Padre Michel Abboud falou à mídia vaticana sobre a viagem apostólica de Leão XIV ao Líbano, com a perspectiva de esperança e solidariedade desta visita
Da Redação, com Vatican News

Vista aérea do Porto de Beirute, danificado pela explosão de 2020. Registro de 4 de novembro de 2025 / Foto: REUTERS/Emilie Madi
Com um cenário de extrema fragilidade enfrentado há anos, o Líbano aguarda a visita do Papa Leão XIV a partir do próximo dia 30 de novembro. Será a segunda parte de uma viagem que começa pela Turquia em 27 de novembro. A viagem assume traços simbólicos de carinho de um pai com seu filho ferido. Quem ilustrou o cenário em uma conversa com a mídia vaticana foi o presidente da Caritas Líbano, padre Michel Abboud.
Em 2011, o Líbano recebeu cerca de 1,5 milhões de refugiados sírios, que fugiam do cenário de guerra em seu país. A chegada desencadeou um efeito dominó nas já frágeis finanças do Líbano. Depois, a instabilidade política. Em agosto de 2020, a explosão no Porto de Beirute. Soma-se a isso a pandemia de covid-19. E, mais recentemente, o reacender das tensões com Israel.
Os libaneses sabem bem que a visita do Papa é uma visita de paternidade, explica padre Michel, uma visita que encoraja os libaneses a se considerarem uma parte da Igreja. “É uma visita de solidariedade: graças a ela, o povo saberá que, apesar de todas as situações difíceis que vivenciou, não deve se sentir abandonado. A Igreja e o mundo estão com o Líbano. Isso é muito importante para nós: o fato de o Papa, o líder da Igreja Católica no mundo, vir aqui, à Terra dos Cedros e dos Mártires.”, afirmou.
Desafios e esperanças
Perguntado sobre a questão mais urgente a se enfrentar no Líbano, o sacerdote destacou o sonho de paz. Segundo ele, os libaneses vivem uma angústia permanente, vivem como se fosse em uma guerra e esperam quando finalmente haverá paz.
“Não temos um futuro seguro por ora. Vivemos na angústia, mas também temos a esperança de que algo acontecerá. Quando o Papa vier, os libaneses perceberão que ele traz um sinal de paz. Há 4 milhões de libaneses no Líbano e mais de 12 milhões fora do país. Eles estariam dispostos a retornar e viver aqui se uma situação de paz os permitisse fazê-lo e também exercer suas atividades profissionais aqui.”

Agentes da Caritas distribuem alimentos / Foto: Caritas Líbano
Nos últimos anos, a Caritas Líbano aumentou a oferta de seus serviços, com doação de alimentos e remédios aos necessitados, também com assistência hospitalar, graças à generosidade de tantos benfeitores. Outra realidade marcante é a presença de migrantes, os sírios, que padre Michel define como “imagens de Deus”. “Sentimos uma obrigação espiritual de ajudá-los”, pontua o sacerdote.
Nesse sentido, o sacerdote comentou as expectativas da Caritas local para esta visita. Ele contou que a instituição está trabalhando pelo bem de todo o povo libanês, sem discriminações. A crise econômica fez com que muitas pessoas que antes eram benfeitoras da Caritas passassem a ser necessitadas dela. Esse “grito” do povo libanês já foi levado ao Papa Francisco, que a Caritas Líbano teve a oportunidade de encontrar há algum tempo. A esperança é que a visita de Leão XIV dará voz às pessoas que estão sofrendo e essa voz será ouvida para que os povos possam ajudar.
Os efeitos da explosão no Porto de Beirute
Padre Michel também comentou à mídia vaticana o que ainda representa para os libaneses – passados cinco anos – a trágica explosão no Porto de Beirute. Ele informou que a Caritas ajudou as pessoas atingidas com a reconstrução, mas também em nível psicológico. Muitas pessoas que perderam as casas ainda têm sede de verdade.
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“A visita do Papa Leão ajudará as pessoas a não se sentirem abandonadas. As consequências da explosão ainda pesam sobre suas vidas. (…) Será um consolo para as famílias que perderam seus entes queridos. Solidariedade para todos os feridos que perderam suas casas. Para nós, da Caritas, será um incentivo para continuarmos nossa missão.”
Líbano, “mensagem de paz”
Os Papas João Paulo II e Francisco disseram que o Líbano é mais que um país, é uma “mensagem, um projeto de paz”. Segundo padre Michel, esta é uma ideia válida ainda hoje. São 18 comunidades religiosas, principalmente muçulmanos e cristãos, que vivem de acordo com suas crenças junto com aqueles com quem vivem. “Portanto, se cada comunidade vive a sua religiosidade e a sua religião, viverão em harmonia. O Líbano permanece, portanto, uma mensagem, um testemunho”.




