da celebração, o Pontífice se recolheu em oração e demonstrou solidariedade às famílias das mais de 200 pessoas que morreram vítimas de uma dupla explosão em 2020.
No início da Missa, o Patriarca Youssef Absi da Igreja Greco-Católica Melquita fez uma saudação compartilhando a paz lançada ao mundo desde o dia da sua eleição como Sucessor de Pedro.
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Uma multidão, disse o Patriarca referindo-se aos fiéis presentes para a Celebração Eucarística, formada por “filhos e filhas das Igrejas orientais, tão queridas ao seu coração”, que devem ser preservadas e apoiadas, sobretudo “neste Líbano e neste Oriente ansiosos e desorientados. O senhor nos convidou a rezar juntos e a nos dirigir palavras de firmeza na fé, na esperança e na caridade. A sua presença neste momento crítico traz consigo uma mensagem eloquente de esperança”, com “o desejo comum de sermos um, para que o mundo creia”.
A gratidão a Deus pelas pequenas esperanças
Na homilia, o Papa expressou sua gratidão ao Senhor por “tantos dons da sua bondade” e “por tudo o que nos possibilitou viver juntos” nestes três dias intensos no Líbano. Leão XIV comentou o Evangelho do dia, no qual Jesus faz uma oração de louvor ao Pai (cf. Lc. 10, 21), e observou: “a dimensão do louvor nem sempre encontra lugar dentro de nós”, porque estamos sobrecarregado pelos problemas da vida que paralisam e nos conduzem à lamentação ao invés da gratidão:
“É precisamente a vocês, querido povo libanês, que dirijo o convite a cultivar sempre atitudes de louvor e gratidão. A vocês que são destinatários de uma rara beleza com a qual o Senhor enriqueceu a sua terra e que, simultaneamente, são espectadores e vítimas do modo como o mal, de múltiplas formas, pode ofuscar esta magnificência.”
O Papa afirmou que também ele contemplou a beleza do Líbano, inclusive cantada pelas Escrituras, porém é uma beleza “obscurecida pela pobreza e pelo sofrimento, pelas feridas que marcaram a história de vocês”, além de “um contexto político frágil e muitas vezes instável, pela dramática crise econômica que os oprime, pela violência e pelos conflitos que despertaram antigos medos”.
Diante desta realidade, a gratidão facilmente dá lugar ao desencanto, mas a Palavra do Senhor é um convite para agir diferente, encorajou o Papa, como fez Jesus ao agradecer ao Pai não “por ações extraordinárias, mas por Ele revelar a sua grandeza justamente aos pequenos e aos humildes, àqueles que não chamam a atenção, que parecem contar pouco ou nada e que não têm voz”.
“Uma pequena esperança – um rebento, como falou o profeta Isaías – que deve ser reconhecida nos traços de Deus de uma história aparentemente perdida e dolorosa, um renascimento que acaba surgindo quando tudo parece morrer: é também uma indicação para nós”, afirmou Leão XIV, para que tenhamos olhos capazes de reconhecer as “pequenas luzes que brilham na noite”, como aquelas que o Pontífice pôde encontrar no Líbano:
“Penso na fé simples e genuína de vocês, enraizada nas suas famílias e alimentada pelas escolas cristãs; penso no trabalho constante das paróquias, das congregações e dos movimentos para irem ao encontro das exigências e das necessidades das pessoas; penso em tantos sacerdotes e religiosos que se doam na sua missão, no meio de múltiplas dificuldades; penso nos leigos empenhados no campo da caridade e na promoção do Evangelho na sociedade. Por estas luzes que se esforçam por iluminar a escuridão da noite, por estes pequenos e invisíveis rebentos que, no entanto, abrem a esperança no futuro, hoje devemos dizer como Jesus: “nós vos bendizemos, ó Pai!”. Nós agradecemos ao Senhor porque está conosco e não nos deixa vacilar.”
Líbano, profecia de paz
Ao mesmo tempo, comentou o Papa, “essa gratidão não deve permanecer uma consolação intimista e ilusória”, mas levar todos à transformação do coração e à conversão da vida, cultivando as pequenas esperanças, “estes rebentos, sem desanimar, sem ceder à lógica da violência e à idolatria do dinheiro e sem nos resignarmos perante o mal que alastra”:
“Cada um deve fazer a sua parte e todos devemos unir esforços para que esta terra possa voltar ao seu esplendor. E temos apenas uma maneira de o fazer: desarmemos os nossos corações, derrubemos as armaduras dos nossos fechamentos étnicos e políticos, abramos as nossas confissões religiosas ao encontro recíproco, despertemos no nosso íntimo o sonho de um Líbano unido, onde triunfem a paz e a justiça, onde todos possam reconhecer-se irmãos e irmãs e onde, finalmente, se possa realizar o que nos descreve o profeta Isaías: «o lobo habitará com o cordeiro, e o leopardo deitar-se-á ao lado do cabrito; o novilho e o leão comerão juntos» (Is 11, 6).”
“Este é o sonho que foi confiado a vocês, é o que o Deus da paz coloca nas suas mãos: Líbano, levanta-te! Seja casa de justiça e de fraternidade! Seja profecia de paz para todo o Levante!”
Uma presença paterna que ilumina
Ao final da celebração eucarística, o Patriarca de Antioquia dos Maronitas, o cardeal Béchara Boutros Raï, falou em nome da Assembleia dos Patriarcas e Bispos Católicos no Líbano e das famílias religiosas do país, agradecendo pela “presença paterna”. A vinda de Leão XIV, disse ele, “ilumina as nossas mentes e reaviva a nossa determinação em trabalhar pela paz, pela fraternidade e pelo diálogo entre todos os filhos e filhas da nossa amada terra”.
A mensagem do Papa de fraternidade e de comunhão entre cristãos e muçulmanos, alimentada pelo Espírito Santo, disse o cardeal, “ressoou em nossas almas como um apelo para continuarmos sendo testemunhas fiéis de Cristo, portadores de luz, de justiça, de esperança e de paz. O senhor nos lembra com veemência que a nossa missão, nestes tempos difíceis, é construir pontes, encorajar a unidade e servir ao bem comum da nossa nação e da região”.




